Opinião
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30 de julho de 2016
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03:05

Ainda é hora de ter esperanças? (por Marino Boeira)

Por
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Ainda é hora de ter esperanças? (por Marino Boeira)
Ainda é hora de ter esperanças? (por Marino Boeira)

Nossa lógica é cartesiana. Aprendemos a pensar assim e parece que tudo que acontece no mundo só serve para confirmar essa visão. Depois do um, vem o dois, depois o três, numa sequência lógica. Terça-feira, depois da segunda e antes da quarta, há séculos que nada muda nessa ordem.
Por que na política não seria assim também?

Ao trazer para a história a visão dialética de mostrou que nem sempre é assim. Que a história da humanidade se faz através de rupturas. Que a soma de quantidades, pode em determinado momento, gerar uma mudança qualitativa.

Marx não falou que as coisas acontecem obrigatoriamente desse jeito, mas que dependendo da ação dos homens, um determinado movimento que parece se encaminhar numa direção, pode subitamente mudar.

Ele pensava especificamente num sistema político, no caso o capitalismo, que quanto mais parece crescer, mais se aproxima de sua derrocada final.
A síntese desse pensamento está expressa naquela celebre afirmação de que “tudo que parece sólido, se desmancha no ar”.

E não é apenas nessa área política que as coisas podem mudar do dia para a noite. Há uma simples experiência física que mostra que as sequências podem ser rompidas numa fração de segundo. Quando você vai esquentando a água numa vasilha, ela continua líquida até os 99 graus, seguindo sempre uma sequência lógica. Basta somar apenas mais um grau e ela sofre uma revolução, deixando de ser líquida e se transformando em gás.
Aliás, numa licença poética, até aquela música do Fábio Júnior já disse uma vez que nem sempre a aritmética é definitiva.

‘O futuro já se fez
Por nos dois agora eu sei
Que um mais somam três”

Toda essa simplificação das regras da física feita por um leigo e a lembrança de uma música brega, vem a propósito de uma conversa com o ex-governador Tarso Genro.

Preocupado com a formação de uma frente de esquerda que se oponha ao que ele denomina como um grande movimento mundial em busca de um novo ajuste da sociedade capitalista, Tarso acredita que a hora é de agrupar forças e não de pensar em conquistar o poder político.

No caso brasileiro, ele imagina que a tendência é a consolidação das forças do centro/direita e que dificilmente uma nova experiência como foram os governos do PT, será possível nos próximos 10 anos.

Sua luta, no momento, é mais de resistência, procurando defender as conquistas sociais e democráticas postas em perigo pelo crescimento do pensamento autoritário no País, do que a montagem de uma estratégia eleitoral visando as próximas eleições.

E o que acontece no Brasil e no mundo inteiro, onde o pensamento autoritário e conservador prevalece, parece dar razão a estratégia de Tarso.
Segurança a qualquer custo é hoje a bandeira dos governos e o anseio das populações assustadas com o surgimento de movimentos terroristas que a mídia se encarrega de ampliar histericamente.

Em troca da lei e da ordem a qualquer custo, as pessoas estão dispostas a esquecer seus anseios de liberdade e democracia.

Esse sistema policial é, porém, a negação da democracia burguesa ocidental e traz com ele o germe de sua destruição.

Seu fortalecimento talvez seja o momento em que, esgotadas suas possibilidades de assegurar uma vida normal, para as pessoas, a velha ideia, cantada em prova e verso, de que “outro mundo seja possível” possa ser retomada.

Quem sabe isso possa ser conquistado ainda pelas nossas gerações – a minha e a de Tarso – contrariando o pensamento dele de que ela seria tarefa de nossos filhos e netos?

Afinal, sonhar e ter esperanças sempre foram os grandes estimuladores do pensamento de esquerda.

.oOo.

Marino Boeira é professor universitário

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