Geral
|
21 de janeiro de 2011
|
10:56

Mais complexidade, por favor

Por
Sul 21
[email protected]

O último texto de nosso colunista Marcelo Carneiro da Cunha, A inútil bobagem chavista, foi multiespinafrado pelos leitores do Sul21. Não tiramos a razão de quem não gostou da abordagem. Mesmo dentro do jornal, houve quem não tivesse gostado, mas achamos importante refletir a respeito da reação. A coluna? Nela, o autor aponta uma preguiçosa metralhadora turística contra o mau gosto de algumas coisas da Venezuela chavista, que seriam semelhantes ao velho realismo socialista; também ataca certa paranoia e a ficção ou idealização presente no discurso oficial do país. Tudo dito num tom descompromissado, irônico e pessoal, uma visão de turista.

Talvez os leitores estejam mais familiarizados com a dicotomia imposta pelo PIG: se alguém vai aos Estados Unidos e é de direita, verá apenas as maravilhas da modernidade e do capitalismo; se o viajante é de esquerda e vai à Cuba, falará apenas do sistema de saúde e de outras inequívocas conquistas da Ilha. Seria um exagero esperar uma leitura multifacetada, que admitisse uma maior complexidade, sob pena de acharmos, por exemplo, que o filme Buena Vista Social Club seria um violento libelo que combate o regime cubano, mostrando a pobreza a que foram relegados os músicos do país? No sonho realizado dos músicos de ir aos States para um concerto, tais pessoas veriam somente os cubanos encantados com Nova York, olhando seus prédios com caras deslumbradas. Desculpem, mas é uma visão pobre. Será que, além disso, não é também para sentir orgulho de nossa latinidade presente naquele estilo e naquelas canções? Não é fascinante ver músicos geniais mostrarem-se tão humanos e simples no momento em que o mundo os reconhece? Não dá prazer ver artistas que sobreviveram a um período de esquecimento, o qual pode ser proporcionado tanto por Cuba quanto por um regime capitalista ou pela Viena de Mozart, que acabou pobre e desgraçado apenas porque sua música ficara fora de moda?

Não comparamos a obra de Wenders com a despretensiosa coluna do dia 14 de janeiro de Marcelo Carneiro da Cunha, mas talvez sirva como ilustração, pois alguns leitores estão atribuindo posicionamentos maiores ou segundas intenções onde há apenas liberdade de opinião. O que houve foi a crítica de alguns aspectos da Venezuela que Marcelo – que escreveu elogiadas colunas apoiando a candidata Dilma Rousseff e criticando seus adversários – considera ridículos.

Seria um interessante tema para debate

A extrema virulência de alguns comentários ao post é outro lado da questão. Mesmo que tenhamos nossa própria opinião, sempre nos preocupamos em saber o que pensam nos leitores. Aliás, só jogamos para a torcida. Deste modo, toda crítica é considerada e o Sul21 jamais se fecharia a elas. Porém, quando leitores com pseudônimos ou não passam a chamar o colunista de idiota e imbecil, algo não está correto. Assim como qualquer discurso diz mais de quem fala do que de quem ouve, qualquer agressão diz mais de quem agride do que do agredido. E as ofensas pessoais, assim como os elogios, recebem a efêmera imortalidade do Google. Mesmo com a moderação de comentários, aprovamos quase todos eles, pois respeitamos quem usa seu tempo para escrever em nosso site. Porém, às vezes, nós, os sulvinteumenses, ficamos contrariados.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora