Opinião
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15 de maio de 2011
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09:30

Aldo Rebelo e a História

Por
Sul 21
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Demilson Fortes

No final dos anos 60, milhões de pessoas tomaram as ruas de Paris querendo mudanças — na sociedade, na política, nas relações humanas, na vida. O partido comunista francês — PCF — retraiu-se, não apoiou os movimentos da rua e não sabia o que fazer. Os milhões — estudantes, juventude, trabalhadores, intelectuais, homens e mulheres — estavam nas ruas, mas o partido comunista francês, estava na sua sede, com seus intelectuais burocratas tentando entender, decifrar o que se passava, bem a sua frente. A história estava ali, aos olhos de todos, materializada em milhões de pessoas nas ruas, universidades, fábricas e praças. Ela — a história — movimentando-se como um rio caudatário furioso, arrastando a tudo e transbordando as margens, que tentavam inutilmente detê-lo. Mas, os camaradas comunistas, não entenderam — a história — e ficaram tentando equacioná-la com suas velhas fórmulas pré-definidas em um manual. Sobre o momento, o filósofo Jean Paul Sartre, escreveu um texto denominado “Os comunistas temem a revolução”. Após este período, o partido comunista francês declinou, e nunca mais voltou a ter a influência que detinha anteriormente.

A história e as circunstâncias. É preciso decifrá-la, compreender dialeticamente seus dinâmicos movimentos, conflitos, contradições, protagonistas. Na França, do final dos anos 60, a história atropelou o partido comunista, para os quais a realidade não coube nas suas leis de bronze. Para eles, se tinha uma fórmula com roteiro e etapas definidas, e queriam simplesmente que a realidade, a juventude francesa e os trabalhadores que estavam nas ruas, nelas se encaixassem. A juventude ignorou as fórmulas que queriam ter o controle e o PCF foi literalmente atropelado pela história, perdeu a influência na vida política francesa e entrou em declínio. Para Marx “os homens fazem a história, mas não escolhem as circunstâncias”, mas para ele, “é preciso forjar as circunstâncias humanamente”, e assim fazer a história de maneira consciente. Somos nós e nossas circunstâncias dadas ou criadas, com possibilidade de fazer história, ou ser arrastados por ela.

Em Brasília, na Câmara Federal, será votado o novo Código Florestal. É o encontro dos deputados com a história. O Deputado Aldo Rebelo, por ser o relator, se destacou nesse processo, e é o maior responsável pelo resultado da lei, que daí resultará, mas o todos os deputados federais tem a responsabilidade do produto final aprovado. Espero que a história seja justa com os que fragilizaram a proteção ambiental e colocaram em risco o futuro, pensando no econômico e no imediato. As próximas gerações, saberão que houve oportunidade de escolha, que caminho diferente poderia ser seguido.

Em que pese a inflexão realizada na última semana, na última versão pública do relatório de Aldo Rebelo, o concreto é o documento publicado em 2010, sobre a mudança do Código Florestal. Este relatório, bem poderia chamar-se Anatomia de uma traição histórica. Acredito que isso, seria um tratamento justo com Aldo Rebelo, com a agricultura familiar, com o movimento ecologista, com os movimentos sociais do campo, com os tantos lutadores sociais, alguns mortos nos conflitos, como Chico Mendes e Irmã Dorothy.

Aldo Rebelo entra para a história como o comunista que se tornou ídolo do setor mais reacionário, atrasado e conservador do país, os grandes ruralistas. Na França, a história acertou as contas com os que não a entenderam. Aqui, espero que, assim seja!

* Demilson Fortes é Engenheiro Agrônomo, Ecologista e assessor da área de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente.


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