Opinião
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17 de julho de 2016
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11:00

Fundamentalistas x radicais (por Marino Boeira)

Por
Luís Gomes
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Fundamentalistas x radicais (por Marino Boeira)
Fundamentalistas x radicais (por Marino Boeira)
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Uma amiga criticou meus textos no Facebook dizendo que eu era um fundamentalista político. Expliquei a ela que o fundamentalismo é, em princípio, empregado apenas para a religião, mas que hoje, por extensão, se aplica também em outras áreas para aquelas pessoas que não admitem discutir seus pontos de vista. Disse mais que, como admirador dos conceitos de Marx, seria uma contradição, negar que tudo está em evolução e que não existe nada definitivo, principalmente na política, que se ocupa das relações entre os homens. O que pretendo é ser radical, o que é bem diferente de fundamentalista.

Como não sei se ela entendeu bem, volto ao tema para repetir: fundamentalista é um qualificativo reservado para quem pratica uma religião seguindo suas normas de uma forma rígida e que enxerga suas leis como dogmas de fé. Então, um católico que acredita que a humanidade nasceu de Adão e Eva poderia ser chamado de fundamentalista e isso depois que até o Papa ficou em dúvidas sobre essa história.

Hoje, o termo, por extensão, é usado para pessoas que não aceitam discutir um determinado fato político ou que se aferram a uma verdade sem exibir qualquer prova de sua validade, embora nesse caso seja preciso ter cuidado em distinguir fundamentalismo de convicção.

Até que me provem o contrário, estou convicto, por exemplo, que as denúncias de corrupção contra membros do governo do PT têm por trás delas o objetivo de substituir esse governo por outro mais de acordo com o neoliberalismo que interessa aos representantes do pensamento neoliberal.

Na medida que eu aprofundo os argumentos em favor dessa tese, estou radicalizando meus argumentos porque examinei detidamente todas as variáveis da questão. Estou, portanto, indo às raízes do processo.

Marx era um radical e não um fundamentalista.

Ele estudou profundamente as origens e os fundamentos do capitalismo antes de divulgar suas teses. O fundamentalista busca o imobilismo e Marx pregava a mobilidade. Na linha do pensamento dos grandes filósofos gregos, ele via o mundo, a economia e as pessoas em movimento contínuo.

Heráclito de Éfeso disse que o homem não toma banho duas vezes no mesmo rio. Lavosier dizia que nada se cria, nada se perde e tudo se transforma. Marx afirmou que tudo que é sólido, desmancha no ar. Marshall Berman, por exemplo, usou a frase de Marx para título de um livro que fez muito sucesso há uns 20 anos, “Tudo que é sólido desmancha no ar”.

O fundamentalista pretende que as coisas fiquem estáticas, que as verdades sejam eternas, contrariando a própria física que prova que o mundo e tudo dentro dele, estão em movimento perpétuo.

Usando de certa forma uma licença poética, poderíamos dizer que aquelas pessoas que agem politicamente negando a existência desse movimento permanente, desse constante devir, seriam fundamentalistas, embora em todos casos que possamos pensar, existe sempre uma certa dose de exagero.

Por exemplo, o historiador americano Francis Fukuyama, ao ver no capitalismo ocidental, o último degrau no avanço social da humanidade, poderia ser classificado de fundamentalista, não fosse a suspeita que ele sempre estará tendo alguma vantagem material ao se colocar como defensor do sistema.

Bin Laden seria um fundamentalista – e até pode ser um bom exemplo pelo seu lado religioso –, mas seus objetivos políticos nunca foram definitivos. Ele e seus seguidores foram armados pelos Estados Unidos para combaterem os russos no Afeganistão, mas depois se voltaram contra seus apoiadores.

Seria o Bolsonaro um fundamentalista?

Alguém que trocou sete vezes de partido e que está sempre em busca da promoção de suas ultrapassadas ideias é mais um venal e oportunista do que fundamentalista.

Assim é melhor deixar estes exemplos pouco práticos de lado e ficar com o conceito de que radicalismo é diferente de fundamentalismo e, se alguém não concordar com isso, ótimo, abrimos mais uma discussão.

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Marino Boeira é professor universitário

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