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1 de agosto de 2012
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18:54

Passista é assassinado e gera ações contra impunidade à homofobia no RS

Por
Sul 21
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Rachel Duarte

Passista da Escola de Samba Apito de Ouro é assassinado em Tapes | Foto: Arquivo pessoal

O passista André Alves, de 22 anos, foi assassinado na noite da última quinta-feira (28) por esfaqueamento. O crime revoltou familiares e a comunidade de Tapes, na Região Metropolitana de Porto Alegre.  O caso é o segundo em menos de três meses com possível motivação homofóbica. Para evitar a impunidade destes casos e enfrentar a violência contra homossexuais no estado, as entidades de direitos LGBT  solicitam nesta quinta-feira (2), às 11 horas,  audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

O pedido será formalizado na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia, presidida pelo deputado estadual Miki Breier (PSB). Além da audiência, no próximo domingo (5), familiares, amigos e a escola de samba do passista assassinado farão caminhada de protesto em Tapes. O ato está marcado para às 16 horas.

O crime contra André ocorreu próximos das 21 horas, na Zona Central da cidade, na Rua João Atalibha Wolff – a chamada Rua dos Engenhos. O passista foi morto no calçadão onde há um ponto de encontro do público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais,Travestis e Transexuais) em Tapes. O irmão da vítima, Sandro Alves acredita que a razão do homicídio foi homofobia. “Ele era gay. Mas sempre foi muito discreto e não se travestia. Sempre foi muito querido por todos na cidade”, fala ao Sul21.

As causas ainda estão sendo apuradas pela Delegacia de Polícia de Tapes. A falta de testemunhas está dificultando as investigações, afirma o delegado Armando Selig. “Só tenho dois depoimentos. Ninguém fala nada. Sabemos que há testemunhas. Outros homossexuais que estavam com ele viram e ainda serão chamados. Tem muita mentira nessa história”, diz o delegado. Segundo Selig, à Brigada Militar uma testemunha chegou a dizer no local do crime que “foi um alemão grande”. “É tudo que sabemos. Até podemos indiciar uma autoria, mas seria muito leviano. Vamos apurar mais provas”, conta.

Comunidade do samba e familiares farão protesto pela morte de André no próximo domingo | Foto: Arquivo pessoal

A obscuridade do caso é comum quando se trata de crime de homofobia, que não é passível de pena pela legislação brasileira. Geralmente, quando a violência é cometida por preconceito devido à orientação sexual da vítima, são utilizados requintes de crueldade . O laudo da perícia ainda não foi emitido, mas o irmão de André Alves diz que ele foi golpeado com duas facadas nas costas, uma no pescoço e tinha sinais de fratura na face. “Ele estava com o nariz quebrado. Ele estava acompanhado de duas travestis na hora. A polícia foi atrás e elas negam que tenham saído de casa aquele dia”, diz Sandro.

Próximo de fechar uma semana do fato, a família do passista contratou advogado com receio de arquivamento do caso. “Ninguém sabe de nada. Não vão perguntar para ninguém sobre o caso. Estamos buscando ajuda de todos os lados para tentar saber o que houve e não deixar cair na impunidade”, fala o irmão da vítima. De acordo com Sandro, há suspeitas de que uma das testemunhas que acompanhava André Alves se tratava de uma travesti filha de uma inspetora de polícia da cidade. “Acho que podem não estar querendo expor o caso”, argumenta.

“O próximo Carnaval será difícil para todos nós”, diz 2º passista

André Alves foi vítima de crime homofóbico em Tapes, Região Metropolitana de Porto Alegre | Foto: Arquivo pessoal

Premiado em todos os concursos que participou e dedicado à escola de samba, André Alves era popular entre os moradores de Tapes. O pai é ex-presidente da agremiação e a irmã e os sobrinhos também são integrantes da Apito de Ouro. “Ele sempre foi um guri dedicado. Do bem. Nunca fez mal para ninguém. Alegre e apaixonado pelo samba e pela escola. Era um ótimo passista”, conta o presidente licenciado da escola Marco Antonio Pilger.

“Foram pessoas que o conheciam que fizeram isso e tentaram ocultar o celular e a jaqueta para tratar como roubo. Se ele não fosse homossexual, provavelmente não estaria naquele lugar”, avalia o sambista.

O segundo passista que dançava no Grupo Show da escola de samba com André Alves, Roger Sutil deixou Tapes há cinco anos para morar em Porto Alegre. “Aqui a minha vida e orientação sexual não interessa para as pessoas. Lá (Tapes), eu dizia para o André, é muito preconceito. Cidade pequena. Eu incentivava ele a vir para Porto Alegre se divertir aqui”, afirma Roger.

A morte de André foi a primeira registrada com tamanha brutalidade em Tapes. Ele era o principal destaque da escola tapense e deixará saudades no próximo Carnaval. “Não sei como será nos próximos ensaios. O carnaval já está quase ai. Todos sentirão a sua falta”, conta o amigo Roger.

“A partir de agora, o samba dele será no plano superior, com tantos outros que já passaram pro lado de lá. Mas sempre estará conosco, inquieto, arrumando aquele cabelo, planejando alguma festa, Dilmara Flores, presidente da Apito de Ouro.

 


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