Opinião
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18 de abril de 2018
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17:32

Sionismo socialista para leigos, uma história do movimento socialista judaico (IIª parte) (por Mauro Nadvorny)

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Sionismo socialista para leigos, uma história do movimento socialista judaico (IIª parte) (por Mauro Nadvorny)
Sionismo socialista para leigos, uma história do movimento socialista judaico (IIª parte) (por Mauro Nadvorny)
Moses Hess (Reprodução/Youtube)

 Mauro Nadvorny (*)

A história do Sionismo Socialista não estaria completa sem mencionar a figura de Moses Hess , um filósofo franco-judeu e um dos fundadores do Sionismo Trabalhista. Nascido em 1812 e morto em 1875, influenciou dois dos maiores personagens da história do comunismo e com eles conviveu, Marx e Friedrich Engels com quem acabou entrando em conflito.

O pai de Hess era um rabino, mas nunca exerceu a profissão. Recebeu uma educação religiosa de seu avô e foi estudar filosofia na Universidade de Bonn, não concluindo o curso.

Ele se casou com uma pobre costureira católica, Sibylle Pesch, “para corrigir a injustiça perpetrada pela sociedade”. Apesar de permanecerem felizes no casamento até a morte de Hess , ela teria tido um suposto caso com Friedrich Engels quando ele a contrabandeou da Bélgica para a França para se reunir com o marido. O incidente pode ter sido uma das razões para Hess se separar do movimento comunista .

Hess foi um dos primeiros proponentes do socialismo e precursor do que mais tarde seria chamado sionismo. Como correspondente do Rheinische Zeitung, um jornal radical fundado por empresários liberais renanos (Renania), morou em Paris. Como amigo e colaborador de Karl Marx (que também trabalhou no Rheinische Zeitung) e Friedrich Engels. Foi Hess quem introduziu Engels, no comunismo no início da década de 1840.

Mas Marx e Engels se tornariam bem conhecidos por sua abordagem inconstante e combativa de colegas socialistas que demonstraram insuficiente concordância com sua própria forma de socialismo. No final da década de 1840, eles haviam rompido com Hess. Eles zombaram dele, primeiro pelas costas e depois abertamente. O trabalho de Hess também foi criticado em parte pela The German Ideology por Marx e Engels.

Este rompimento teve como origem o fato de Hess relutar em basear toda a história nas causas econômicas e na luta de classes (como fizeram Marx e Engels), e ele passar a ver a luta das raças, ou nacionalidades, como o fator primordial da história. Hess seguiu contemporizando com Marx em várias questões.

Entre 1861 a 1863, ele viveu na Alemanha, onde se familiarizou com a crescente onda de antissemitismo alemão. Foi então que ele voltou ao seu nome judaico Moses (Moisés), depois de aparentemente ter adotado o nome de Moritz Hess em protesto contra a assimilação judaica. Ele publicou Roma e Jerusalém em 1862, onde interpreta a história como um círculo de raça e lutas nacionais. Ele contemplou a ascensão do nacionalismo italiano e a reação alemã a ele, e a partir disso chegou à ideia do renascimento nacional judaico e ao seu entendimento precavido de que os alemães não seriam tolerantes com as aspirações nacionais de outros e seriam particularmente intolerantes com os judeus. Seu livro pede o estabelecimento de uma comunidade judaica socialista na Palestina, alinhada com os movimentos nacionais emergentes na Europa como única maneira de responder ao antissemitismo e afirmar a identidade judaica no mundo moderno.

Apesar de previsão de Hess, a imensa maioria dos judeus alemães estava empenhada na assimilação cultural e não atendeu aos seus avisos. Seu trabalho não estimulou atividade política ou discussão.

Quando Theodor Herzl leu Roma e Jerusalém pela primeira vez, escreveu que “desde Espinosa que os judeus não tinham um pensador maior do que aquele esquecido Moses Hess”. Ele disse que talvez não tivesse escrito Der Judenstaat (O Estado Judeu) se tivesse conhecido Roma e Jerusalém de antemão.

Causa espécie o fato da esquerda desconhecer Hess. Até mesmo o recente filme “O Jovem Marx” não o menciona. Depois de ter escrito sobre o inicio do Sionismo Socialista e alguns de seus precursores, como Ber Borochov, Nachman Sirkyn e Moses Hess, é preciso contar um pouco da vida e da obra de Berl Katznelson, um dos fundadores intelectuais do Sionismo Socialista, que instrumentou o estabelecimento do moderno Estado de Israel.
Nasceu em 25 de janeiro de 1887 em Babruysk, Império Russo (atualmente Belarussia) e faleceu em 12 de agosto de 1944 em Israel vítima de aneurisma. Filho de um membro de Hovevei Sion (Amantes de Sion), ele sonhava em se estabelecer na pátria judaica desde cedo. Na Rússia, ele era bibliotecário em uma biblioteca hebraico-iídiche e ensinava literatura hebraica e história judaica. Acabou fazendo aliá (termo hebraico que significa subida) para a Palestina Otomana em 1909, onde trabalhou na agricultura e assumiu um papel ativo na organização de federações operárias baseadas na idéia de “trabalho comum, vida e aspirações”.

Juntamente com seu primo, Yitzhak Tabenkin, Katznelson foi um dos fundadores do sindicato dos trabalhadores israelenses, a Histadrut. Nesta função, juntamente com Meir Rothberg do Kibutz Kinneret, fundou em 1916 a cooperativa de consumidores conhecida como Hamashbir (que anos mais tarde viria a se tornar uma rede de lojas do movimento kibutziano) com o objetivo de suprir as comunidades judaicas da Palestina com alimentos a preços acessíveis durante os terríveis anos de escassez no mercado durante a Primeira Guerra Mundial. Ele ajudou a estabelecer o Serviço de Saúde Klalit que provia as necessidades médicas para a população (algo similar ao INSS no Brasil) que se tornou um importante dispositivo na rede de medicina socializada de Israel. Em 1925, juntamente com Moshe Beilinson, Katznelson estabeleceu o jornal diário Davar, e tornou-se seu primeiro editor, cargo que ocupou até a sua morte, além de se tornar o fundador e primeiro editor-chefe da editora Am Oved.
Katznelson era bem conhecido por seu desejo de coexistência pacífica entre árabes e judeus em Israel. Ele era um opositor declarado do plano de partição da Comissão Peel para a Palestina. Disse ele:

“Eu não desejo ver a realização do sionismo na forma do novo estado polonês com os árabes na posição dos judeus e dos judeus na posição dos poloneses, o povo governante. Para mim, isso seria a completa perversão do ideal sionista … Nossa geração tem sido testemunha do fato de que nações aspirantes à liberdade que se livraram do jugo da subjugação apressaram-se em colocar este jugo sobre os ombros dos outros. Ao longo das gerações em que fomos perseguidos, exilados e massacrados, aprendemos não apenas a dor do exílio e do domínio pela força, mas também o desprezo pela tirania. Isso era apenas um caso de uvas azedas? Estamos agora alimentando o sonho de escravos que desejam reinar?”

Katznelson também falou de auto-ódio judaico, dizendo:

“Existe outro povo na Terra tão emocionalmente distorcido que eles consideram tudo o que sua nação faz desprezível e odioso, enquanto todos os assassinatos, estupros, roubos cometidos por seus inimigos enchem seus corações com admiração e reverência?”

Muito do que foi realizado por Katznelson moldou a sociedade israelense até 1977 quando a direita assumiu o poder e ali permanece até os dias de hoje.

Quando a esquerda sionista fala de Israel, fala com conhecimento e direito a manifestação. Como aqueles no passado, defendemos a coexistência com os palestinos e lutamos pelo estabelecimento de seu estado nas linhas de fronteira de 1967.

Somo favoráveis a um acordo de paz que traga justiça e convivência pacífica entre nossos povos e apoiamos os companheiros palestinos que têm a mesma visão.

A esquerda sionista desafia a esquerda tradicional nos países em que vivemos a se libertar do ranço antissionista e nos ajudar a combater o antissemitismo em todo espectro político, compreendendo finalmente que somos uma força política considerável.

Nossa luta é travada no dia a dia contra todos aqueles que desrespeitam a existência de Israel e confundem, seja por ignorância, seja por convicção a política de estado atual com a existência política do estado que está fazendo 70 anos.

Conclamamos todas as forças de esquerda a se unirem sem discriminação na luta contra o golpe, pelo exercício pleno da democracia e o fim da politização no judiciário que atropela a constituição e exerce um quarto poder.

Nós estamos na luta independentemente dos grupos sectários e radicais que tanto mal causam a esquerda.

Ao falar dos precursores do movimento sionista socialista tive em mente esclarecer os fatos históricos e demonstrar de uma vez por todas que nem todo sionismo corresponde à doutrina religiosa ou de direita. Que o sionismo como movimento nacional judaico, sempre teve suas diversas correntes de pensamento, como todo movimento nacionalista.

Nós não somos nem melhores, nem superiores aos nossos pares da esquerda, somos iguais e como iguais exigimos sermos tratados.

Nós somos sionistas! Nós somos socialistas! Eleição sem Lula é Fraude!

(*) Mauro Nadvorny é membro do Juprog (Judeus Progressistas), da Articulação Judaica e da J-Amlat (movimento em construção de judeus latinoamericanos de esquerda). Atualmente vive em Israel.


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