Opinião
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4 de janeiro de 2011
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08:00

Dias virão em que as coisas vão mudar

Por
Sul 21
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Índio Vargas *

Convidado para assistir a posse da presidenta Dilma Rousseff, suponho que seria legítimo narrar alguns fatos relevantes que lá ocorreram. Não há dúvida que os representantes dos países estrangeiros não tinham a expressão esperada. Hillary Clinton foi quem mais se destacou, obviamente por respresentar os USA. Aqui do Mercosul, não vieram a presidenta da Argentina e o presidente da Bolívia. O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, e o príncipe Felipe de Astúrias, da Espanha, salvaram a ausência de interesse da Europa. A Península Ibérica sempre foi mais simpática conosco. Dias virão em que as coisas vão mudar. A primeira mulher a assumir a presidência de uma grande nação assume caráter inédito pela sua originalidade.

Outro fato frustrante, ao lado de vários originais, foi a divulgação pela mídia de que algumas ex-companheiras de cela de Dilma, nas prisões políticas de São Paulo, foram convidadadas e compareceriam aos atos solenes. Iriam juntas e se apresentariam. É evidente que chamariam a atenção do grande público presente. Seriam objeto de atenção de todos. Alguns as reveriam, outros teriam a oportunidade de conhecê-las. Todos, certamente, se indagariam perplexos: quem serão essas pessoas que puseram em risco sua liberdade e até a própria vida para que o Brasil voltasse a viver no estado democrático de direito? Mas, o inusitado e comovente seria ver a Presidenta da República apresentar suas companheiras de prisão política. Isso até pareceria ficção inverossímel.

Cena que provocou emoções incontroláveis foi quando terminaram os discusos de transmissão de posse e a troca da faixa presidencial e Dilma desceu a rampa do Palácio para acompanhar Lula até o carro que o levaria ao aeroporto. Nesse momento, a multidão de mais ou menos quarenta mil pessoas prorrompeu em aplausos, gritando Lula, Lula. O ex-presidente que estava entrando no carro, voltou e disse aos que o acampoanhavam: “Vou romper o protocolo pela última vez”. Atravessou a rua e se misturou à multidão, deixando-se levar para o meio do povo. Puxa daqui, empurra dali, abraços e beijos esgotaram a cena. Os seguranças, cumprindo determinação rigorosa de Lula, deixaram que a própria multidão, dirigida pelos mais exaltados, conduzisse-o ao carro que o levaria ao aeroporto, em prantos. “Ninguém é de ferro”, disseram que foram suas ultimas palavras.

* Advogado, autor de quatro livros, entre eles “Guerra é guerra, dizia o torturador”. Índio esteve preso na antiga Ilha da Pólvora, junto com Carlos Araújo, ex-marido da presidenta Dilma Rousseff


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