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1 de novembro de 2011
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18:33

Dom Dadeus é “antítese do cristão da Bíblia”, acusa TJ-RS

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Sul 21
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Dom Dadeus é “antítese do cristão da Bíblia”, acusa TJ-RS
Dom Dadeus é “antítese do cristão da Bíblia”, acusa TJ-RS
Arcebispo de Porto Alegre criticou o Judiciário após ser condenado por danos morais por tribunal de SP | Foto: Mariana Fontoura/CMPA

Igor Natusch

A Justiça dos homens, muitas vezes, ignora ou mesmo vai contra a de Deus. Porém, uma polêmica surgida no começo desta semana fez subir alguns tons nessa discordância em geral silenciosa. O arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, foi condenado a pagar R$ 940 mil como indenização por danos morais, o que motivou uma série de ataques contra a Justiça brasileira — para ele, corrupta e engajada em uma espécie de cruzada contra a Igreja. A resposta de órgãos ligados ao Judiciário veio na mesma moeda, acusando o arcebispo de promover um espetáculo midiático e ir contra os preceitos de humildade professados por sua própria religião.

Em nota divulgada na terça-feira, o Tribunal de Justiça do RS (TJ-RS) “manifesta sua indignação e repúdio às declarações do arcebispo de Porto Alegre, que mais uma vez optou pelo caminho da agressão e do escândalo frente a uma condenação judicial”, declarou o órgão. O TJ-RS não poupa adjetivos contra Dom Dadeus, a quem chama de “intolerante, agressivo, preconceituoso, vingativo e rancoroso” – uma verdadeira “antítese do cristão de que nos fala a Bíblia”.

“A Igreja Católica não merece ser colocada no centro de polêmicas equivocadas e movidas por simples recalques e frustrações pessoais. O arcebispo deveria deixar as questões legais para os corretos e competentes advogados da Cúria Metropolitana e, à sua vez, submeter-se com humildade às lições de convivência e urbanidade pregadas por sua própria religião”,

A ira de Dom Dadeus é motivada por decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que condenou o religioso, juntamente com a Diocese de São João da Boa Vista, a indenizar uma família moradora de Mogi Guaçu (SP). O processo foi aberto pela família em 1993, alegando a ocupação de terras de sua propriedade. Na época, Dom Dadeus Grings era bispo, e escreveu artigos criticando a postura dos proprietários e defendendo a prefeitura.

Após essas declarações públicas, os familiares entregaram carta a Dom Dadeus, na qual criticavam seu posicionamento. Em sua resposta, o religioso disse que os advogados da família não passavam “impressão de lisura”, o que foi usado como argumento no processo por danos morais. “Chegaram a afirmar que eu poderia ser condenado de dois a três anos de prisão, provocando celeuma entre a população, que, em conseqüência, promoveu um ato público de desagravo em meu favor”, diz Dom Dadeus.

“Querem silenciar a voz da Igreja”, critica arcebispo

Em carta divulgada na terça-feira (1º), o arcebispo qualifica a decisão judicial como “mais um capítulo da agressão do Judiciário contra a Igreja Católica”. ” O judiciário nunca procurou investigar acerca dos ataques que os advogados dirigiram contra mim e as calúnias que proferiram”, diz o religioso. “Se sofreram danos morais, foi pelas agressões e pelo processo que eles promoveram contra o Bispo e a Diocese. Desde o início, o Judiciário se mostrou parcial, em defesa de sua gente”, acusa, pedindo que a presidenta Dilma Rousseff promova uma “faxina” no Judiciário, onde o problema da corrupção “é muito grave”.

Alegando que o montante da indenização “ultrapassa qualquer bom senso” e que o juízes estão “desligados da realidade”, Dom Dadeus Grings diz que o Judiciário não “reconhece seus limites” na hora de aplicar seus desmandos. “Os juizes bem sabiam que os querelantes buscavam lucro fácil. Na verdade o Judiciário quer silenciar a Voz da Igreja frente ao bem comum, como tenta com a imprensa, para acobertar a corrupção no país”, ataca. “Não posso, por coerência e dever de consciência, acatar esta sentença inválida e desrespeitosa. Se me quiserem prender, estou às ordens. Só assim o mundo saberá quanto nosso Judiciário é corrupto e arbitrário. Apelo para o Supremo Tribunal de Jesus Cristo, o Justo Juiz”, encerra.

Mais cedo, a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS) já tinha usado termos fortes para criticar com veemência as alegações de Dom Dadeus. “Esta prática adotada pelo arcebispo está cada vez mais disseminada no Brasil, notadamente quando o Judiciário decide em desfavor de segmentos que desfrutam de poder diferenciado na sociedade”, ataca a nota. O documento ressalta que a AJURIS nutre “grande respeito” pela Igreja Católica e por todas as outras religiões. “Entretanto, não podemos admitir que qualquer religioso, em nome de sua crença, insulte pessoas e instituições de forma arbitrária, numa quase retrospectiva da inquisição medieval”.


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