Opinião
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27 de março de 2018
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11:15

Expatriando cérebros, entregando o país (por Adão Villaverde)

Por
Sul 21
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Expatriando cérebros, entregando o país (por Adão Villaverde)
Expatriando cérebros, entregando o país (por Adão Villaverde)
Foto: Guilherme Santos/Sul21
“Instituições de pesquisa estão sendo forçadas a interromper anos de investigações”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

 Adão Villaverde (*)

Os brutais cortes de recursos, resultantes de fortes desinvestimentos na área de ciência, tecnologia e inovação, aplicados pelo governo federal em nosso país, estão levando a produção científico-técnica brasileira a uma situação de agonia, desespero e horror. Paralisam pesquisas, interrompem fundamentais processos investigativos e são expatriados cérebros formados ao longo de muitos anos de investimentos, jogando o Brasil num fosso que pode nos colocar numa condição de dependência, ameaçada de se tornar irreversível.

As perdas advindas por estes cortes dramáticos impostos no orçamento do já equivocado projeto de criação do Ministério da Ciência e Tecnologia e Comunicações remontam a valores do final da última década do século passado. Exatamente naqueles tempos criticávamos o professor Fernando Henrique Cardoso por ter sido o grande autor da tese da “Teoria da Dependência”, e depois, no governo, “implementar a dependência sem nenhuma teoria”.

Em momentos de crises e dificuldades os países centrais fazem exatamente o inverso. Usam medidas protetivas a sua capacidade endógena, sem nenhum preconceito lançam mão do subsídio estatal, controlam os investimentos estrangeiros e fiscalizam o capital volátil, criam instrumentos para que investimentos sejam na produção e não no mero rentismo e apoiam o setor privado local, como estratégias de desenvolvimento, crescimento e inserção soberana no processo de mundialização.

Mas não param por aí, pois sabem que nas portas para saída da crise, está a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. Enquanto isto, perdendo a autonomia, a soberania e ampliando a subordinação, nós estamos trilhando o caminho inverso do que os países centrais percorrem, ao redor do mundo. Basta ver as atitudes do Japão, Alemanha, Estados Unidos, Suécia, Coréia do Sul, China, Cingapura e outros membros da União Europeia, apenas como exemplos. Nenhum deles renuncia aos fortes investimentos na área.

E a gravidade maior de tudo isto é que as instituições de pesquisa estão sendo forçadas a interromper anos de investigações e começam a perder cérebros para os países centrais. E o mais triste é que esta conduta rebate nos estados da Federação. E o RS é exemplo cabal disto.

Em plena era do conhecimento, da inteligência e da inovação, o governo Sartori, de forma obscurantista e numa estratégia de “desgauchização” do Rio Grande, extingue os seus órgãos de pesquisa e desenvolvimento. Isto só acelera o descortinar de um período sombrio, cuja lógica é condenar e desestimular as gerações do presente e aquelas que nos seguirão.

Num tempo em que a pesquisa, o conhecimento, a inteligência, a inovação, a sustentabilidade e o equilíbrio ambiental são os ativos centrais para uma perspectiva de futuro minimamente humanista para a sociedade, renunciar aos investimentos no campo científico, desmontar e achacar as instituições que levaram anos e gerações para serem construídas é condenar a ciência e a tecnologia a constituírem uma “moderna Atlântida”. Isto é, reproduzindo o destino daquele legendário continente que submergiu no mar sem deixar sequer vestígios ou traços.

(*) Professor, engenheiro e deputado estadual PT/RS


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