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26 de junho de 2012
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22:22

Posição da ADUFRGS gera dúvida sobre adesão à greve na UFRGS

Por
Sul 21
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Charles Florczak Almeida
Assembleia do núcleo gaúcho do ANDES ocorreu na última segunda-feira (25) | Foto: Charles Florczak Almeida

Rachel Duarte 

Desde 2001 distante das greves nacionais, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) entrará em greve de professores a partir da próxima sexta-feira (29). A decisão foi tomada em assembleia geral convocada pelo núcleo gaúcho do Sindicato Nacional Dos Docentes Das Instituições De Ensino Superior (ANDES-SN), uma das entidades que responde pela categoria no estado. O sindicato representa cerca de 200 dos 1,5 mil docentes da UFRGS e prevê que a adesão de professores irá crescer ao longo da semana. Uma Comissão de Mobilização trabalha para sensibilizar os descontentes com os salários, carreiras e condições de trabalho. Já o Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre (ADUFRGS) não deve se posicionar sobre a greve antes do dia 2 de julho, quando ocorre a assembleia geral da entidade. No momento, a entidade nacional aprovou a greve, mas pode ter um revés caso a entidade municipal não dê aval à suspensão das atividades.

A ADUFRGS enviou nesta terça-feira (26) um grupo à Brasília para articulações políticas que influenciem em uma nova negociação com o governo federal. Por sua vez, a reunião entre o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça e os dirigentes do ANDES-SN foi mais uma vez adiada no último dia 19. Desde agosto de 2010 a categoria aguarda por uma audiência com o governo Dilma Rousseff para tratar da antiga pauta de reivindicações. “Suspenderam em função da Rio+20. Mas em outras oportunidades o governo não apareceu sem dar justificativa, chegou atrasado, não trouxe definições para a categoria. Parece que qualquer coisa é mais importante que os servidores da educação”, cobra a dirigente do ANDES, Laura Fonseca.

As principais reivindicações dos grevistas são incorporação das gratificações ao vencimento salarial básico; plano de carreira de 13 níveis; piso salarial de R$ 2.329,95 para jornada de trabalho de 20hs semanais, com recomposição calculada pelo DIEESE; e recomposição salarial emergencial de 22,08%, referentes a perdas acumuladas desde 2010. “Queremos a incorporação das gratificações, o que acontece com todos os demais servidores federais desde o governo FHC (Fernando Henrique Cardoso). Nosso plano de carreira é o mesmo desde 1987 e precisamos adequá-los. Ainda, reivindicamos melhores condições de trabalho. Tem os que são contrários à greve sob qualquer circunstância, mas tem muitos professores indignados com tudo isso”, explica Laura.

Professora da UFRGS, ela não consegue prever o volume da greve a partir de sexta-feira, mas acredita na importância da paralisação que já mobiliza 55 universidades federais brasileiras. “Faz muito tempo que a UFRGS não entra em greve ou discute greves nacionais. E vivemos uma renovação na docência, hoje tomada pelo produtivismo. A nossa avaliação é por produtos, ou seja, participações, publicações. Isto dá um ritmo acelerado ao nosso trabalho. Fica bem difícil estimar quantos professores vão fazer greve”, avalia.

Para o professor Carlos Alberto, também integrante do ANDES-SN, a parcela que deflagrou a greve na assembleia não é relativa ao número de adeptos à paralisação. “A lei diz que tem que ser decidido por assembleia presencial. Foi o que fizemos. Agora, incentivamos os professores a poder entrar na greve. Esse número poderá ser muito maior”, explicou.

Divulgação
Faculdade de Educação da UFRGS é uma das unidades que deve parar na próxima sexta-feira | Foto: Divulgação

Faced, Instituto de Psicologia e Colégio de Aplicação são as principais adesões

Segundo ele, alguns professores poderão adotar como greve a retenção de conceitos. “Como estamos em final de semestre, alguns sugeriram não subir os conceitos dos alunos para o sistema da universidade, mas não deixar de dar aula e aplicar provas”, exemplifica.

Na estimativa do ANDES –SN, ao menos três unidades estão mobilizadas para parar a partir de sexta-feira: a Faculdade de  Educação, o Colégio de Aplicação e o Instituto de Psicologia. “Tem algumas unidades completamente desmobilizadas também, como a Enfermagem. Mas o Comando de Mobilização está trabalhando nisso intensamente”, fala.

Nos cursos de Pós-Graduação, a Comissão de Ética do sindicato fará avaliação dos casos que possam trazer prejuízos irreversíveis. “Os laboratórios seguem funcionando, até porque tem animais e tudo mais. O que para são as defesas de teses. Exceto casos de alunos que precisam da tese, pois vão prestar concurso público”, ilustra.

“Será muito barulho para pouco resultado”, prevê ADUFRGS

A assembleia que decidiu pela greve foi considerada resultado de um grupo minoritário dentro da UFRGS, na visão da diretora da ADUFRGS, Maria Luiza Von Holleben. “É uma minoria que ficou insatisfeita com a autonomia do nosso sindicato em se desvinculara do sindicato nacional (ANDES-SN)”, falou sobre uma divisão dos sindicalistas em 2008.

De acordo com Maria Luiza, o conselho diretivo da ADUFRGS decidiu aguardar pelo resultado da negociação com o governo federal para tomar partido pela greve ou não. “Ouvimos 1080 professores que se posicionaram a favor de aguardar. Mas não somos contra a greve. Estamos em estado de greve, apenas aguardando o resultado da conversa com o governo”, salientou.

Na avaliação de Maria Luiza, a greve deflagrada pelo ANDES-SN não irá afetar o cotidiano da universidade de forma significativa. “É muito barulho para pouco resultado”, criticou sobre a postura do sindicato nacional.

ANDES coordena greve nacional e aprovou suspensão das atividades no RS; ADUFRGS é municipal, mas conta com mais filiados e ainda não decidiu sobre adesão | Foto: Andes.org.br

“A ADUFRGS é uma entidade de gabinete”, acusa ANDES-SN

Para o professor Carlos Alberto, ligado ao ANDES-SN, há divergências políticas e uma disputa entre os sindicatos no RS. “A ADUFRGS é ligada a PROIFES (Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior), que é constituída por filiados ao PT. A ADUFRGS surgiu em 2008 e nunca realizou uma assembleia. É uma entidade de gabinete”, acusa.

Segundo ele, as convicções políticas estariam interferindo no processo de decisão sobre a greve. Na última sexta-feira (22), em plenária do ANDES-SN, surgiram informações sobre uma possível indução da enquete eletrônica que consultou os professores sobre a disposição em aderir à greve nacional. “O professor Eduardo Rolim, que colaborou com a construção da enquete, admitiu que a pesquisa foi mal feita e induziu os professores “, fala.

A professora Laura Fonseca, também ligada ao ANDES-SN, diz que a disputa entre os sindicatos ainda é reflexo do processo de divisão dos grupos em 2008 e também crítica o processo de consulta eletrônica. “Tiveram questões falsas e uma assertiva anterior às perguntas que dirigiu as respostas. Foi uma consulta induzida”, disse.

A diretora da ADUFRGS defende que resultado da pesquisa foi reflexo do desejo da maioria. “Foram 199 votos favoráveis pela greve imediatamente, o que significa apenas cerca de 20% do total. Foi algo menor do que o percentual que representa este grupo que declarou a greve. Estamos vivendo aquela questão paradoxal entre fazer greve e faltar serviço. Mas quem não trabalhar acredito que não será penalizado”, afirma.


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