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13 de julho de 2012
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18:51

Políticas de governo tentam mudar lógica da alta cultura no RS

Por
Sul 21
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Rachel Duarte

A cultura como ação social para além dos palcos e espetáculos. Este é o sentimento dos representantes da área sobre o novo momento do estado do Rio Grande do Sul. Depois de anos de atraso no acesso aos recursos do Plano Nacional de Cultura, a atual gestão do governo gaúcho ampliou o ainda enxuto orçamento da Cultura e abriu editais na ordem de R$ 25 milhões para prefeituras, projetos de livro e leitura, modernização de bibliotecas e novos Pontos de Cultura. Do montante destinado aos editais, R$ 18 milhões são para ampliar o circuito cultural do estado envolvendo periferias e pequenos municípios. Para garantir o desenvolvimento da cultura, descrito pelo governo como uma prioridade de Estado, está sendo encaminhado também um Plano Estadual de Cultura. O projeto de lei está sendo elaborado com os representantes da diversidade artística e será entregue ao governador Tarso Genro até setembro deste ano.

Oficinas do Quilombo do Sopapo garantem inclusão de jovens e cidadania no bairro Cristal em Porto Alegre | Foto: Divulgação

Um dos mais tradicionais pontos de cultura de Porto Alegre, o Quilombo do Sopapo, é um dos que está na disputa dos recursos dos editais para Pontos de Cultura. Com o convênio junto ao Ministério da Cultura encerrado, o coordenador Leandro Artur Anton já se organiza para inscrever o projeto que desenvolve há mais de quatro anos no bairro Cristal. “Os editais para Pontos de Cultura foram fundamentais para nós. Embora esta fosse à política nacional desde a gestão de Gilberto Gil (2003-2008), não era prioridade do governo gaúcho. O estado deve apresentar contrapartidas aos editais e a antiga gestão (Yeda Crusius) alegava problemas orçamentários. Mas outros estados com menor capacidade financeira como do Norte e Nordeste acessavam. A União entra com 2/3 do edital. Agora podemos acessar aquilo nos é de direito”, fala.

O Quilombo do Sopapo realiza por meio da OSCIP Guayí alternativas de produção cultural e audiovisual além de capacitação na área de tecnologia da informação para jovens. Em todo território gaúcho não chega a 100 o número de pontos de cultura que poderiam estar ativos e incentivando ações comunitárias com arte e cidadania. “Em Porto Alegre não se promoveu nem mesmo um edital. Por outro lado, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, que têm uma população menor que a capital, lançaram juntas 15 editais”, compara Leandro Anton.

Quilombo do Sopapo se inscreve para novos editais de pontos de cultura | Foto: Divulgação

O secretário de Estado da Cultura, Luiz Antonio de Assis Brasil, afirma a compreensão da gestão pública no papel de fomentador para a valorização da diversidade cultural do estado. “Nós passamos para R$ 10 milhões o Orçamento da Cultura e buscamos R$ 42 milhões em convênios com o Ministério da Cultura, além dos editais e capacitações em andamento”, fala.

O adjunto Jéferson Assumção fala que a intenção do governo ao apostar na maior fatia para os editais é dar autonomia para os produtores culturais e projetos independentes com cada vez menor dependência da Lei de Incentivo a Cultura (LIC). “Temos os R$ 35 milhões abertos este ano, o que já ultrapassa os R$ 28 milhões que tínhamos por meio da LIC em 2011. Isto nunca existiu no estado”, salienta.

“Cultura tem que ser planejada, assim como Educação e Saúde”, diz secretário

"Convocamos a sociedade a participar ativamente desse processo, independente de partido ou posição", diz Jefferson Assumção | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Outra conquista está sendo a construção coletiva do Plano Estadual de Cultura. A proposta consiste no primeiro planejamento de longo prazo voltado ao desenvolvimento da cultura na história do Rio Grande do Sul. Por dois meses foram percorridos 14 municípios e colhidas sugestões de produtores culturais, representantes das artes visuais, audiovisual, circo, dança, leitura e literatura, museus, música, teatro, memória e patrimônio e culturas populares.

Um encontro na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, encerrou as etapas de discussões presenciais na última quarta-feira (11). Ideias ainda são aceitas por email [email protected] até 27 de julho. “Convocamos a sociedade a participar ativamente desse processo, independente de partido ou posição. Queremos que o Plano Estadual de Cultura seja ponto de união entre diversas tendências ideológicas”, explicou o secretário Assis Brasil. “Uma política se constroi com planejamento. A Cultura precisa ser organizada na gestão pública assim como acontece com Saúde, Educação e Segurança”, complementa o adjunto Jefferson Assumção.

A elaboração da caravana ocorreu por meio do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-RS), para possibilitar a participação da sociedade na elaboração das prioridades para o futuro Plano Estadual de Cultura. “A população recentemente pediu maior apoio à cultura e mais participação da sociedade. Estamos consolidando uma cultura de participação, fundamental para o desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural do Rio Grande do Sul”, afirmou o secretário do CDES-RS, Marcelo Danéris.

Representantes da classe artística sugerem propostas 

Reinaldo Luiz dos Santos faz oficinas junto a moradores de rua que participam do projeto Boca de Rua | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Reinaldo Luiz dos Santos, que realiza oficinas de audiovisual com os moradores de rua do jornal Boca de Rua, defende que seja inserida nas diretrizes do texto-base que será finalizado até setembro a previsão de ampliação orçamentária para a pasta da Cultura. Atualmente, os recursos mesmo dobrados em relação ao governo anterior representam 0,014% do Orçamento Estadual. “Se não fizermos esta garantia no projeto de lei, corremos o risco de não conseguir implementá-lo”, ressalta.

Já a funcionária do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Hilda Gastal reivindica a inclusão de um item ausente no esboço apresentado na última reunião do CDES-RS. “Não está contemplada a preservação e divulgação da biodiversidade. Isso também é cultura”, defende.

O secretário Assis Brasil diz que as reivindicações e indignações de alguns setores fazem parte do processo de construção coletiva e serão acolhidas pela Comissão Técnica que irá sintetizar o texto.

Como é recente no país a compreensão de que a área cultural deve ser planejada estrategicamente a longo prazo, o coordenador do Quilombo do Sopapo comemora a compreensão do governo atual em assumir o papel de fomentador da promoção da cultura popular. “Incluir municípios com menos de 10 mil habitantes, irrigar recursos para organizações não-governamentais e dar visibilidade para a cultura como projeto social é função do estado. Isso é se preocupar com o meio ambiente, com a assistência social e prevenção a violência. Para nós, isto não acontecia até agora por omissão ideológica do estado”, avalia.


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