Opinião
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26 de maio de 2010
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18:36

O tempo passou na janela e só a oposição não viu…

Por
Sul 21
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Por Adão Villaverde *

O acordo para troca de combustível nuclear para fins pacíficos, assinado por Brasil, Irã e Turquia, foi saudado pelo mundo como uma grande vitória para a paz mundial. Ninguém desconhece, claro, que ele deve ser apanhado como um passo fundamental para um consenso que ainda precisa ser construído. Mas, em meio à quase unanimidade, não faltaram os céticos de plantão, ou melhor, os que torceram contra. Aliás, que ainda não conseguiram superar o complexo de subordinação e submissão nas relações mundiais. Ou porque não dizer, o “complexo de vira-lata”, expressão cunhada por Nelson Rodrigues?

Mas o que estes não esperavam, ao se jogarem  na defesa  das posições de Hilary Clinton, é que duas semanas antes do acordo ser firmado  em Teerã, o presidente  Barack  Obama enviou  a Lula uma carta,  divulgada pela Agência Reuters, na qual  diz que um eventual acerto “geraria confiança e diminuiria as tensões regionais”, colocando a própria política americana em contradição.

Mas fica difícil para os adversários do acordo, admitirem que num espaço inferior a uma década o mundo mudou e nós também. Passamos a ocupar um lugar relevante no processo de globalização, queiram ou não.

Externamente, a grande mídia global tirou-nos das manchetes esportivas e policiais e nos jogou nas páginas econômicas e políticas. Internamente, o país voltou a se desenvolver, gerar emprego e renda, aumentou a massa salarial, passou a distribuí-la e incluiu socialmente os mais vulneráveis. Numa forte política de recuperação das funções públicas de Estado, mesmo em meio à brutal crise mundial do modelo neoliberal, especulativo e desregulado.

Mas alguns continuam sem compreender ou não querer entender o que houve. Em 2003, o mundo e o Brasil iniciavam uma transição no cenário internacional. Enquanto Bush preparava sua insensata aventura no Oriente Médio, Lula representava a esperança e replicava o norte-americano: “Nossa guerra é contra a fome e a miséria”. Sinalizando uma agenda totalmente distinta da nação de Bush, que insistia em jactar-se como única e indiscutível potência global. Mas vieram as sucessivas crises, como a asiática, a mexicana e outras. Dando sinais alarmantes ao modelo financeirizado. Mas seu ápice, materializou-se em 2008, quando a solidez de seu hegemonismo se desmanchou no ar.

Contrário senso, enquanto o bloco Estados Unidos/Europa colapsava economicamente, Brasil, China, Índia e Rússia eram os últimos países afetados pela crise e os primeiros a se movimentar para sair dela.

Portanto, o lugar que um país pode ocupar no mundo é nitidamente determinado por uma dupla orientação: sua política econômica, social e cultural interna e sua condução externa. É claro que o carisma de seus líderes e as funções de sua diplomacia são imprescindíveis.

O acordo firmado por Lula no Oriente Médio é a expressão de nossa força e reconhecimento externo. A missão de paz do presidente tem que ser entendida como mais um capítulo no rearranjo das relações e do poder global.  Pois ocupamos o papel que seguramente foi construído por uma política externa correta, não submissa e multilateral e que tirou neste momento de qualquer possibilidade real de protagonismo aqueles que alguns desejariam que estivessem conduzindo este processo, mas que perderam este lugar no cenário mundial, quais sejam, os países do G5+1 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, China, Rússia + Alemanha).
E é isto que talvez alguns não veem, ou não querem compreender, e chegam ao desespero, sobretudo pela aceitação interna do presidente e o prestígio externo acelerado que galgamos no último período. E para  estes , fica aqui uma metáfora reflexiva, parodiando de forma adaptada uma das mais belas letras de Chico Buarque : “Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só os contra não viram… “.
* Professor, engenheiro e deputado estadual PT/RS


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