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4 de junho de 2012
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15:00

O mensageiro da fé: Dom Dadeus Grings fala sobre a família e o judiciário

Por
Sul 21
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Fernando de Oliveira
Diário Regional

Líder da arquidiocese de Porto Alegre desde de fevereiro de 2001, o Arcebispo Dom Dadeus Grings é uma das personalidades mais importantes e influentes da Igreja Católica no Brasil.

Nascido em Nova Petrópolis, em 7 de setembro de 1936, fez seus estudos seminarísticos em Gravataí e depois partiu para Roma, onde se doutorou em Direito Canônico pela Universidade Gregoriana e foi ordenado sacerdote no dia 23 de dezembro de 1961.

Autor de dezenas de livros, Dom Dadeus Grings, 75 anos, concedeu esta entrevista dias atrás, em seu elegante escritório, no imponente e histórico prédio da Cúria Metropolitana, em Porto Alegre.

DR – Recentemente o Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tomou a decisão de manter suas repartições públicas sem crucifixos. O que o senhor diz sobre isso?

Dom Dadeus Grings – O objetivo do Judiciário é atingir a Igreja. Mas isso não nos atinge, porque a relação entre a Igreja e o Estado está determinada por um acordo. Com essa decisão, o Judiciário cortou sua última ligação com a sociedade brasileira, que é profundamente cristã (mais de 90% dos brasileiros são cristãos). E a sociedade como um todo aprecia muito os símbolos religiosos, como o crucifixo.

DR – O senhor diria que o Judiciário ignorou a sociedade?

Dom Dadeus – Sim. O Judiciário se considera um ente à parte. Pensam que são superiores e únicos. Com essa atitude eles também terminaram com toda a questão da verdade. Em vez da benção, o Judiciário busca a maldição. Trata-se na verdade de um faniquito anticlerical.

DR – O senhor espera uma manifestação mais ativa da sociedade gaúcha em relação a essa decisão de alguns magistrados?

Dom Dadeus – Ela já reagiu, mas o Judiciário não dá nenhuma importância. Dentro do próprio Judiciário já houve reação, porque existem muitos juízes católicos para os quais doeu essa sentença. O pior de tudo é que os magistrados acolheram, perante uma larga maioria de cristãos, a opinião de um grupo muito pequeno de lésbicas.

DR – Qual sua impressão sobre a família como instituição hoje, numa época em que vivemos uma crise de valores morais?

Dom Dadeus – O Papa Bento XVI falou, quando esteve no Brasil, que a família é um patrimônio da humanidade e nós temos que preservá-la. Realmente, hoje passamos por um momento em que a família não é valorizada. Além disso, o Governo não tem apoiado a família. Agora, o Estado faz tudo que pode contra a família. Com a autorização do casamento homossexual e do aborto, o Estado contribuiu para eliminá-la por dentro. Então, a única instituição que defende a família é a Igreja. Mas se na sociedade ela está passando por uma crise, eu tenho a esperança de que seja passageira, porque é uma crise humana.

DR – Essa crise da família se deve ao estado caótico do sistema de ensino no País?

Dom Dadeus – Também. Mas é todo um conjunto de coisas.

DR – O que o senhor pensa sobre programas do Governo Federal como Bolsa Família e Brasil Carinhoso, por exemplo?

Dom Dadeus – Tudo que vem para resolver o problema da miséria e da fome é bem-vindo. É claro que deve ser uma coisa passageira, porque há um momento em que se deve promover a pessoa. A pobreza não se muda somente pela caridade. Então, devem ser criadas novas estruturas sociais, que incentivem, sobretudo, a educação, a fim de se criar um ambiente em que as pessoas possam conviver de forma mais harmoniosa.

DR – O Brasil vai sediar a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. É o momento para o País construir novas estruturas sociais que visem tornar as pessoas mais harmoniosas, como o senhor disse?

Dom Dadeus – Junto de tudo isso, nós temos a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013, cujo objetivo é justamente conclamar os jovens para que eles reformem a sociedade a partir dos grandes valores e da fé. Também devemos ser acolhedores nesta Copa, de modo que o Brasil sirva de modelo para o mundo. Temos que dar mais valor à vida humana do que às coisas.

DR – Qual deve ser a atitude da Igreja diante de crises de moralidade no mundo?

Dom Dadeus – A missão da Igreja é disseminar a fé pelo mundo, porque ela traz muita alegria. Então nós lançamos este desafio: sermos as pessoas mais felizes do mundo.

DR – Como analisa a proliferação de igrejas pentecostais, cujo método de trabalhar a palavra de Deus é um tanto duvidoso?

Dom Dadeus – Noto que a fase de crescimento dessas igrejas parou e que já existem muitas pessoas retornando para a Igreja Católica. Quando eu trabalhei em São Paulo, fizemos uma pesquisa lá sobre a perseverança. Constatamos que os católicos são dez vezes mais fiéis a sua fé do que os crentes, porque estes pulam de um lado para o outro. Os crentes, que somam apenas 25% no Brasil, vão para o lado que oferece mais e, como eu disse, muitos estão voltando porque não encontraram do outro lado a mesma seriedade da Igreja Católica. Uma pesquisa feita neste ano revelou que a Igreja Católica cresce por dia no mundo 37 mil fiéis. Isso é fruto de nosso trabalho missionário.

DR – Como o senhor quer ser lembrado?

Dom Dadeus – A lembrança que fica é da fé. Existe uma realidade maior diante de nós e nós queremos testemunhar a fé. A finalidade da nossa vida é não somente viver a fé como pregá-la, anunciar aos outros uma boa nova. Então, toda a minha vida está dedicada a isso.


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