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28 de março de 2012
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11:00

Superlotado e sem salas adequadas, Instituto de Artes da Ufrgs clama por novo lar

Por
Sul 21
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Prédio inaugurado em 1908 já não possui a quantidade necessária de salas específicas para aulas de artes e música | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

Há pelo menos 13 anos o Instituto de Artes da Ufrgs espera receber uma nova casa. O centenário prédio de oito andares na rua Senhor dos Passos, no Centro de Porto Alegre, já não suporta mais os cerca de 800 alunos dos cursos de Artes Visuais, História da Arte e Música – sem falar nos estudantes de Teatro, que também enfrentam dificuldades no edifício da rua General Vitorino.

Pelas especificidades das aulas oferecidas, não basta apenas uma sala com mesas, cadeiras e um quadro negro aos estudantes do IA. As salas precisam ser grandes para comportar o número de alunos e o tipo de trabalho que eles desenvolvem – desde pinturas e ensaios com instrumentos até esculturas e trabalhos com cerâmica.

Um quadro pendurado no oitavo andar do prédio, onde funciona o Centro Acadêmico Tasso Corrêa, dos cursos de Artes Visuais e História da Arte, demonstra há quanto tempo os problemas vêm se arrastando sem serem resolvidos pelos diversos reitores que comandaram a universidade. “Não poderia ter lugar melhor para instalar o Instituto de Artes da Ufrgs”, exibe o painel, datado de 1999, quando a universidade completou 65 anos. Ele faz referência a uma mudança imediata, que não aconteceu, para o ex-prédio da Faculdade de Medicina, em frente ao viaduto da avenida João Pessoa. O problema é que o edifício também é muito antigo e precisa ser reformado e desocupado. Atualmente, é lá que funciona o Instituto de Ciências Básicas da Saúde, com o curso de Biomedicina.

Propaganda da mudança do IA para o prédio da antiga Faculdade de Medicina já era feita em 1999 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

No papel, está previsto que os biomédicos sejam remanejados para o Campus da Saúde, junto com outras áreas afins, e o prédio seja restaurado para receber o IA.  Entretanto, a Ufrgs não informa quando isso poderá acontecer.

Contatada pelo Sul21, a universidade não quis conversar com a reportagem, apenas emitiu uma posição oficial através de sua assessoria de imprensa. A assessoria informa que a Ufrgs está angariando verbas, através do programa de restauração do patrimônio histórico, para reformar o antigo prédio da Medicina. “Quando houver recursos suficientes o prédio será reformado e o IA será transferido”, garante a universidade.

A assessoria de imprensa reconhece que “não há previsão” de data para que as mudanças ocorram, pois ainda é necessário “ter um volume significativo de recursos”. No momento o prédio que está sendo restaurado é o da antiga Faculdade de Engenharia e o próximo deve ser o da Medicina. A universidade também não soube dizer o que seria feito com o atual edifício do Instituto de Artes.

“O Instituto de Artes é uma unidade isolada”, critica integrante do Centro Acadêmico

Marina Jerusalinsky lamenta que IA não seja uma prioridade na hierarquia dos cursos da Ufrgs | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Uma das coordenadoras da chapa que assumirá o comando do Centro Acadêmico Tasso Corrêa (CATC – que reúne os cursos de Artes Visuais e História da Arte), Marina Jerusalinsky, aponta inúmeras deficiências estruturais e de equipamentos no Instituto de Artes da Ufrgs. Somente neste semestre – que começou no início do mês – o prédio já foi interditado duas vezes: após o temporal do dia 14, quando boa parte da cidade ficou alagada, juntamente com o IA, e na semana passada, devido a uma falha na rede elétrica do edifício inaugurado em 1908. Além disso, o bar que funcionava no oitavo andar não está mais no prédio.

Marina, que ingressou no bacharelado  em Artes Visuais em 2008, reclama que as salas são pequenas para a quantidade de alunos e que aulas já foram suspensas por falta de equipamentos. “Temos que acomodar 20 pessoas numa sala de pintura com capacidade para dez alunos. Nosso trabalho é limitado pelo espaço”, lamenta.

Ela conta que uma vez uma professora precisou cancelar uma aula porque não havia projetor  de data-show disponível para exibir as figuras artísticas. Além disso, a biblioteca do IA não pode mais receber nenhum livro, já está superlotada e sem condições de comportar novas obras.

Caixa de energia com fiação à mostra foi pintada pelos alunos do Instituto de Artes | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“O Instituto de Artes é uma unidade isolada. Tem alunos da Ufrgs que nem sabem que esse prédio faz parte da universidade. Existem cursos que são mais valorizados, essa é a hierarquia que queremos mostrar”, comenta Marina. Ela acredita que o ideal seria que todos os cursos do IA pudessem ficar num único prédio, assim como ocorre com a maioria das unidades acadêmicas da Ufrgs.

Mesmo com todas as deficiências, os alunos do Instituto de Artes, municiados com o talento e a técnica aperfeiçoadas a cada dia, abusam da criatividade para transformar o local num ambiente mais agradável à convivência e ao estudo. Num dos andares, por exemplo, uma caixa de energia com a fiação exposta foi transformada em obra de arte.

“O prédio está esgotado”, lamenta professor

Professor do Departamento de Música desde os anos 1990, Augusto Maurer – primeiro clarinetista da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) – reconhece que as dificuldades enfrentadas pelos alunos e professores do Instituto de Artes da Ufrgs são históricas e se agravam na medida em que o número de estudantes aumenta. “Os cursos já não cabem mais nas instalações físicas. São poucas as salas de música em formato de auditório, que reúnem condições de trabalho adequadas para a área”, conta, acrescentando que “existe uma grande disputa entre as disciplinas pelas poucas salas disponíveis”.

Armários velhos também são personalizados no IA | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O professor acredita que o prédio da antiga Faculdade de Medicina é adequado para o ensino de música. “O formato de anfiteatro de suas salas nos serviria muito bem”, opina. Augusto Maurer entende que as atuais dependências do IA já não podem mais suportar as atividades do instituto. “O prédio está esgotado”, lamenta.

As deficiências do Instituto de Artes da Ufrgs já foram até registradas em música pela histórica banda Almôndegas, cujos integrantes passaram pelas salas do IA e eternizaram alguns problemas na canção Elevador. “Esse elevador não vai além do sétimo / e eu canto para me consolar / (…) / Eu não… / Nesse elevador não ponho o pé, eu não”, diz a letra.

Música do grupo Almôndegas sobre os elevadores do IA.

“É necessário que as artes tenham um prédio unificado”, reivindica aluna de teatro

O Instituto de Artes da Ufrgs está fragmentado pelo Centro de Porto Alegre. O próprio mapa exposto do site do IA informa endereços errados e dá ideia da dispersão de suas unidades. Enquanto os cursos de História da Arte, Música e Artes Visuais ocorrem na rua Senhor dos Passos, no número 248 – e não 13.201, como informa o site do instituto -, o Departamento de Arte Dramática localiza-se na rua General Vitorino, próximo do curso de pós-graduação em Música. A demanda por uma unidade onde todos os cursos estejam sob o mesmo teto é quase consensual entre os alunos do IA, embora ainda haja o desejo de que as atuais dependências sejam reformadas e voltadas para as artes.

Num dos andares, ar-condicionado antigo fica jogado no chão | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A secretária-geral do Centro Acadêmico Dionísio, do curso de Teatro, Laura Lima, também relata problemas nas suas dependências de estudo. “Tempos pouco espaço para desenvolvermos nossos trabalhos. Uma das maiores salas não comporta 50 pessoas em movimento constante, como seria o ideal”, observa.

Ela conta que há problemas de parquês descolados que já machucaram alunos e inundações que quase impediram a realização de espetáculos. “Já entrou água na sala de teatro e um espetáculo quase teve que ser cancelado por problemas na iluminação”, relata.

Laura também defende uma unidade que agregue todos os cursos do IA, mas acredita que as atuais estruturas precisam ser valorizadas. “É necessário que as artes realmente tenham um prédio unificado. Mas também gostaríamos de continuar utilizando o atual espaço. Os únicos edifícios com estrutura para um curso de teatro é o que nós estamos atualmente e o antigo prédio da Medicina”, avalia.


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