Opinião
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14 de maio de 2010
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18:18

A tabela de cabeça entre Pelé e Coutinho no Olímpico

Por
Sul 21
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Foi um jogo pela Taça Brasil, então o torneio que indicava o representante brasileiro à Libertadores

Divino Fonseca

Maior quarto-zagueiro das histórias de Grêmio e Santos, Raul Donazar Calvet (1934-2008) voltou para sua Bagé (RS) quando uma ruptura do tendão-de-aquiles encerrou prematuramente sua carreira, em 1965. Nas rodas de chimarrão, o sempre bem-humorado Calvet gostava de lembrar de uma história que, se não inventou, aumentou bastante – mas que de qualquer forma ilustra bem um dos mais belos lances já vistos em gramados gaúchos, a espetacular tabelinha de cabeça entre Pelé e Coutinho num Grêmio x Santos, em 1963, no Olímpico.

Foi um jogo pela Taça Brasil, então o torneio que indicava o representante brasileiro à Libertadores. Calvet, o camisa 6 do Santos, campeão do mundo, já era considerado o melhor da posição no país. Ele contava que, antes do jogo, chamou seu ex-parceiro de zaga no Grêmio, o grande Aírton Ferreira da Silva, deu-lhe um abraço e o preveniu: “Está vendo aqueles dois negrinhos ali? Te posiciona de modo a não ficar entre eles. Escolhe um ou outro. Tchê, eu hoje estou do outro lado, mas continuo teu amigo”.

Quando aquele encantamento de lance se desenhou – Pelé e Coutinho trocando passes de cabeça, do grande círculo até a meia-lua do Grêmio, num momento em que o Santos já vencia por 3 a 0 – Calvet, sempre segundo ele próprio, gritou lá da defesa: “Sai daí, Aírton, eu te avisei”. E teria ouvido a resposta irada: “Vai pra p…”.

Eu estava na arquibancada naquela noite e, assim como outros 30 mil privilegiados, pude testemunhar que não foi só Aírton, foi meio time do Grêmio que se entreverou, enquanto os dois gênios brincavam de não deixar a bola cair. Quem viu o gol de Falcão na semifinal do Brasileiro de 1976, depois de tabela pelo ar com Escurinho, multiplique por três ou quatro os toques de cabeça.

Não terminou em gol, mas foi uma das mais belas jogadas das tantas que aquela dupla dos sonhos executou. Não ficou registro, mas a versão de Calvet ajuda a reproduzi-la com mais vida no quadrilátero da nossa imaginação. Dificilmente se verá algo igual, mas rememorá-la é uma forma de desejar voltar ao Olímpico, na noite desta quarta-feira, para ver em ação aquelas que são, pelo menos por esses dias, as duas melhores equipes do Brasil.


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