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28 de junho de 2012
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09:00

Câmara discute nesta quinta projeto que permite “cura gay”

Por
Sul 21
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Câmara discute nesta quinta projeto que permite “cura gay”
Câmara discute nesta quinta projeto que permite “cura gay”
Beraldo Leal
Projeto elimina proibição de psicólogos proporem cura a homossexuais | Foto: Beraldo Leal

Samir Oliveira

Nesta quinta-feira (28), dia internacional do orgulho gay, a Câmara dos Deputados discute um projeto que, se for aprovado, permitirá que psicólogos brasileiros proponham a “cura” de homossexuais. A medida é defendida por integrantes da bancada evangélica e contraria as convenções nacionais e internacionais sobre o tema, como a resolução da Organização Mundial da Saúde, que em 1990 retirou o a homossexualidade da lista internacional de doenças.

O projeto de decreto legislativo (PDL) 234/11 é de autoria do deputado federal João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica e pastor da igreja Assembleia de Deus. A proposta suspende os dispositivos da resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que determinam que “os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade” e que “os psicólogos não se pronunciarão nem participarão de pronunciamentos públicos nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica”.

Uma audiência pública debate o projeto nesta quinta-feira na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. O ato foi convocado pelo deputado federal Roberto de Lucena (PV-SP), relator do PDL 234/11 e líder nacional da igreja “O Brasil para Cristo”.

O Conselho Federal de Psicologia não irá participar da reunião por considerá-la antidemocráica, já que as quatro autoridades da sociedade civil presentes, de acordo com o CFP, são abertamente favoráveis à “cura” dos homossexuais. Uma das convidadas do deputado para participar da audiência é a psicóloga evangélica Marisa Lobo, que mantém o site Psicologia Cristã e defende abertamente a possibilidade de se “converter” uma pessoa à heterossexualidade.

“A resolução do conselho é discriminatória”, diz presidente da Frente Parlamentar Evangélica

Deputado evangélico João Campos é o autor da proposta | Foto: Leonardo Prado/Ag.Câmara

Autor do PDL 234/11, João Campos diz que a resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia é “discriminatória”, já que, na visão do deputado, proíbe que psicólogos ofereçam tratamento de “cura” a homossexuais que desejarem esse tipo de terapia. “A resolução é discriminatória. O profissional deve ter liberdade para atender a todos”, entende.

Na opinião do tucano, não cabe ao CFP regular o tema, pois se trata de “um direito humano fundamental”. “Houve uma invasão das competências do Congresso pelo Conselho Federal de Psicologia”, observa.

Questionado pela reportagem do Sul21 sobre sua posição a respeito da possibilidade de se “curar” um homossexual, o deputado desconversou: “Amigo, não estou fazendo essa discussão”, disse.

Ele assegura que, caso seu projeto seja aprovado no plenário, a resolução do CFP cairá e, portanto, caberá ao Congresso editar uma nova norma – que poderá resultar ou não na permissão de oferta de tratamentos de cura a homossexuais.

“Não tem cabimento dizer que homossexuais precisam ser curados”, critica presidente do Conselho Federal de Psicologia

O presidente do Conselho Federal de Psicologia, Humberto Verona, baseia sua crítica ao PDL 234/11 em dois pontos: o jurídico e o conceitual. Juridicamente, ele alega que não cabe ao Congresso Nacional editar um decreto legislativo para interferir em uma resolução do CFP.

“É um recurso que o Legislativo utiliza para controlar excessos do Executivo. Somos uma autarquia especial, não temos ligação com o governo”, explica.

Humberto Verona diz que entidades ligadas à área da saúde no mundo inteiro não tratam homossexuais como doentes e que “não há cabimento ou justificativa” para oferecer tratamento de cura a gays. “Afirmamos com muita clareza que dentro da nossa ciência não há nenhum cabimento ou justificativa em dizer que pessoas de orientação homoafetiva precisam ser curadas”, assegura.

Humberto Verona diz que não tem cabimento falar em cura a homossexuais | Foto: Valter Campanato/ABr

Para ele, o projeto do deputado evangélico representa “um discurso ideológico ligado a um certo tipo de pensamento de ordem moral”.

Para o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, o PDL 234/11 é “um acinte à cidadania”. “Sugerimos que o deputado João Campos procure o que fazer. Ele está procurando chifre em cabeça de cavalo”, critica.

O militante diz que o projeto “incentiva o preconceito” e “não tem pé nem cabeça”. “Vão querer curar canhotos também, que eram considerados endemoniados antigamente?”, compara.


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