Opinião
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27 de março de 2018
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13:27

Não podemos permitir que o Brasil perca a capacidade de sonhar! (por Laura Sito)

Por
Sul 21
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Não podemos permitir que o Brasil perca a capacidade de sonhar! (por Laura Sito)
Não podemos permitir que o Brasil perca a capacidade de sonhar! (por Laura Sito)
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Laura Sito (*)

“Mas eu sei que vai, que o sonho te traz
Coisas que te faz prosseguir
Vai, levanta e anda, vai, levanta e anda”
Emicida

Sonhar com a liberdade acompanha a história da humanidade, pois a luta por justiça, contra senhores e amos, move a história. A América foi forjada sobre o sangue desta luta, da afirmação da identidade de seu povo, na luta contra a escravidão, assim como posteriormente na luta por direitos civis.

A Revolução do Haiti talvez seja o mais importante exemplo de força e resistência na formação histórica destas terras. Sua revolução durou de 1791 a 1804, sendo um reflexo da Revolução Francesa. A Revolta de São Domingos resistiu contra a corte francesa durante 12 anos, assim como contra os ataques da Espanha e da Inglaterra. A Revolução Haitiana foi a primeira revolta de escravos a culminar com a formação de um Estado independente, um Estado negro.

As grandes revoluções são movidas pelos sonhos, e estes são movidos pela busca da felicidade plena.

A felicidade é tema debatido e estudado nos mais diferentes campos, como nas artes e ciências humanas, como na filosofia. Trata-se de uma noção indefinível, tamanha sua amplitude e complexidade.

Sendo um conceito individual, é dever do Estado, com a evolução das gerações de Direito, garantir o mínimo essencial para que o indivíduo possa buscar a sua felicidade, por meio da concretização dos Direitos Sociais. Sendo assim, o direito à busca da felicidade surge como decorrência dos Direitos Fundamentais.

No Brasil vivemos sob a interdição destes direitos, o desmonte do Estado, das políticas sociais e a entrega de nossas riquezas fragiliza as condições para que o cidadão possa buscar sua felicidade. Resultado: uma legião de cidadãos sem perspectiva para com seu futuro.

Mas as milhares de pessoas que tomam as ruas em defesa de Lula representam uma parcela da população que mantém aceso um sopro de esperança. Pois diferente daqueles que saem as ruas para defender a manutenção das desigualdades e de seus privilégios, esta legião saí as ruas com o coração cheio de esperança de tomar seu futuro nas mãos, com a esperança de voltar a sonhar com uma vida digna, a esperança de ver seu país soberano e não de joelhos ao mercado internacional.

As multidões de apoio ao Lula são compostas por muitos jovens, negros, mulheres, pequenos agricultores e movimentos sociais. Lula é um dos maiores patrimônios da esquerda mundial e sua caravana pelo país, abaixo de uma perseguição ferrenha de caráter fascista, demonstra a força popular que jamais um líder político gozou na história do Brasil.

O que move a luta política no país não cabe dentro dos tradicionais cálculos da política, em 500 anos foram poucas as oportunidades de liberdade real ao povo brasileiro. 13 anos de governos populares construíram um legado profundo, ainda que não estrutural. Cada beneficiário das mudanças ocorridas no país representa milhões, e são prova de que distribuição de renda e justiça social podem vocacionar novos lutadores sociais na construção de um novo ciclo para o Brasil.

O Brasil ainda é um país estruturado racialmente e de abismal desigualdade socioeconômica. Os conflitos sociais do presente tornam mais nítida esta realidade, com a diferença de que as camadas populares entenderam que são detentoras de direitos, ainda que tenham sido marginalizados do processo de cidadania estabelecido até aqui. Para metade (negra) deste país é reservado prioritariamente o direito ao encarceramento em massa, o genocídio de sua juventude, ao feminicídio e outras violações da dignidade humana. A execução da Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, é o maior símbolo na atualidade dos desafios enfrentados pela população negra e periférica deste país.

É necessário um olhar mais amplo sobre os conflitos que marcam o cotidiano da população brasileira, pois a realidade é que a maioria negra e pobre está à margem do conjunto das elaborações de alternativa de desenvolvimento nacional apresentadas pela esquerda e setores progressistas ao país. Só assim manteremos acesa a chama dos sonhos de liberdade do povo brasileiro, só assim construiremos um novo ciclo político para o Brasil sob hegemonia dos setores progressistas e democratas, no qual o direito à busca da felicidade possa ser novamente efetivado.

(*) Jornalista e membro da executiva estadual do PT/RS


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