Opinião
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23 de julho de 2010
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13:55

Jornalista não é ventríloquo, tem que perguntar

Por
Sul 21
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Por Brizola Neto (*)

Talvez por não ser jornalista eu fique imaginando que o papel  de um repórter é indagar, procurar extrair o máximo da informação que recebe para poder entregá-la ao público de forma responsável e compreensível. Se um  jornalista apenas copia e transcreve o que alguém diz, não precisaria estudar. Talvez resida aí o interesse dos grandes meios de acabar com o diploma de jornalista. Para transformar seus profissionais em simples repetidores, sem nenhuma capacidade de questionamento.

Isso me veio à mente com a declaração do vice de Serra de que o PT teria ligações com o Comando Vermelho. Tudo bem que ele terá que responder judicialmente por fazer o papel de agente provocador, mas será que nenhum jornalista lhe perguntou qual era a sua base para fazer essa afirmação?

O que Da Costa diz agora é jornalisticamente relevante, já que ele deixou de ser um desconhecido para (por irresponsabilidade dos demotucanos) se tornar candidato à vice-presidência do Brasil. Portanto, o que diz, deve ser publicado, nem que seja para revelar seu caráter e seu primarismo político.

Mas que incomoda não ver nenhum questionamento à sua declaração nas matérias que tratam do caso, incomoda. Será que Da Costa falou e ficou por isso mesmo? Será que nenhum jornalista lhe perguntou com base em que fazia tal acusação, se tinha evidências dessa associação e capacidade de responder por elas? Ou saíram todos felizes da entrevista, achando que tinham matéria quente, apenas reproduzindo as tolices pronunciadas?

Me parece que essa falta de questionamento torna tudo permissível. Qualquer pessoa com voz na mídia pode detratar outra sem maiores consequências. Pode até vir a ser processada nos tribunais, pagar uma indenização ou algo do gênero, mas o estrago já terá sido feito. O que vai para a opinião pública é algo muito sério para ser tratado de forma tão leviana.

Se alguém emite um juízo, deve justificá-lo. Se faz uma acusação, deve indicar provas. Sem isso, as coisas se reduzem a xingamentos ou detratação. E quem divulga isso acriticamente, mesmo sem querer, tornar-se um colaborador da infâmia.

Taí um bom debate para os jornalistas que cobrem a atual eleição e para os que sonham ser jornalistas um dia.

(*) Artigo publicado no blog Tijolaço.


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