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30 de novembro de 2012
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16:34

Ativistas internacionais pedem adesão do Brasil a boicote comercial a Israel

Por
Sul 21
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Segundo ativista espanhol, boicotes e sanções são “a estratégia que pode fazer com que os direitos dos palestinos passem a ser respeitados” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Rachel Duarte 

Exemplos de ações concretas de desinvestimentos e boicotes comerciais a Israel pelo mundo foram apresentados às nações participantes do segundo dia de conferência no Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), nesta sexta-feira (30), em Porto Alegre. Palestrantes da Espanha, África do Sul e Palestina compartilharam experiências exitosas de mudanças nas relações comerciais com israelenses ao redor do mundo.

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A intenção foi fazer do evento uma plataforma de construção de estratégias de BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) para boicotar acordos de livre comércio com Israel e a comercialização de produtos produzidos em territórios ocupados pelos israelenses. “Esta não é mais uma estratégia. É a estratégia que pode fazer com que os direitos dos palestinos passem a ser respeitados”, defendeu Jorge Sanches, da Rede de Solidariedade Contra a Ocupação Palestina na Espanha.

Segundo ele, após conferência realizada pelos movimentos sociais árabes e europeus, a Espanha passou a adotar algumas medidas em solidariedade ao povo palestino. “Ontem (29), ao menos 15 cidades no estado espanhol fizeram ações contra a entrada dos brinquedos natalinos produzidos pelo estado de Israel. Este é o caminho. Quando identificamos isso a campanha ganha força”, afirmou.

Ele reconhece que alguns movimentos sociais se sentem desconfortáveis em aderir à campanha, devido à relação de dependência  nos recursos governamentais ou vinculações partidárias, mas defende que medidas mínimas na relação comercial são acessíveis a qualquer governo e têm como objetivo garantir direitos e o respeito às leis internacionais. “Nós fizemos a primeira campanha de BDS no estado espanhol e podemos estar abrindo a brecha para outras campanhas de internacionalismo político em solidariedade aos povos árabes”, falou Sanches.

Os ativistas consideram que, frente às violações das leis internacionais perpetradas por Israel, constituídas na ocupação, colonização e o que chamaram de apartheid, os tratados de livre comércio não podem ser cumpridos. “Não queremos apenas documentos, queremos ações de todo o resto do mundo. Isto significa cortar todas as relações com o estado racista de uma vez por todas”, falou Raficf Zeiadeh do Comitê Internacional de BDS.

Ela explicou que desde julho de 2005 o Comitê, que surgiu da iniciativa dos refugiados palestinos, trabalha na promoção de ações que alertem os países ao redor do mundo sobre a questão palestina. Raficf disse que faz parte da terceira geração de palestinos expulsos de suas terras quando da criação do estado de Israel e espera pelo direito de poder voltar para casa. “Israel disse que esqueceríamos quando estivéssemos na terceira geração. Eu

sou esta geração e esta memória é bem viva. Quero poder voltar para casa, tenho este direito”, falou.

Na visão da jovem, o boicote é a única forma de cessar as violações de Israel. “Fizemos várias coisas que deram certo. No meio estudantil instituímos a Semana de Apartheid  que hoje é realizada em 260 universidades no mundo. Tudo que fazemos é patrocinado por nós mesmos, não dependemos de recursos governamentais”, salientou. Raficf contou que os movimentos resultaram no corte de relações de uma universidade em Joanesburgo cortou seus vínculos com uma reconhecida universidade israelense.

“Embargo militar a Israel é fundamental para preservar a vida de outros povos”, diz refugiada palestina

Integrante do Comitê Internacional pelo Boicote à Israel, Raficf Zeiadeh:  “Não queremos apenas documentos, queremos ações do mundo” |  Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A ativista denunciou o acordo comercial entre Brasil e Israel para compra de aparatos tecnológicos militares e alertou para o interesse da empresa militar G4S em ingressar no mercado penitenciário latino-americano por meio do Brasil. “Apelo para que vocês não deixem isso acontecer. O embargo militar a Israel é fundamental para preservar a vida de outros povos utilizados de cobaias para o teste destes equipamentos”, apelou a refugiada palestina.

A campanha global de embargo militar contra Israel pede que sejam desfeitos contratos para compra de armas, equipamentos e serviços militares de todos os tipos, incluindo a compra de veículos, principalmente aviões não-tripulados e sistemas de segurança. Essas exportações, segundo os defensores da medida, sustentam a ocupação e o regime de apartheid que Israel impõe ao povo palestino. Além disso, o comércio militar com Israel alimentaria a indústria bélica dos EUA, que lucra com a escravidão e a morte de milhões de pessoas em todo o mundo.

Já a Campanha Internacional pelo Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel surgiu da união de várias organizações civis palestinas e foi ganhando adeptos em outros países. Segundo Ali Hilal, da Organização Para a Libertação da Palestina (OLP), o Comitê Internacional BDS já é uma referência ao redor do mundo pelo movimento articulado de boicote à Israel. “Temos medidas adotadas pelo Banco Palestino, coalizão com a Turquia e o governo britânico emitiu uma resolução para determinar aos lojistas que compram produtos israelenses que divulguem informações sobre a origem de produção”, disse.

A mesma medida já foi adotada pelo estado da África do Sul, conta a sindicalista sul-africana Suraya Jawoodeen, membro do Congresso dos Sindicatos Sul-africanos (Cosatu). “Há rotulação dos produtos para que as pessoas saibam de onde eles vêm. Mas as relações comerciais internacionais mexem em outros interesses e precisam mais do que a rotulação dos produtos. O mundo não tem que falar que Israel e Palestina têm que ser dois estados. Nós temos é que sensibilizar a comunidade internacional a estabelecer é uma força única de resistência aos genocídios e violações de direitos humanos”, defendeu.


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