Opinião
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17 de agosto de 2010
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17:31

A diferença é que Brizola não mentia

Por
Sul 21
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Por Brizola Neto (*)

O senhor José Serra disse hoje no Rio Grande do Sul, numa tentativa de fazer “agrados” à memória brizolista no Estado, que aprendeu a falar no rádio ouvindo Leonel Brizola nos anos 60. Evidente que não posso dizer se Serra ouvia ou não ouvia, há 50 anos, Brizola falar no rádio. Mas posso dizer que uma coisa meu avô fazia que é  totalmente o inverso do comportamento de Serra.

“Eu uso as palavras para revelar, não para esconder meu pensamento”, ouvi várias vezes Brizola dizer sobre a sua maneira de se expressar. Brizola não mudava de posição por conveniências eleitorais. Amargou um isolamento imenso, por algum tempo, denunciando o Plano Cruzado de Sarney. Quando os “fiscais do Sarney” apareciam na TV, quando o serrista Orestes Quércia dizia que ia “laçar boi no pasto”,  porque o ágio fizera a carne sumir, Brizola martelava a verdade que apareceu no dia seguinte à abertura das urnas de 1986: isso é eleitoreiro e depois de amealharem os votos, tudo volta a ser como antes.

Voltou, no dia seguinte às eleições, em que o PMDB colheu a maior vitória de sua existência, elegendo todos, menos um, os governadores brasileiros.

Brizola nunca ocultou o que pensava em nome de conveniências eleitorais. Não deixou, sequer, de brigar com o próprio Lula, quando discordou de suas posições e, mesmo, quando criticava duramente os dois primeiros anos de seu Governo, quando discordou de manter linhas de política econômica semelhantes às de Fernando Henrique Cardoso.

Se Brizola estivesse em oposição a Lula, hoje, tenho certeza que ele diria isso claramente. Não ia ficar “fingindo” que era lulista. Não ia tentar iludir a população mais humilde dizendo que era candidato “para seguir em frente” o atual Governo, se discordasse dele.

Não posso proibir ninguém de falar sobre meu avô. Mas posso reagir. Serra fala em Brizola no Sul tal como se diz “Zé” na propaganda: porque é um falso.

E vai levar da população, por isso, um “não rotundo” como aquele que Brizola muitas vezes pediu para que se desse aos candidatos da elite, que não dão ao povo sequer a sinceridade, nem isso.

(*) Texto publicado no blog Tijolaço.


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