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7 de dezembro de 2012
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16:30

Sul21 recomenda Minha felicidade, Polissia, Nara Amélia e muito mais

Por
Sul 21
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Milton Ribeiro

O final do ano não esmoreceu a movimentação cultural da cidade. Com a calmaria musical e teatral — certamente antevendo o Porto Verão Alegre 2013 — o cinema e as artes plásticas tomaram o comando com bons espetáculos. Destaques para as exposições de Nara Amélia no Santander Cultural e de Giorgio Morandi no Iberê. Nos cinemas, opinamos que Polissia e Minha felicidade sejam as melhores novidades em cartaz.

Todas as sextas-feiras, o Sul21 traz indicações de filmes, peças de teatro, exposições e música para seus leitores. Não se trata de uma programação completa, mas de recomendações dos melhores espetáculos que assistimos. O critério é a qualidade. Se você tiver sugestões sobre o formato e conteúdo de nosso guia, por favor, comente.

Cinema – Estreia

Polissia (****)
(Polisse), de Maïwenn, França, 2011, 127 minutos


Polissia é realmente uma excelente surpresa. A rotina diária dos policiais da Brigada de Proteção de Menores de Paris é prender molestadores de crianças, apanhar pivetes que roubam carteiras, tagarelar sobre os relacionamentos pessoais ao almoço, interrogar pais abusivos, recolher depoimentos de crianças, enfrentar os excessos sexuais de jovens adolescentes, apreciar a solidariedade entre colegas e rir descontroladamente nos momentos inusitados. Como é que se consegue o equilíbrio entre vida pessoal e realidade? Fred, por exemplo, o imprevisível e hipersensível do grupo, vai viver tempos complicados ao viver sob as lentes de um fotógrafo enviado pelo Ministério da Administração Interna para retratar o dia-a-dia da unidade. Um filme excelente drama realizado pela atriz e diretora Maïwenn, baseado em casos reais. Foi o filme vencedor do prêmio do júri, na edição de 2011 do Festival de Cannes.

No Instituto NT, às 13h10 e 20h55

Infância Clandestina (***)
(Infancia Clandestina), de Benjamín Ávila, Argentina, 2011, 112 minutos


Este filme foi selecionado para representar a Argentina na disputa do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Infância Clandestina narra a vida difícil de uma criança cujos pais são militantes Montoneros e vivem na mais rígida clandestinidade durante a ditadura argentina (1976-83). O filme está na linha do excelente Kamchatka, mas tem limitações que seu modelo não possui: aqui, a despolitização pegou mais forte. É o perigo deste gênero de filme. Colocar uma criança como personagem principal de um filme político pode transformá-lo apenas em mais uma história de infância perdida. Tal fato, se não é ruim, parece deixar o filme pela metade, o que não deveria acontecer, em nossa opinião. Ávila escolheu omitir ou estilizar os conflitos armados — os tiroteios e as mortes, quando mostradas, vêm na forma de animações. Ora, esta escolha cria uma separação entre o mundo “real” da criança e o “de brincadeira”. DE qualquer forma, é um bom filme e merece ser conferido. Os atores principais são os uruguaios Natalia Oreiro e Teo Gutiérrez Moreno e o argentino Ernesto Alterio.

No Espaço Itaú 3, às 14h30, 16h50, 19h10 e 21h30
No Guion Center 1, às 14h45, 16h50, 19h e 21h15

Construção (***)
de Carolina Sá, Brasil 2012, 70 minutos


Construção é um documentário sobre a trajetória de dois personagens distantes no tempo. Branca, uma brasileira de três anos, vai a Cuba para conhecer a terra de seu pai em pleno aniversário da Revolução. Seu avô, o arquiteto e escritor Marcos de Vasconcellos, viveu e participou intensamente da política nos anos 60. Branca e Marcos, que nunca se conheceram em vida, encontram-se pela primeira vez na tela do cinema. Através de cartas, imagens de arquivo, casas e memórias, o filme percorre laços familiares. Delicado, pessoal e intransferível. Bonito de ver.

No Espaço Itaú 8, às 19h30

Cinema – Em cartaz

Minha felicidade (****)
(Schastye Moe), de Sergei Loznitsa, Rússia, 2010, 127 minutos


Um retrato pessimista, muito pessimista da Rússia de Putin. O título é inteiramente irônico, claro. Minha felicidade flerta com o documentário ao jogar o caminhoneiro Georgy (Viktor Nemets) numa viagem sem rumo por estradas russas. Ali, ele conhece os habitantes da área rural e a corrupção de um país sem esperanças. Se a derrocada comunista serviu para abrir o país, também descortinou ao mundo as mazelas da sociedade russa. Minha felicidade mostra que nada mudou -– na verdade está sugerida uma grande piora — nos anos “democráticos” da Rússia de Putin.

Na Sala Eduardo Hirtz, às 16h e 20h

007 — Operação Skyfall (***)
(Skyfall), de Sam Mendes, Reino Unido, 2012, 143 minutos


A franquia 007 e seus produtores vão novamente em busca de bilheteria. Não é proibido. Quando vemos 007, não desejamos muitas surpresas. Teremos a espetacular cena inicial, veremos a Inglaterra ameaçada por um grupo cujo principal motivo é o Mal, o agente sofrerá horrores mas terá uma ou mais mulheres perfeitas, acharemos engraçadas as maneiras que ele encontrará para livrar-se dos problemas, haverá sangue, mortes, mas no final vai dar tudo certo e a Rainha dormirá tranquila. E o pior é que gostamos disso há 50 anos! Dia desses foi publicado um estudo sobre os hábitos de James Bond. Ficou comprovado que ele bebe cada vez mais e conquista cada vez menos mulheres. Preocupante.

Preocupante, mas nada que altere o charme da cinquentenária franquia do espião inspirada na obra de Ian Fleming. Este é o terceiro filme estrelado pelo inglês Daniel Craig, que tem contrato assinado para mais duas aventuras.

No Espaço Itaú 8, às 14h10 e 21h10.

Gonzaga – De Pai pra Filho (***)
de Breno Silveira, Brasil, 2012, 120 minutos


O diretor Breno Silveira e seus produtores vão novamente em busca de bilheteria. Não é proibido. O diretor de 2 Filhos de Francisco (sobre uma dupla de cantores) e À Beira do Caminho (sobre músicas de Roberto Carlos) não abandona o terreno musical, mas acerta mais ao centrar foco na conturbada relação entre Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha. A reconciliação entre pai e filho só ocorreu em 1980, depois de anos de mágoas e ressentimentos. Na época, já cantor e compositor consagrado da MPB, Gonzaguinha foi a Exu, cidade natal de Gonzagão, para ajudar o pai, em baixa, a marcar alguns shows. O encontro, a princípio agressivo, tornou-se uma oportunidade para um conhecer melhor o outro. As conversas foram gravadas por Gonzaguinha e serviram de base para o longa. A ideia é a produção de lágrimas e mais lágrimas na plateia. Levar lenço, quem sabe galochas.

No Cineflix João Pessoa 2, às 14h e 21h40
No GNC Praia de Belas 6, às 13h30 e 18h40
Na Sala Paulo Amorim, às 14h15 e 18h15

A Vida de Outra Mulher (****)
(La Vie d`Une Autre), de Sylvie Testud, França, 2012, 97 minutos


A vida de outra mulher foi detestado por parte da crítica, que viu nele uma comédia boba de inspiração norte-americana, ignorando totalmente — talvez tolamente — as metáforas do filme. O enredo é simples. Marie (Juliette Binoche) acaba de conhecer Paul (Mathieu Kassovitz) filho de seu patrão. Eles passam a noite juntos e ela acorda quinze anos mais tarde, sem se lembrar de nada do que aconteceu neste intervalo. A moça de 25 anos que acaba de se apaixonar acorda com 40, casada com o mesmo Paul, mas já em processo de separação. A moça alegre transformou-se numa executiva respeitada e temida. E mãe. E ela passa a entender lentamente o que lhe aconteceu neste 15 anos de embrutecimento. A atuação de Binoche é como sempre estupenda, no que é acompanhada por um ultra ressentido Kassovitz, que acabara de ser chutado pela esposa e não compreende o que ela quer agora.

No Sala Norberto Lubisco, às 19h40.

Tropicália (****)
(Tropicália), de Marcelo Machado, 2012, Brasil, 89 minutos


É um paradoxo. O final dos anos 60 foi uma época de enorme ebulição criativa, justo numa época em que se perdia a liberdade de expressão. Dentro deste contexto nasceu a Tropicália, um dos maiores movimentos artísticos do Brasil. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Arnaldo Baptista, Rita Lee, Tom Zé, entre outros, misturaram desde velhas tradições populares a muitas das novidades artísticas ocorridas pelo mundo e criaram o Tropicalismo. Com depoimentos reveladores, raras imagens de arquivo e embalado pelas mais belas canções do período, Tropicália nos dá um panorama definitivo de um dos mais fascinantes momentos do Brasil.

Na Sala Norberto Lubisco, às 18h

Intocáveis (***)
(Intouchables), de Olivier Nakache e Eric Tolentino, França, 2011, 112 minutos


Este é o filme que teria tudo para cair na pieguice, mas a direção e a dupla de atores segura tão bem a barra de fazerem personagens-clichês que tornam o filme irresistível. Confira se você já não viu algo parecido: Driss (Omar Sy) é um jovem negro, imigrante, pobre, que acaba de sair da prisão, louco para receber um seguro desemprego. Ele responde ao anúncio de uma vaga para cuidador de um homem tetraplégico. Este é muito rico e está cansado de receber cuidados extremos, piedade e solidariedade. Ao conhecer Driss, Philippe (François Cluzet) fica encantado por sua falta de sensibilidade. Ele é o único a tratá-lo de maneira natural, sem pena, além de demonstrar desprezo pela cultura erudita de Philippe. É claro que tudo vai dar certo, claro que o filme é fofo, claro que eles desenvolverão amizade, companheirismo e confiança, claro que o filme bateu todos os recordes de público por onde foi. Porém, é digno.
http://youtu.be/jX_wbQWAZOw
No GNC Moinhos 2, às 16h45
Na Sala Paulo Amorim, às 16h20 e 20h20

Exposições e Artes Plásticas

O Mundo é uma Fábula — Nara Amélia
No Santander Cultural, Sete de Setembro 1028
De terça a sábado, das 10 às 19h. Domingos e feriados, das 13 às 19h
Até 06/01/2013

Vale a visitação. Excelente exposição da gaúcha Nara Amélia. Com ela, o projeto RS Contemporâneo 2012 encerra o ano. O Mundo é uma Fábula reúne obras constituídas por gravuras, desenhos e bordados inéditos ordenados em conjuntos e séries sob a curadoria do paraense Orlando Maneschy. A mostra é a terceira do ano inserida no programa, que tem como objetivo apresentar jovens artistas locais em exposições individuais, estimular a produção cultural e formar o público de artes visuais do Estado do Rio Grande do Sul.

Giorgio Morandi no Brasil
Na Fundação Iberê Camargo, Padre Cacique, 2000
De terça a domingo, das 12 às 19. Quintas, das 12 às 21h
Até 24/02/2013

Com curadoria de Alessia Masi e Lorenza Selleri, a mostra traz cerca de 40 pinturas e 15 gravuras feitas entre o início da carreira do artista, por volta de 1910, até o período que antecedeu a sua morte, em 1964. Organizadas em ordem cronológica, as obras mostram um panorama amplo da produção de Morandi. Os curadores escolheram esta disposição para que os visitantes pudessem se aproximar e compreender o processo criativo e produtivo do artista. Da mais de 50 obras em exibição, quatro nunca foram vistas pelo público brasileiro. O documentário La polvere di Morandi, de Mario Chemello, também faz parte da exibição. Outro destaque da mostra é a presença de sete telas que deveriam ter vindo ao Brasil em 1957, mas que, na época, não puderam desembarcar em terras nacionais. Naquele ano Giorgio Morandi havia selecionado as obras para serem expostas em uma sala especial da Bienal de São Paulo – além de ter sido vencedor do Grande Prêmio São Paulo, ganhando de pintores como Marc Chagall. Mas os empréstimos dos quadros não foram autorizados. Agora, 55 anos mais tarde, não apenas as sete telas estão expostas, mas, ironicamente, exatos 55 trabalhos estão visíveis aos olhos dos visitantes brasileiros. (Fonte: ArtInfo)

Cromomuseu
Mo Margs, Praça da Alfândega, s/n
De terça a domingo, das 10 às 19h
Até 31/03/2013

Cromomuseu apresenta 147 artistas, nacionais e estrangeiros, em 223 obras nacionais e internacionais, canônicas e contemporâneas, que vão do século 19 aos dias de hoje — todas pertencentes ao acervo do MARGS. Segundo o diretor do MARGS, Gaudêncio Fidelis, curador da exposição, Cromomuseu é uma plataforma das mais inovadoras e deve entrar na historia das exposições brasileiras como uma das grandes mostras dos últimos anos. O MARGS está engajado em um intenso programa de produção de conhecimento original que objetiva conduzir o museu para um status de igualdade com seus pares nacionais. Entrada franca.

Como parte da exposição Cromomuseu é exibida na fachada do MARGS a pintura Go Home (1998-2012) do artista Peter Fox:

O “outro” na pintura de Iberê Camargo
Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000)
Até 10/03/2013

O outro na obra de Iberê Camargo apresenta ao público visitante a alteridade na produção do artista gaúcho. Propõe-se uma desconstrução do estereótipo do excesso e da tonalidade sombria que cerca a produção de Iberê, ao mostrar que sob o “caos” pictórico está a ordem construtiva deste processo. Entre os momentos em que  configura-se este outro, a curadora Maria Alice Milliet destaca as vielas de Santa Tereza, os objetos alinhados sobre a mesa, o raio de sol sobre a parede do ateliê. Logo, estes elementos dão lugar à ebulição do pigmento característica. A ideia da duplicidade já habitava os pensamentos de Iberê Camargo. No mês em que faleceu, março de 1994, o artista escreveu o conto “O duplo”, em que narra em primeira pessoa uma perseguição protagonizada pelo  outro.  Assim, ele constatou seu próprio medo em encarar-se: “Falta-me coragem para ver o outro que vive fora de mim”, termina a pequena história. Procurar o não visível na obra de Iberê se torna um desafio proposto pela exposição, que tem como fio condutor as afinidades que o artista desenvolveu durante a vida e que se apresentam em sua produção.  O conjunto contempla 69 obras e é guiado por estas diferentes formas de proximidade. A pintura metafísica de Giorgio de Chirico e a construção geométrica de André Lhote exemplificam estas similaridades, mas foi com a obra de Giorgio Morandi que Iberê estabeleceu um íntimo diálogo. Esta relação afinada se construiu a partir de gravuras e pinturas nas quais Iberê apresentou objetos comuns de maneira solene, valorizando processos pessoais e sensoriais na produção artística.  Apropriar-se de um olhar diferente para a pintura de Iberê é a provocação lançada na exposição. Até 10 de março de 2013, o público terá a chance de exercitar a percepção crítica sobre o trabalho do artista, e desenquadrá-lo dos parâmetros aos quais comumente pode ser associado.

Teatro

Coração Randevu
Na Casa de Teatro de Porto Alegre, Garibaldi, 853
Sexta, sábado e domingo, às 21h
No Museu do Trabalho, na Rua dos Andradas, 230

Com direção de Patrícia Fagundes, a peça Coração Randevu, de Zé Adão Barbosa, entra em cartaz na Casa de Teatro de Porto Alegre. O espetáculo celebra três décadas de Zé Adão sobre os palcos e revive memórias com obras do poeta Fernando Pessoa, incluindo trechos de Passagem das Horas e do Livro do Desassossego. Em cena, peças de roupa, uma cadeira, objetos e malas, além da marcante presença da música, com trilha sonora de Billie Holiday e marchinhas de carnaval. Coração Randevu reúne corpo e palavra, poesia e ação, reflexão e experiência sensível, a memória e o presente.


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