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19 de outubro de 2012
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21:50

Cenotécnico segue em impasse e artistas pedem audiência com Tarso

Por
Sul 21
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Cenotécnico segue em impasse e artistas pedem audiência com Tarso
Cenotécnico segue em impasse e artistas pedem audiência com Tarso

Rachel Duarte

Alargamento da Avenida Voluntários da Pátria atingirá Centro Cenotécnico do RS | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Os espetáculos O Mapa e Os Plagiários, em cartaz em Porto Alegre, podem ser os últimos realizados no Centro Cenotécnico do Rio Grande do Sul. O calendário das apresentações segue até o começo de novembro, mês acordado entre as autoridades do estado e município para solucionar o destino do local ameaçado de demolição por uma obra preparatória da Copa do Mundo de 2014. Nesta semana, artistas promoveram a festa “Como era gostoso o meu Cenotécnico”, para marcar o possível fim do tradicional espaço para artistas da capital e interior do estado.

Há três meses, a comunidade artística ficou sabendo por acaso que o Cenotécnico estava na iminência de ser demolido por conta do alargamento da Avenida Voluntários da Pátria, no Centro de Porto Alegre. O trecho onde fica o Centro Cenotécnico corresponde à primeira fase da obra, cujo contrato foi selado pela prefeitura no dia 25 de maio. A licitação foi concluída no dia 18 de janeiro de 2012, mas os artistas só ficaram sabendo que o local seria destruído em junho. Não receberam um aviso da prefeitura, que desapropriará a área, nem do governo do Estado, que é o proprietário do local e foi informado por meio de ofício da necessidade de desapropriação do terreno no começo do processo. O gabinete do prefeito José Fortunati enviou comunicado para o gabinete do governador Tarso Genro no dia 02 de março deste ano, bem como a Secretaria Estadual de Segurança, responsável pela área, que foi informada no mesmo mês da licitação da prefeitura.

Os artistas, porém, foram os últimos a saber das pretensões dos governos com a área e ainda seguem com dificuldades nos esclarecimentos sobre o rumo das negociações. A combinação feita entre Estado e Prefeitura quando o assunto chegou ao conhecimento dos artistas foi que o governo estadual doaria a área atual para realização da obra viária, com a contrapartida do município de R$ 2 milhões para contribuir com a futura reforma do local. As primeiras conversas pactuaram também a manutenção do Cenotécnico no terreno da Avenida Voluntários da Pátria. Para isso, a parte que não será atingida com a obra seria preservada e haveria uma compensação nos fundos do terreno.

Presidente do Sated-RS, Vinícius Cáurio diz que há impasse interno no governo estadual | Foto: Leonardo Contursi/CMPA

O presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio Grande do Sul (Sated-RS), Vinícius Cáurio, diz que com a entidade a combinação foi de preparar um estudo técnico para apontar as necessidades dos artistas na futura reforma. “Fizemos nestes meses, conversando com artistas das cidades que utilizam o espaço”, conta.

Porém, ainda não há definição sobre a aplicação do estudo feito. “Não sabemos se será em áreas sugeridas por nós como ideais ou se manterão no terreno da Secretaria de Segurança. Perguntamos a Secretaria Estadual de Cultura que nos disse que havia um impasse dentro do governo sobre a área que pertence a Segurança. Então, enviamos um protocolo pedindo audiência com o governador. Mas ainda não tivemos retorno”, diz o presidente do Sated-RS.

Pauta ainda não entrou na agenda do governador 

Conforme assessoria de imprensa do gabinete de Tarso Genro, o assunto ainda não chegou à agenda oficial do governador. Já a assessoria da Secretaria Estadual de Segurança falou que “não será possível utilizar o terreno em que hoje está abrigado o Cenoténico porque já existem prédios utilizados pela Secretaria”.

Luiz Antonio de Assis Brasil: “plano A é manter o Centro Cenotécnico onde ele está” | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

O secretário de Cultura, Luiz Antonio de Assis Brasil, por sua vez, garante que o estado não ficará sem o Cenotécnico. Ele confirmou a indisponibilidade de utilização do terreno da Segurança e afirma que “o plano A é manter o Centro Cenotécnico onde ele está”. Para isso, conta com a flexibilização da Prefeitura na alteração da obra que atingiria o local. “Vamos marcar uma audiência com o prefeito Fortunati na próxima semana”, fala. O plano B seria, segundo ele, solicitar junto ao executivo municipal a cedência de área onde funciona os galpões do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP).

A assessora do secretário da Fazenda de Porto Alegre, Maria Alice Michelucci,, que acompanha as negociações, disse que não é alterar o traçado já licitado acarretaria prejuízos junto aos órgãos financiadores da obra e no prazo de entrega. “Não podemos alterar o contrato agora, atingiria outros imóveis do entorno”, diz. Segundo Maria Alice, “independente do que o estado decidir em relação a área para o Cenotécnico, a parte atingida no projeto terá que ser entregue ao município até dezembro”. “A melhor alternativa seria aproveitar o prédio que será preservado e reformar onde está. Foi o que havíamos combinado”, alega.

Autoridades envolvidas na negociação devem se reunir na próxima semana

Uma reunião entre as áreas do governo estadual que estão envolvidas na busca de soluções para o futuro do Centro Cenotécnico deverá ocorrer na próxima semana, o que inclui também a Secretaria Estadual de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã (Seplag). “Estamos discutindo, mas ainda não temos definição. O local onde há os próprios edifícios da Segurança foi considerado pelos técnicos como inadequado, seria como cortar o Cenotécnico ao meio. Vamos encontrar uma solução”, afirma o assessor de gabinete da Seplag, Rafael Prestes.

Aristas lamentam a perda da memória com a demolição do prédio | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Junto com as paredes de concreto que sustentam o prédio que está na iminência de ser demolido, serão destruídas camadas históricas de um espaço de resistência e democracia. Testemunha viva da memória cultural de Porto Alegre, o Centro abriga desde meados dos anos 90 cenários e materiais de diversas companhias, grupos e coletivos culturais da cidade. Uma casa compartilhada por artistas de todas as áreas, utilizada para o desenvolvimento de diversos trabalhos memoráveis.

“Não temos informações sobre o rumo das negociações e ao que sabemos informalmente na segunda quinzena de novembro começa o processo para demolição. Por isso organizamos a temporada de despedida do Cenotécnico. Já tem vários grupos retirando suas coisas de lá e o clima é de despedida total. Nós lamentamos esta decisão, não só pela perda do espaço físico que ainda poderá ser recuperado, mas pela desvalorização da arte e da cultura. Está claro o descaso das autoridades com a memória deste local. Eles pensam que apenas ‘ter um local para o pessoal do teatro’ está bom”, critica a artista Tatiana Vinhais.


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