Opinião
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24 de julho de 2010
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13:59

CSI: Caracas

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Sul 21
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Por Maurício Santoro – Do blog Todos os Fogos o Fogo

Na América Latina se morre de muita morte morrida, e de alguma morte matada, mas ninguém perece por causa do tédio. A notícia mais pitoresca dos últimos dias foi a decisão do presidente da Venezuela em exumar os restos mortais de Simon Bolívar para comprovar uma hipótese lançada recentemente por cientistas da Universidade de Maryland, nos EUA: a de que o Libertador teria sido envenenado por arsênico, em vez de ter falecido em decorrência de tuberculose, como em geral se acredita.

A obsessão política de Chávez com Bolívar é bastante conhecida, mas não é tão difundida sua fixação com a morte. Segundo seus biógrafos, o presidente venezuelano acredita com fervor que será assassinado. Descobrir que seu maior ídolo teve um fim semelhante com certeza um impacto psicológico forte sobre Chávez, reforçando suas crenças com respeito a seu suposto destino trágico.

A vida de Bolívar parece uma transposição americana de um dos romances de capa e espada de Alexandre Dumas, e ele sobreviveu a uma série de conspirações, intrigas e tentativas de assassinato – a mais famosa foi um ataque noturno a sua casa, da qual ele escapou pulando pela janela, enquanto sua amante enganava os inimigos. É verossímil, embora não seja provável, que ao fim um adversário mais ardiloso o tenha envenenado.

Se isso for verdade, o impacto político é nulo. As disputas pelo poder na Grã-Colômbia das décadas de 1820 e 1830 podem ser leituras fascinantes, mas não impactam para o atual estado das relações entre Chávez e Uribe, para a agenda da ALBA ou para a próxima rodada de retórica entre a Venezuela e os EUA.

Curiosamente, não é a primeira vez que tiram Bolívar de seu descanso eterno. Na década de 1970, um grupo armado colombiano, o M-19, roubou a espada do Libertador de um museu e anunciou que “retomava sua luta” – pleito que terminou num trágico atentado terrorista, a tomada da Suprema Corte da Colômbia, com dezenas de mortos. Passou pelo traficante Pablo Escobar e pelo governo cubano. As FARCs agora alegam ter outra das espadas do líder.

Faltam boas biografias em português de Bolívar, mas para os que se interessam pelo personagem recomendo os trabalhos do historiador David Bushnell.


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