Opinião
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23 de janeiro de 2011
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08:00

Uma decisão conservadora

Por
Sul 21
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Paulo Daniel *

A decisão tomada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) em aumentar a taxa de juros não se trata simplesmente de discutir se aumentou em 1% ou 0,5% p.p., mas sim, compreender a política monetária implementada, ou seja, o pensamento ortodoxo está impregnado no Banco Central e do ponto de vista monetário, qual é seu ideário?

Para esses economistas, geralmente o produto real é dado pela sua oferta, a única variável determinada pela demanda é o nível de preços (inflação). A procura por bens e serviços é determinada pela quantidade de moeda (nível de crédito, taxa de juros), portanto, políticas monetárias expansionistas, ou seja, abundância de crédito e moeda no mercado afeta diretamente o nível geral de preços.

Nesse modelo, a demanda possui um papel totalmente passivo na determinação do produto. Neste sentido, a política monetária está mais preocupada com o lado monetário do que com qualquer outra variável real econômica, como salários, emprego, investimentos etc. Essa foi e está sendo a política do Banco Central nos últimos 16 anos.

Desde 1999 quando introduziu-se a política de metas de inflação, a vontade insana do Banco Central é atingir o centro da meta projetada, centro esse atingido uma única vez em 2000. Diversos estudos empíricos na teoria econômica concluíram que o regime de metas é efetivo na redução da inflação por motivos outros que não a taxa de juros.

Além disso, os países que adotaram o regime de metas observaram queda na volatilidade das taxas de crescimento econômico em relação aos que não adotaram. Assim como o objetivo último do regime de metas é o controle da inflação, o objetivo da política econômica deve ser o crescimento sustentado da renda. A estabilidade monetária não pode ser um fim em si mesmo, mas uma condição necessária ao crescimento com melhor distribuição de renda.

Com a elevação dos juros, a propensão de ampliar a entrada de capital externo principalmente em portfólio é enorme, portanto, a tendência de valorização do Real perante ao Dólar se manterá, por isso, as medidas adotadas, até o momento, para combater a sobrevalorização do câmbio tenderão a ser inócuas.

Uma das várias batalhas econômicas no governo da Presidenta Dilma Rousseff (PT) a primeira foi vencida pelo conservadorismo, o foco agora será outro; a política fiscal. O governo será pressionado ao ajuste fiscal, elevando seu superavit primário com o objetivo maior de manter a remuneração do capital financeiro nacional e internacional.

O governo vem economizando receitas de impostos para pagar juros, a alegação é de que o superavit primário, conseguido através de cortes de gastos na administração pública, mais o esforço de arrecadação serviriam para compensar, ao menos em parte, os encargos da dívida, evitando uma trajetória explosiva, entretanto, esse esforço não se verifica na prática.

Mas, se o ajuste primário não segura a expansão da dívida, por que cortar despesas que podem sacrificar programas importantes do Governo Federal? Isto na verdade tem a ver com a necessidade de ingresso de capitais, e a questão das expectativas dos investidores internacionais, que tomam a relação dívida pública/PIB como um importante indicador macroeconômico.

Na verdade, a economia fica na total dependência da análise dos organismos internacionais, que se baseiam fortemente nestes indicadores de curto prazo. Parece que o ajuste não tem fim.

No entanto, é preciso ter claro que a dívida mobiliária atrelada ao juro está transferindo recursos para os detentores de riqueza e que a redução de gastos públicos (projetos sociais, aposentadorias, salários de servidores) para pagar juros ao nível requerido tem limites sociais, nunca considerados pelos organismos internacionais.

Resta saber até quando é possível continuar apenas nesta via de ajuste, com o intuito central de gerar confiança aos investidores externos.

* Economista, editor do Blog Além de economia
Originalmente publicado na Carta Capital


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