Geral
|
19 de janeiro de 2012
|
12:53

Reforma ministerial fatiada e os desafios do desenvolvimento sustentável

Por
Sul 21
[email protected]

Foi dada a largada para a reforma ministerial do governo Dilma Rousseff. Sem pompa e sem estardalhaço, como é de seu feitio, a presidenta iniciou as mudanças, trocando os ministros da Educação e de Ciência e Tecnologia. Aproveitará o ensejo das eleições municipais e o desejo/projeto de alguns ministros e de seus partidos de disputarem as prefeituras de capitais e trocará peças do seu time ministerial.

Leia Mais:

— Planalto confirma Mercadante ministro da Educação e Raupp na Ciência e Tecnologia

O processo de substituição será fatiado, sendo realizado aos poucos, para não transformar as mudanças em um acontecimento que possa ser caracterizado como uma “refundação” do governo ou como uma “segunda posse” da presidenta. Muito se falou, ao longo do primeiro ano do atual governo, que Dilma teria recebido uma “herança maldita” de Lula: as “peças poderes” de seu ministério. Criou-se a expressão “faxina ministerial”, para marcar as demissões ocorridas em virtude de denúncias de corrupção e/ou “mal feitos” pelos titulares de diversas pastas que, supostamente, teriam sido impostos por Lula e que Dilma estaria expurgando de seu governo.

A intriga, que pretendia opor Dilma a Lula, não vingou, até porque alguns dos ministros substituídos foram levados ao centro do governo pela própria presidenta. O caso mais notório foi o do ex-ministro Antônio Palocci, guindado, inicialmente, à posição de coordenador da campanha presidencial e, depois, à chefia da Casa Civil da Presidência da República, por escolha pessoal, além de política, da presidenta.

Fazendo a reforma ministerial aos pedaços Dilma Rousseff não dará chance para as manifestações dos que buscam motivos para contrapor seu desempenho ao de Luis Inácio Lula da Silva. Sem dúvida que existirão críticas às escolhas e nomeações que ocorrerem, prática salutar e corriqueira em uma democracia, mas elas terão que se ater à competência e/ou à honestidade dos novos ministros, sem alimentar a ilusão de que se inicia um “novo governo”, agora sob o patrocínio exclusivo da titular do cargo.

Aloizio Mercadante e Marco Antônio Raupp, os ministros recém nomeados, têm perfis, aliás, que desautorizam críticas quanto às suas competências e honestidade. Ambos têm passado acadêmico relevante, além de político e sobre eles não pesam (ainda) acusações de terem se valido dos cargos públicos que já ocuparam para se enriquecer ou para beneficiar empresas e/ou apaniguados.

Mercadante assume, agora, um cargo de governo compatível com o peso que já deteve no PT, partido que ajudou a fundar, no qual foi presidente e pelo qual disputou a vice-presidência da República ao lado de Lula. Cotado pela imprensa, desde 1989 e por muitos anos, como o “economista chefe” de um possível governo Lula, Mercadante nunca ocupou cargo de destaque nos executivos petistas. Sua ida para o Ministério da Ciência e Tecnologia, no início do governo Dilma, prenunciava a possibilidade de esta pasta adquirir posição relevante na estratégia governamental, o que não se concretizou, ao menos até agora.

Raupp assume, agora, um ministério pouco valorizado, mas que tem tudo para se transformar na área estratégica fundamental do governo e do desenvolvimento do país. O perfil (quase) restritamente acadêmico do novo ministro, se garante o apoio da comunidade científica não permite que se conclua, entretanto, que a presidenta Dilma esteja disposta a reservar à área de Ciência e Tecnologia o espaço e a atenção que ela merece em um país como o Brasil, ávido por acelerar o seu desenvolvimento.

Educação e a Ciência e Tecnologia são hoje áreas estratégicas em qualquer país que se dedique a criar condições efetivas e sustentáveis para o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida de sua população. Esperemos que a atuação conjunta e combinada de Mercadante e Raupp, aliando o peso político de um e o prestígio acadêmico de outro e, ainda, a atenção da presidenta Dilma Rousseff, possam guindar a formação educacional e a geração de conhecimento à posição de destaque no atual governo.

Outras mudanças ministeriais ocorrerão até o prazo limite para a desincompatibilização de futuros candidatos a prefeito dos cargos executivos que já ocupam. Serão realizadas também sem alarde e sem pompas especiais, já que o governo Dilma Rousseff é um governo de continuidade e que não precisa marcar diferenças com seu antecessor. Que a presidenta aproveite a reforma ministerial em curso, no entanto, para engrossar sua equipe de governo com ministros efetivamente comprometidos com o desenvolvimento sustentável, que constitui, sem dúvida, o grande desafio colocado hoje para o Brasil e para todos os demais países do mundo.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora