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10 de janeiro de 2012
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08:30

Repressão é marca de protestos contra aumento da passagem em Teresina

Por
Sul 21
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Repressão é marca de protestos contra aumento da passagem em Teresina
Repressão é marca de protestos contra aumento da passagem em Teresina
Breno Cavalcante/Especial/Sul21

Samir Oliveira

A capital do Piauí, Teresina, assistiu nesta segunda-feira (9) ao sexto dia de manifestações populares contra o aumento na tarifa de ônibus da cidade. Estudantes protestam desde o dia 2 contra a elevação de R$ 1,90 para R$ 2,10, decretada pelo prefeito Elmano Férrer (PTB).

As manifestações chegaram ao ápice no final da semana passada, quando contaram com cerca de três mil pessoas nas ruas. O cenário é parecido com o de setembro do ano passado, quando estudantes foram às ruas contra o mesmo aumento para R$ 2,10.

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Na época, pressionado pelas mobilizações, o prefeito voltou atrás, revogou o reajuste e criou uma comissão formada por diversas entidades para auditar os cálculos utilizados para estabelecer o aumento. O estudo atestou que o valor era compatível com a elevação do preço dos insumos sofridos pelas empresas do setor de transportes e Elmano Férrer decidiu autorizar novamente o reajuste no primeiro dia deste ano.

O prefeito aproveitou para conceder o reajuste junto com a chamada integração, que faz com que, na segunda viagem em até 1h ou 1h30min, o cidadão pague metade do valor da passagem, no caso, R$ 1,05.

Breno Cavalcante/Especial/Sul21

Os manifestantes esperam que, assim como ocorreu no ano passado, o prefeito Elmano Férrer desfaça o aumento concedido às empresas que cuidam do transporte público de Teresina. “Estamos mobilizados desde setembro do ano passado”, explica o estudante de História da Universidade Estadual do Piauí, Breno Cavalcante, que conversou com a reportagem do Sul21 na segunda-feira enquanto protestava no centro de Teresina.

Os manifestantes acusam o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Teresina (Setut) de retirar os ônibus de circulação em função dos protestos, deixando a população desassistida do serviço. Já o Setut alega que apenas obedece a recomendações da Polícia Militar, que orienta o sindicato a tomar a medida em função dos bloqueios realizados pelos estudantes.

Independentemente das versões que circulam sobre os protestos, a repressão policial na semana passada foi evidente. Registrada em fotos pelo próprio Breno, a ação da polícia ocorreu com extrema brutalidade contra manifestantes que estavam sentados na via pública. Nesta segunda-feira (9), manifestantes registravam nas redes sociais os movimentos da PM, que chegaram a deslocar as tropas da cavalaria para o local dos protestos.

Breno Cavalcante/Especial/Sul21

“Foi um caos. Fomos acusados de vandalismo, mas estávamos numa mobilização pacífica e organizada e a polícia veio para cima”, comenta o aluno de História, que contou cinco viaturas policiais ao redor dos manifestantes na segunda-feira. Ele reconhece que houve reações por parte de alguns estudantes, mas diz que a PM iniciou o confronto.

O estudante de Comunicação Leonardo Maia, integrante à Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (Anel), ligada ao PSTU -, diz que a manifestação de sexta-feira ocorreu de forma pacífica. “Isso é prova de que a ação da polícia é que gera todas as reações mais radicais”, explica.

Sindicato das empresas contratou segurança privada para atuar nos protestos

Além dos efetivos da Polícia Militar, no primeiro dia de protestos, na semana passada, estudantes tiveram que enfrentar seguranças particulares contratados pelo Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Teresina (Setut). De acordo com relatos de manifestantes, os agentes privados estavam armados e bateram em quem estava no local.

“Atuavam como polícia e estavam armados”, conta o estudante de História, Breno Cavalcante.
O próprio Setut, através de sua assessoria de imprensa, reconhece que contratou seguranças privados, mas justifica que foi apenas para cuidar da integridade física dos ônibus, que o sindicato alega estarem sendo depredados pelos manifestantes.

A assessoria do Setut diz que os estudantes danificaram cerca de 60 veículos nos protestos do ano passado e, por isso, quis se prevenir esse ano com a contratação de agentes particulares. Entretanto, o Setut precisou recuar da medida, pois a própria PM e a Polícia Federal teriam orientado o sindicato a não manter os seguranças em atividade.

“Não são estudantes, são vândalos”, afirma superintendente de trânsito da prefeitura

A chefe da Superintendência de Transportes e Trânsito de Teresina (Strans, equivalente à EPTC de Porto Alegre), Alzenir Porto, acompanha todos os protestos em sua sala através das câmeras. Indignada, ela qualifica os manifestantes de “vândalos”.  “Não são estudantes, são vândalos, são pessoas extremamente perigosas, que cobrem o rosto e jogam coquetéis molotov dentro dos ônibus”, reage a dirigente municipal.

Breno Cavalcante/Especial/Sul21

A superintendente garante que a prefeitura não irá recuar no aumento nem abrirá mão de colocar em prática a integração – também contestada pelos manifestantes, que exigem descontos maiores e extensão do benefício a todas as linhas. “De maneira nenhuma a prefeitura irá voltar atrás. Se (os manifestantes) tiverem fogo, podem passar o ano todinho protestando”, comenta.

Alzenir não considera violenta a repressão da Polícia Militar do Piauí aos protestos. “A polícia está totalmente de braços cruzados, não está havendo repressão. No primeiro dia a ação foi mais forte pra segurar o movimento, mas hoje (9) estão depredando ônibus e colocando a população em risco e a polícia está só acompanhando a movimentação”, critica a titular da Strans.

Nos bastidores, há especulações de todos os tipos. Uma delas, alimentada por quem defende uma ação mais forte da polícia, é a de que o interesse do governo estadual, comandado por Wilson Nunes Martins (PSB) e adversário do prefeito Elmano Férrer (PTB), é de que a PM deixe as manifestações ocorrerem para desestabilizar a gestão municipal.

Alzenir alega que o aumento de R$ 1,90 para R$ 2,10 foi aceito inclusive pelo Tribunal de Contas do Piauí e reitera que o processo passou por uma auditoria composta por diversas entidades, como o Ministério Público Estadual e a Ordem dos Advogados do Brasil. A superintendente diz que há possibilidade de a integração possibilitar a gratuidade da segunda passagem – como ocorre em Porto Alegre, caso o cidadão pegue o outro ônibus em até meia hora.

Aleznir se recusa a comentar a contratação de seguranças privados pelo Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Teresina (Setut) para atuar nos protestos. “Isso não tem nada a ver com a gente”, esquiva-se.

Em nota, prefeito diz que a livre manifestação deve ser garantida, desde que não seja “contra nossa cidade”

Prefeito de Teresina, Elmano Férrer, inaugura integração entre linhas de ônibus | Foto: teresina.pi.gov.br

O prefeito de Teresina, Elmano Férrer (PTB), divulgou nota oficial nesta segunda-feira (9) na qual afirma que os órgãos estaduais de segurança irão agir “para assegurar o direito de ir e vir, assegurar a ordem e a livre manifestação, desde que não seja contra nossa cidade, o que não admitimos”.

O texto do petebista assinala ainda que não serão aceitos “atos de vandalismo e violência de quem teve a oportunidade de contribuir, mas preferiu aderir ao radicalismo”.  O comunicado também acusou os manifestantes de possuírem “interesses políticos e eleitorais para atacar nossa Teresina”.


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