Opinião
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10 de agosto de 2014
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09:12

O GreNal e o amor de pai para filho (por Anderson Nunes dos Santos)

Por
Sul 21
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O GreNal e o amor de pai para filho (por Anderson Nunes dos Santos)
O GreNal e o amor de pai para filho (por Anderson Nunes dos Santos)

A semana de GreNal é um daqueles momentos em que até mesmo o homem mais sério deixa-se contagiar pela emoção da boa e velha corneta.

Já vi nestas semanas de GreNal amizades serem abaladas, funcionários perdendo o medo de provocar o chefe torce dor do time rival, esposas e namoradas ficarem sem conversar com os maridos e irmãos irritados a pontos de reviverem a história de Caim e Abel. Ou seja, os laços familiares e afetivos ficam muito vulneráveis na semana que antecede aquele que é considerado por muitos o clássico com a maior rivalidade já existente no mundo.

Venho de uma família dividida pelas cores vermelha e azul.

Meu pai Francisco Cláudio era torcedor apaixonado pelo Internacional, de ir ao estádio em dia do jogo, amanhecer escutando as rádios esportivas e, pasmem, até mesmo iniciar o bom e velho churrasco de domingo algumas horas mais cedo só para não ter nenhum problema de chegar tarde ao Beira-Rio ou, então, de assistir descansado a disputa pela TV na sua poltrona que era a extensão das arquibancadas do nosso glorioso Gigante.

Aprendi a amar o futebol – e principalmente o Internacional – assistindo ao modo com que o meu pai torcia.

Aliás, dia de jogo do Inter era o único momento permitido para se usar xingamentos de baixo calão dentro de casa.

Durante 7 anos fui o seu único parceiro a dividir e compartilhar com ele estes momentos que duram para sempre.

Com ele aprendi que jogo para ser bom, quando assistido em casa tem que ser com o som da TV no volume baixo e o do rádio era o que ecoava dentro de casa, talvez para que ele pudesse se sentir lá dentro do estádio torcendo pelo seu colorado.

Dai nasceram meus dois irmãos mais novos, o Émerson e o Márcio, e com o passar dos anos aquele que acredito terem sido dos piores / melhores momentos na vida dele quando os guris decidiram torcer para o nosso maior rival, o nosso maior inimigo, aquele que aprendi com ele a não chamar nunca pelo nome mas apenas dizer “o time do co-irmão da Azenha” que hoje por motivos geográficos óbvios não pode mais ser usado, ficando apenas conhecido como “co-irmão”.

Mas porque digo que talvez tenham sidos os piores/melhores momentos da vida do nosso pai Cláudio?

Porque os meus irmãos mesmo não torcendo pelo nosso colorado aprenderam com o pai que torcedor de verdade é aquele que ama o seu clube com todas as suas forças, seja nos momentos de vitória, seja nas mais tristes derrotas.

Por falar nisto, estes anos que fizeram com que os meus irmãos escolhessem o azul como sua segunda pele foram anos difíceis para nós torcedores vermelhos, que confesso nem gosto de me lembrar.

O meu irmão Émerson com os seus 12 ou 13 anos de idade, resolveu provocar ainda mais o nosso pai e ingressou nas categorias de base do co-irmão através de uma parceria que o clube azul mantinha com o SESI em Gravataí, onde morávamos.

Nossa! Juro que quando o mano contou isso ao pai achei que ele iria finalmente se rebelar e mandar com que o Émerson parasse de bobagem e iria colocar a camisa vermelha à força no corpo dele .

Mas, para o meu desespero, ele o apoiou. E não foi um apoio qualquer; foi apoio de verdade, de ir junto aos treinos, participar de jogos com a equipe tricolor e até que, para o meu espanto maior, aceitou convite para fazer parte da diretoria da escolinha do co-irmão!

E por muitas vezes até mesmo em dias de jogos da equipe fez aquilo que nem no maior dos meus pesadelos aconteceria: vi o homem que me ensinou que não existe nada maior no futebol que o amor incondicional que um colorado deve ter pelo Inter, vestir a camisa tricolor!

Juro que, no dia que vi meu pai vestindo aquela camisa azul, a minha primeira impressão foi de medo, medo de quem sabe perder para o co-irmão, mais um membro da nossa família. Mas graças aos Deuses do Futebol, que amam pregar suas peças, meu velho continuou o mesmo colorado de sempre.

Hoje , na semana que antecede o GreNal de número 402 , vejo meus filhos Henrique e Gabriel de 5 e 14 anos, compartilharem desde cedo o amor pelo Inter que aprendi com o meu pai.

Mais maduro penso que se tiver mais filhos que, assim como meus irmãos, resolverem trair o amor que busco transferir a eles pelo Inter, não pensarei duas vezes e agirei “igualzito ao pai”, porém espero não ter de vestir jamais, a camisa azul do co-irmão .

.oOo.

Anderson Nunes dos Santos é assessor parlamentar e colorado.

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