Opinião
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19 de abril de 2018
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13:38

Duas tragédias brasileiras (por Abigail Pereira)

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Sul 21
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Duas tragédias brasileiras (por Abigail Pereira)
Duas tragédias brasileiras (por Abigail Pereira)
No dia 17 de abril de 1996, sem-terra foram atacados pela polícia militar de Belém: 21 pessoas morreram e 69 ficaram feridas | Foto: MST

Abigail Pereira (*)

Nesta semana de abril, relembramos dois graves e emblemáticos fatos de nossa história. Separados por exatos 20 anos, o massacre de Eldorado dos Carajás e o impeachment da presidenta Dilma Rousseff explicitam, em sua essência, como tem se dado a luta do povo brasileiro por seus direitos e como age a elite a qualquer tentativa de reação às desigualdades.

Naquele 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais foram assassinados no Pará por policiais enquanto faziam uma caminhada em defesa da reforma agrária; dez deles tinham sinais claros de execução e dezenas ficaram feridos. Apenas dois comandantes foram condenados. Infelizmente, este não foi o único, mas foi um dos piores crimes cometidos no país contra a luta pelo direito à terra.

No 17 de abril de 2016, a primeira presidenta eleita e reeleita no Brasil era arrancada do posto máximo da nação num processo fraudulento que a condenou sem provas. Deputados e senadores encenaram um dos mais patéticos momentos da política nacional, discursando em nome da família, de Deus e do que mais viesse à tona, procurando justificar o injustificável e esconder os seus próprios crimes.

De lá para cá, o Brasil afundou sob o governo ilegítimo de Temer. As crises econômica e política pioraram; cresceu o desemprego e a precarização do trabalho e dos direitos com uma reforma trabalhista infame e uma emenda constitucional (EC 95) que condena milhões de brasileiros e brasileiras a não terem assegurado o acesso a um serviço público digno.  Recursos para programas sociais foram cortados; a pobreza, a concentração de renda e a violência contra todos — mas especialmente contra os jovens e as mulheres — aumentaram sensivelmente. Tentam vender todo nosso patrimônio público e natural aos interesses estrangeiros numa política entreguista e irresponsável que condena o futuro da nação. Cresceram a divisão da sociedade, o ódio e o fascismo. As instituições ruíram; a Justiça, de quem se esperava o respeito à Constituição, se entrega ao jogo das elites, determinando destinos sem base legal, atropelando a lei e o Estado democrático de direito. A democracia sucumbe frente aos piores interesses e nesse rolo compressor que atropela direitos, o ex-presidente Lula foi mais uma vítima. A prisão injusta do maior líder popular de nossa história recente é mais uma evidência de que vivemos um golpe.

Os dois fatos, o massacre de 1996 e o golpe de 2016, demonstram a desigualdade a que o povo brasileiro é historicamente submetido graças a uma elite cruel e arcaica que não mede esforços para manter seus privilégios e interesses. Os anos dos governos Lula e Dilma foram um intervalo nesse processo, um momento em que pela primeira vez em décadas o povo conseguiu alcançar melhores condições de vida. No entanto, tão logo foi possível, a elite reagiu com força barrando e destruindo estes avanços.

Mas, se estes fatos nos entristecem e nos indignam, também nos trazem força. Frente a tantos ataques, lembrando dos que tombaram, como aqueles 19 trabalhadores rurais e tantos outros e outras lutadoras de nosso país, nos fortalecemos para seguir em frente. Em nome de todos os trabalhadores e trabalhadoras que perderam a vida, em nome de todos que foram injustiçados em meio ao golpe, seguimos firmes para reconstruir nosso país, para retomar o caminho da democracia com desenvolvimento e igualdade. Para que nunca mais assistamos a massacres como o de Eldorado, para que nunca mais tenhamos de viver um golpe.

(*) Vice-presidenta do PCdoB-RS

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