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26 de junho de 2012
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18:26

Projeto descentraliza patrocínio e incentiva projetos culturais no RS

Por
Sul 21
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Rachel Duarte

Estado e iniciativa privada deram as mãos para descentralizar os recursos da cultura gaúcha. A Secretaria Estadual da Cultura e a empresa de energia elétrica AES Sul lançaram nesta segunda-feira (25) o Prêmio Empreendedor Cultural. Mais do que uma iniciativa de marketing interno ou patrocínio empresarial para o estado ampliar o alcance das políticas públicas, o projeto pretende mudar os princípios da economia criativa. “As ideias selecionadas não serão as melhores para a imagem da empresa, serão as de melhor efetividade nas comunidades”, afirmou o curador do projeto André Martinez.

A iniciativa envolve 120 municípios gaúchos e prevê a distribuição de R$ 400 mil para projetos de música, literatura, artes cênicas (teatro, dança e circo) e artes visuais. “Não teremos discriminação estética ou ideológica na escolha das produções. Hoje temos uma dificuldade em delimitar as coisas na cultura. O gênero literário, por exemplo, é confuso. No bom sentido da palavra. Não sabemos mais o que é romance ou o que é reportagem. O que é um conto ou uma novela. Temos que nos adaptar com esta sadia confusão. O edital deste projeto prevê acolher uma diversidade cultural”, explica o secretário de Cultura, Luiz Antonio de Assis Brasil.

"Este exemplo poderia ser seguido por outros empresários", disse secretário Assis Brasil ao anunciar funcionamento do prêmio | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O Prêmio Empreendedor Cultural teve dois anos de gestação no setor privado. A empresa americana de energia elétrica com sede no Brasil estudava uma forma de descentralizar os patrocínios, com responsabilidade ambiental. “A empresa precisava distribuir melhor os apoios de forma a não restringir os recursos apenas para uma ou outra área da nossa cobertura de serviços. Vemos que o centro cultural do estado é Porto Alegre e a região da serra, com os grandes festivais. O restante, como os municípios da região centro oeste ficavam restritas aos editais do governo”, conta o diretor geral da AES Sul, Antonio Carlos de Oliveira.

“O governo está abdicando dos recursos que viriam para o Tesouro Estadual por meio de incentivos fiscais e a empresa está indicando o destino destes recursos. Este exemplo poderia ser seguido por outros empresários”, cobrou o secretário de Cultura, Assis Brasil.

A realização do prêmio é da produtora Cida Cultural e envolve as prefeituras municipais, entidades e lideranças comunitárias. Serão promovidos quatro seminários de formação para expandir o novo conceito aos produtores culturais locais. A intenção é fazer do processo, um aprendizado comunitário de ecologia cultural, transversalidade e colaboração. “Eles podem não atingir resultados, mas terão vivido um aprendizado sobre o que leva a resultados. Temos que dar sentido aos produtos culturais que são desenvolvidos. É possível contemplar as obras, mas os sentidos das produções devem envolver a comunidade ao redor e preservar o meio ambiente”, fala o curador André Martinez.

“Mudar a relação dos produtores, governo e empresários sobre o patrocínio cultural”, define curador do projeto

André Martinez qualifica prêmio como "literalmente inovador" | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Martinez é pesquisador e consultor em tecnologia sociocultural e design sustentável de políticas e empreendimentos culturais. Ele esteve recentemente na Rio +20, onde contribuiu com a agenda da ONU e do governo brasileiro nos ‘Diálogos Brasil – União Europeia’ e falou sobre o papel da cultura em projetos de cidades sustentáveis. Segundo ele, o Prêmio Empreendedor Cultural é literalmente inovador. “Estimula a cooperação entre produtores culturais, governo e setor privado com efeitos comunitários e públicos. A mudança na relação do patrocínio é outro ponto importante. Tem produtoras que gastam milhões de reais e enriquecem com a ótica de marketing cultural agressiva de algumas empresas que não se importam com os impactos públicos, apesar de muitas vezes contarem com recursos públicos”, compara.

A inversão da lógica agressiva e violenta na economia pode ser influenciada com o projeto criado no Rio Grande do Sul, acredita o pesquisador. “O maior conflito do mundo atual no que se refere a sustentabilidade e inovação é o pensamento cartesiano sobre a economia. Não temos nenhuma agenda pública para a poluição simbólica, que é o descontrole total que afeta a forma com que a gente pensa. Jovens ficam submetidos à publicidade. Outros sujeitos ficam â mercê da indústria da fé. Temos que conseguir com este projeto uma expansão deste pensamento econômico por uma visão ecológica que inclui a cultura como parte destes ecossistemas”, afirma.

Inscrições e critérios

As inscrições estarão abertas de 03 de julho até 03 de setembro de 2012 através do portal www.empreendedorcultural.com.br. Na página serão disponibilizados o regulamento, cronograma, formulário de inscrição e as atualizações do processo. Poderão se inscrever todos os produtores culturais com cadastro habilitado no Sistema Pró-Cultura RS, pessoas jurídicas da sociedade civil organizada, de 120 municípios do Rio Grande do Sul.

Os projetos serão analisados e selecionados por especialistas, a partir da relevância cultural e artística. Serão priorizadas as propostas que gerarem benefícios e oportunidades a comunidades. Os contemplados serão divulgados em dezembro e receberão recursos entre R$ 15 mil (quinze mil reais) e R$ 40 mil (quarenta mil reais).

Municípios de Lajeado, Santa Maria, Canoas e Uruguaiana receberão seminários de lançamento do Prêmio Empreendedor Cultural | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Durante a primeira quinzena do mês de julho serão realizados quatro seminários de lançamento, nas cidades de Lajeado, Santa Maria, Canoas e Uruguaiana, onde os produtores culturais poderão conhecer o funcionamento do Prêmio, desde a sua concepção até as questões técnicas de regulamentação e inscrições.

“Nosso papel é encorajar aquele pequeno produtor cultural da periferia que tem um coral, por exemplo. Que ele perceba que lá ele ensina a comunidade a ter orgulho de si, aprender novos valores. Não serão efeitos transformadores de grande expressão que serão percebidos, são pequenos valores”, define o curador André Martinez.


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