Opinião
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23 de agosto de 2010
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09:00

Promessas eleitorais

Por
Sul 21
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Mouzar Benedito *

Dizem que uma história puxa outra, e é verdade.

Às vezes, começamos a conversar sobre um assunto, ele faz lembrar um outro, este lembra mais outro, e de repente estamos falando de coisas que não têm nada a ver com o início da conversa.

Foi o que aconteceu comigo e uma amiga falando do vale-tudo das promessas eleitorais. Como ninguém pretende cumprir nada do que prometeu, prometem coisas pra lá de absurdas. No início, ela falou de um candidato a vereador de Natal, no Rio Grande do Norte, que prometeu que, se fosse eleito, construiria uma ponte até a ilha de Fernando de Noronha. Ou seja, uma ponte de 360 quilômetros, com pilares de milhares de metros de altura.

Então, eu me lembrei de um candidato a vereador de Belo Horizonte, que prometeu fazer um canal para levar águas do oceano Atlântico até a lagoa da Pampulha, que, além de ficar a uns 500 quilômetros do mar, tem uma altitude de mais de 800 metros.

Aí a conversa virou pro Barão de Itararé, grande humorista gaúcho, que foi vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Comunista, em 1946. O Barão mostrava que podia ser comunista sem ser carrancudo, tratava das coisas sérias com muito humor. Na época em que se candidatou a vereador faltavam muitos gêneros alimentícios no Rio, inclusive leite. E o abastecimento de água era horrível.

Ele não fez nenhuma promessa, mas seu lema de campanha era “mais água e mais leite, mas menos água no leite”. Isso porque além do leite ser escasso, às vezes vinha misturado com água, pra dar mais lucro às leiterias.

Daí eu me lembrei de outro assunto que não tem nada a ver com eleição. É o caso de uma pequena cidade mineira que tinha dois vendedores de leite, que iam de casa em casa com uma carroça com latões. Diziam que eles misturavam água no leite, mas os dois negavam veementemente.

Interessante é que a concorrência nunca atrapalhou a amizade deles, que eram até compadres. Tanto que quando resolveram conhecer o mar, deixaram os filhos cuidando da entrega de leite e foram para Santos juntos.

Os dois ficaram parados na praia olhando aquela vastidão de água e um falou pro outro:
– Cumpádi, já pensou se isso tudo fosse leite pra nóis vendê?
O outro pensou, pensou, e respondeu:
– Num ia sê bão não.
– Uai, pruquê?
– Onde é nóis ia arrumá água pra misturá nisso tudo?

* Mouzar Benedito é jornalista, trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros, em Minas, e Brasil Mulher). É autor de O anuário do Saci (2009, Publisher Brasil), Ousar Lutar (2000, Boitempo), em co-autoria com José Roberto Rezende, e Pequena enciclopédia sanitária (1996, Boitempo). Recentemente,  lançou o livro Meneghetti, o gato dos telhados.

Publicado originalmente em Via Política


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