Opinião
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12 de abril de 2016
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10:00

“O patriotismo é o último refúgio do canalha” (por Marino Boeira)

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“O patriotismo é o último refúgio do canalha” (por Marino Boeira)
“O patriotismo é o último refúgio do canalha” (por Marino Boeira)

Samuel_JohnsonQuando escreveu sua famosa frase, Samuel Johnson estava pensando no que acontecia com o partido no qual ela apostara suas preferências políticas – os Patriotas – uma tendência partidária como tantas outras existentes na Inglaterra do século XVIII e que começava a ser minado pela presença cada vez maior de oportunistas em suas fileiras, que seriam os canalhas da sua citação.

Com o passar dos tempos, a frase começou a ser lida como o refúgio onde se abrigavam líderes políticos oportunistas que usavam o patriotismo como bandeira para justificar suas ações belicosas.

Os exemplos mais marcantes do uso do patriotismo e do xenofobismo como armas para mobilizar populações inteiras contra inimigos reais e imaginários, ocorreram nas duas grandes guerras mundiais.

Na primeira guerra mundial, todo um sentimento de solidariedade internacional, principalmente na França e na Alemanha, foi sepultado pela febre nacionalista incentivada pelos seus dois governos movidos por ambições imperialistas.

O melhor relato da destruição desse sentimento de solidariedade internacional, substituído pelo espírito guerreiro, está no romance de Roger Martin du Gard, Les Thibault.

Na segunda guerra mundial, novamente a pretensa necessidade de buscar o espaço vital para o desenvolvimento de suas nações foi que levou Hitler, Mussolini e o imperador Hirohito a mobilizar seus povos para uma guerra de conquistas, apresentada como uma defesa dos mais sagrados valores nacionais.

Somente depois da segunda guerra mundial, quando floresceram, principalmente na Ásia, na África e também na América Latina, as lutas anticolonialistas, que o nacionalismo e os movimentos patrióticos de libertação dos povos oprimidos pelo imperialismo, ganharam um novo significado

Para nós, brasileiros, principalmente, patriotismo e nacionalismo significam defender as riquezas do Brasil pretendidas pelos grandes trustes nacionais.

Por isso, gera um sentimento de revolta dos verdadeiros patriotas assistir os manifestantes a favor do impeachment da Presidente Dilma se apossarem dos maiores símbolos da Pátria, principalmente a sua bandeira, para justificar suas posições, na verdade antipatrióticas,

Sob a bandeira justa do combate à corrupção, prática endêmica na vida republicana brasileira, nascida da simbiose entre os grandes empresários e os diversos seguimentos que compõem o nosso sistema de governo, se esconde o que os manifestantes que vestem verde e amarelo nas ruas não sabem o não querem saber, a destruição da maior empresa brasileira, a Petrobrás.

Criada por Getúlio Vargas, depois de resistir a violenta pressão dos interesses imperialistas, ser quase privatizada no governo de Fernando Henrique, a Petrobrás se vê agora ameaçada de morte pelos que confundem a ação maléfica de alguns de seus dirigentes com as funções específicas da empresa.

Pouco tempo depois de anunciar a descoberta das grandes jazidas de petróleo no pré-sal, a Petrobrás volta a ser cobiçada pelos grandes monopólios internacionais.

Em vez de defender patrioticamente nossas riquezas, estes manifestantes, batedores de panelas vazias, seriam bem mais coerentes, se usassem em seus protestos a bandeira americana, onde estão os grandes trustes do petróleo, felizes com a destruição que se faz da maior empresa brasileira, a pretexto de combater a corrupção.

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Marino Boeira é professor universitário.

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