Opinião
|
10 de fevereiro de 2018
|
15:49

Quando o amor incondicional é vítima do ódio e do descaso (por Sandro Ari Andrade de Miranda)

Por
Sul 21
[email protected]
Quando o amor incondicional é vítima do ódio e do descaso (por Sandro Ari Andrade de Miranda)
Quando o amor incondicional é vítima do ódio e do descaso (por Sandro Ari Andrade de Miranda)
Alemão, em coma induzido, luta pela vida. (Foto: Reprodução/Blog Sustentabilidade e Democracia)

Sandro Ari Andrade de Miranda (*)

Alemão era um cão comunitário de Bagé simpático, feliz e amoroso como tantos outros que existem espalhados em todas as cidades do Brasil. Depois de adotado passou a viver com a sua família e ter uma companheira de espécie, Mimosa. O que antes era uma história feliz acabou sendo prejudicada pela conduta inescrupulosa de um indivíduo covarde que resolveu dar guisado envenenado para os cachorros na última quinta-feira (08/02/2018). Mimosa conseguiu ser salva mais rapidamente, ainda padece do envenenamento, mas Alemão, provavelmente por ser de maior porte, está em coma induzido tentando sobreviver de forma exemplar.

Pesa o fato do Núcleo de Apoio aos Animais da cidade de Bagé sequer ter ajudado prestando socorro, e se não o apoio de uma veterinária do Hospital São Francisco na cidade, o crime, pois isto é um crime, poderia ter se transformando em tragédia definitiva. Ainda existe esperança tanto para Alemão, como para Mimosa e todo o apoio e boas energias são sempre vindos.

Por outro lado, a conduta criminosa de quem envenena animais na calada da noite não pode mais passar sem resposta. A polícia, em regra, age de forma desidiosa e não investiga. Quando o processo chega ao Ministério Público, muitas vezes é arquivado por prescrição ou não processado. E no judiciário, infelizmente, os processos morrem em penas alternativas de prestação de serviço à comunidade ou cestas básicas. Não que eu seja um defensor de penas de privação de liberdade, mas a conduta do nosso sistema judicial nestes casos sempre é frágil e, em alguns casos, vergonhosa. Se o tema fosse levado a sério, com certeza os criminosos, no mínimo, seriam submetidos à medidas de segurança, como tratamento psiquiátrico.

Os crimes praticados contra os animais estão na categoria dos mais covardes daqueles que são executados por seres humanos, pois as vítimas nunca podem falar. São comuns o espancamento de cães e gatos comunitários, o “tiro ao alvo” com arminhas de pressão contra pássaros e gatos, há casos de animais queimados simplesmente porque moravam na rua e o crime mais comum, envenenamento em série. Existe uma patologia que é sintoma de psicopatia, pouco observada no Brasil, a Síndrome de MacDonald, cuja conduta típica é o zoosadismo.

Jeffrey Dahmer, (1960-1994), que matou e canibalizou 17 homens, na infância matava e dissecava animais como diversão. Edmund Kemper (1948) que inspirou o personagem Hannibal Lecter, de “O Silêncio dos Inocentes”, também se divertia matando, torturando e dissecando animais. São vários os exemplos onde o zoosadismo que é um ponto de partida para a entrada no universo dos crimes em série. Mesmo assim, a sociedade continua tratando o desprezo pela vida das outras espécies como uma questão de segundo nível.

Quem não se lembra do caso da “cadela preta”, que foi torturada e arrastada por um carro guiado por jovens de “boa família” em Pelotas? Alguns diziam, mas era só um animal de rua! Não, não era “apenas”. Era um ser vivo, dotado de direitos, cuidado por dezenas de anjos-da-guarda silenciosos e que merecia respeito. NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, JUSTIFICA A VIOLÊNCIA CONTRA OS ANIMAIS.

Espero, sinceramente, que o caso do Alemão não fique impune. Aliás, espero que a sociedade se mobilize e tome a consciência necessária para reivindicar uma ação mais forte das autoridades contra este e outros crimes. Não sejamos egoístas! Lembrem-se do alerta Brecht: deixamos tudo passar em silêncio, e no fim, a violência acaba na nossa porta!

(*) Advogado. Artigo publicado originalmente no Blog Sustentabilidade e Democracia

***

Sul21 reserva este espaço para seus leitores. Envie sua colaboração para o e-mail [email protected], com nome e profissão.

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora