Opinião
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26 de março de 2018
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10:15

Aniversário de Porto Alegre: temos o que comemorar? (por Luciana Genro)

Por
Sul 21
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Aniversário de Porto Alegre: temos o que comemorar? (por Luciana Genro)
Aniversário de Porto Alegre: temos o que comemorar? (por Luciana Genro)
“A crise social é visível nas ruas”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Luciana Genro (*)

Porto Alegre completa 246 anos neste dia 26 de março, mas será que os porto-alegrenses têm o que comemorar? A crise social é visível nas ruas, com o número crescente de pessoas vivendo em situações degradantes em calçadas e viadutos. A violência atinge níveis dramáticos, a cidade está esburacada e as praças e canteiros há muito tempo não recebem capina e manutenção.

A população quer serviços públicos de qualidade. Quer que os impostos que paga sejam bem investidos. Qual a resposta que a prefeitura dá? A redução das funções públicas do Estado. O corte de gastos não mira nos privilégios da casta política, mas sim nas estruturas que podem oferecer serviços de qualidade ao cidadão. Muita gente costuma repetir que “a educação é a base de tudo”. É verdade. Mas em Porto Alegre está ocorrendo uma mudança inaceitável no Ensino de Jovens e Adultos (EJA), com fechamento desta modalidade em algumas escolas. É uma forma de diminuir a oferta de vagas e desestimular os alunos do EJA, justamente aquelas pessoas que precisaram abandonar a escola na infância e agora buscam uma nova oportunidade.

A melhor empresa de ônibus da cidade é a Carris, justamente a companhia que Marchezan quer extinguir. A Carris chegou a ser reconhecida como a melhor empresa de transporte público do Brasil, mas vem sofrendo há muitos anos um processo de sucateamento para que enfim seja liquidada. A Procempa também entrou na mira. Abdicar da produção própria de tecnologia de ponta nestes tempos em que se resolve muita coisa pela tela de um celular é algo inacreditável. Além disso, a Procempa é fundamental no desenvolvimento de avançados sistemas de controle da arrecadação tributária municipal. Até mesmo a frágil rede de assistência social vem sendo minada pelo governo. Todos estes projetos vêm acompanhados de ataques ao funcionalismo e parcelamento de salários. Como se fossem os servidores, e não os políticos do regime e seus agentes econômicos, os responsáveis pela crise.

O prefeito segue os passos de Sartori: um político que prefere fazer da crise seu projeto de governo, ao invés de resolvê-la. É mais do mesmo. Não é à toa que a população não acredita mais na política e nos políticos. Quem se elege para resolver os problemas só sabe cruzar os braços e dizer que não há recursos para nada. É o terrorismo financeiro como programa de governo. O engraçado é que dizem não haver recursos para nada, mas a prefeitura não demonstra empenho em esclarecer os graves casos de corrupção que saquearam os cofres do DEP. O pedido de CPI para investigar as falcatruas adormece na Câmara Municipal sem nenhum tipo de apoio do governo. A bancada de vereadores do PSOL tem se dedicado a exigir a apuração deste caso e a combater frontalmente o modelo antipopular de cidade defendido por Marchezan.

Felizmente Porto Alegre é muito maior do que os desmandos de uma gestão elitista. É também a força dos movimentos culturais, da arte de rua e do Carnaval, que resistem sem nenhum tipo de incentivo da administração pública. É a potência da Parada LGBT, que todos os anos leva mais de 30 mil pessoas às ruas – e que, pela primeira vez, em 2017, não contou com apoio da prefeitura. É a vibrante vida noturna da Cidade Baixa, em permanente oposição às tentativas de censura. É a força do povo trabalhador e dos desempregados que seguem a vida em meio a tanta precariedade nas periferias. Essa é a Porto Alegre que merece ser celebrada neste dia. Uma cidade onde a população insiste em jogar luzes onde haveria somente o breu da burocracia, da ausência de incentivos e da omissão de um governo medíocre e antipopular.

(*) Advogada, ex-deputada, dirigente do PSOL e fundadora do Emancipa


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