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2 de outubro de 2011
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10:40

Patrimônio: Governo abrirá licitação para restauro do Piratini

Por
Sul 21
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O Palácio Piratini foi tombado pelo IPHAE em 1986 e pelo IPHAN, em 2000 l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nubia Silveira (texto) e Flavia Boni Licht (consultora)

O governo do Rio Grande do Sul já tem pronto o Termo de Referência que orientará a licitação a ser feita para contratar a empresa que vai elaborar o projeto de restauro das alas governamental e residencial do Palácio Piratini. A previsão é de que o projeto, dividido em nove etapas, esteja concluído em agosto de 2013, quando, então, será dado início ao processo de licitação da obra. O Palácio é um dos sete prédios declarados patrimônio histórico, que se encontram ao redor da Praça Marechal Deodoro, conhecida como Praça da Matriz, que também passará por obras de restauração, ainda sem data definida. Outro desse conjunto de prédios que está sendo restaurado é o da Cúria Metropolitana.

Restauro do Palácio iniciará no último ano do atual governo l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Acompanhe a série patrimônio histórico:

– Viaduto Otávio Rocha, um alumbramento
Restaurar custa três vezes mais do que conservar
Travessa dos Venezianos clama por cuidados
Concluída parte do restauro da Igreja da Conceição
Falta tombar as telas do Instituto de Educação
– Obra de restauro da Praça da Alfândega termina em junho de 2012
Patrimônio: Porto Alegre ganhará um novo centro cultural em 2012
— Patrimônio: faltam recursos para a ampliação do Museu de Porto Alegre
— Patrimônio: Paço dos Açorianos comemora 110 anos com “A Samaritana”
Patrimônio: Palacinho poderá abrigar acervo de negativos de Calegari

Os jardins também serão restaurados l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Secretário Executivo do Gabinete do Governador, Robério Corrêa revela que o projeto de restauração abrangerá também a Casa Amarela, localizada na esquina da Rua General Auto, onde funciona parte da Casa Civil e de outros setores, os túneis do Piratini, os jardins e o Galpão Crioulo. A arquiteta Roseli Comissoli de Sá, da Assessoria de Arquitetura da Casa Civil, alerta que cada uma das etapas do projeto referentes ao restauro deverá ser aprovada pelos IPHAN e pelo IPHAE.

Nos três governos anteriores, foram restauradas as fachadas da ala governamental, os salões Alberto Pasqualini e Negrinho do Pastoreio e o gabinete do governador. Maria da Graça Sebben, arquiteta da Secretaria de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano, fiscalizou as obras realizadas durante os governos de Germano Rigotto e Yeda Crusius. Não acompanhou o restauro da fachada principal, feito durante o governo Olívio Dutra. Maria da Graça conta que a restauração das fachadas se deu em parceria com a Cientec – Fundação de Ciência e Tecnologia, que pesquisou formas de reproduzir o material usado na fachada, uma argamassa conhecida como Cirex, o nome da empresa que a produzia. O mesmo material foi utilizado no Cinema Imperial, que também passa por um restauro com a participação da Cientec. As prospecções feitas no local, segundo a arquiteta, revelaram as colorações originais do Cirex, que voltaram a fazer parte das fachadas do Palácio.

Material usado na fachada foi o cirex, o mesmo utilizado no Cinema Imperial l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nos salões, os pisos foram inteiramente trocados, porque estavam destruídos pelo cupim. Maria da Graça diz que as poucas peças originais que puderam recuperar foram colocadas no gabinete do governador. Nos salões Negrinho do Pastoreio e Alberto Pasqualini foram mantidos os desenhos em forma de losango. Também foram recuperadas as redes elétrica e de lógica, restauradas as esquadrias e reformados os banheiros, com renovação do piso, revestimento e louça.

Outro importante trabalho de restauro feito no Piratini foi o do conjunto de painéis do grande muralista italiano Aldo Locatelli, que, entre 1951 e 1955, imortalizou nas paredes e teto do salão principal a lenda do Negrinho do Pastoreio. Ele também ornamentou o Salão Alberto Pasqualini e a antessala do Gabinete do Governador. A primeira restauração desses murais foi realizada em 1988 sob a coordenação de Leila Sudbrack, que utilizou tecnologia e materiais de novíssima geração, em padrão igual ao da Capela Sistina que estava sendo restaurada na mesma época. Em 2003, Leila retornou ao Palácio para uma segunda fase de restauros, pois algumas das pinturas de Locatelli tinham sido danificadas por infiltrações.

Os recursos para o restauro deverão vir do orçamento estadual, do governo federal e de instituições internacionais l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Robério acredita que o restauro total do Palácio iniciará no último ano de governo. O projeto, segundo ele, será elaborado com recursos orçamentários. Para as obras, as verbas virão do Orçamento, mas também do governo federal e de órgãos internacionais. Neste momento, em que o projeto ainda não foi licitado, a estimativa é de que as obras custarão cerca de R$ 60 milhões. O secretário executivo alerta que é preciso realizar, antes do projeto, um Plano Diretor de Uso de cada local a ser atingido pela obra, já que ela será feita com o Palácio em funcionamento, havendo a necessidade de deslocar setores.

Do Palácio de Barro ao Piratini

Palácio de Barro foi demolido em 1896 l Foto: reprodução

A arquiteta e professora Nara Helena N. Machado afirma no texto “Alguns Elementos sobre o Palácio Piratini e sua Arquitetura”, publicado no livro que comemorou os 85 anos do Palácio, em 2006, que “as referências iniciais sobre a construção de um palácio para o governo estadual remetem a aproximadamente 1773, quando a capital foi transferida de Viamão para Porto Alegre”. Ela conta que “a idéia seria dotar a cidade, rapidamente, de um prédio palacial na medida em que a urbe adquiria um novo estatuto, aquele de capital da Província”. A arquiteta diz que “o resultado foi uma edificação extremamente simples”, que foi qualificada por Sérgio da Costa Franco, em seu “Porto Alegre: Guia Histórico”, como um “sobradão colonial”. O prédio acabou, de acordo com Nara, conhecido “como Palácio de Barro, uma vez que o material utilizado para a sua construção foi a taipa”.

O Palácio de Barro sofreu algumas interferências antes de ser substituído pelo Piratini l Foto: Museu de Porto Alegre
O primeiro palácio de governo foi chamado de "sobradão de barro" por Sérgio da Costa Franco l Foto: Museu de Porto Alegre

O “sobradão de barro” sofreu várias interferências. Em 1860, obedecendo à legislação municipal, perdeu os beirais e ganhou “uma platibanda e uma calha interna”. Mas, desde o início do século XIX, as autoridades pensavam em construir um novo Palácio. A professora Nara Machado recorda em seu texto que o presidente Soares d’Andrea teria solicitado um projeto ao arquiteto alemão Phillip von Norman, residente em Porto Alegre. O projeto não saiu do papel.

Outro projeto foi solicitado o arquiteto-engenheiro civil Álvaro Nunes Pereira, no final do século XIX. Fundador da Escola de Engenharia, Pereira elaborou um projeto em estilo renascentista, que também não foi implementado. Em 1896, o presidente Júlio de Castilhos encomendou novo projeto ao arquiteto Affonso Dinis Herbert que – diz Nara – “poderia ser considerado como um dos arquitetos com maior projeção no estado”. Logo após a demolição do Palácio de Barro, em 1896, começaram as obras do novo prédio, sendo o projeto de Herbert, “de nítida inspiração renascentista”.

Borges de Medeiros suspendeu a obra iniciada por Júlio de Castilhos l Foto: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul

Quando Júlio de Castilhos passou o poder para Borges de Medeiros, o novo presidente do Estado paralisou as obras, que vinham recebendo muitas críticas. Carlos Barbosa Gonçalves, que sucedeu Borges de Medeiros, abriu um concurso internacional de projetos. A comissão formada para tratar do assunto viajou a Paris, reforçando a ideia de que buscavam arquitetos na França. Entre os dois inscritos, venceu o arquiteto Augustin Rey. Ele apresentou também “uma proposta de remodelação da Praça da Matriz, dentro dos rígidos cânones do classicismo”, diz Nara.

Mas, enquanto se realizava o concurso na França, em Porto Alegre, o cônsul francês Octave Courtheil apresentou ao presidente da Província o arquiteto francês Maurice Gras, que estava em Porto Alegre. Carlos Barbosa lhe solicitou um projeto, que foi aprovado, sendo o contrato com Gras assinado em 1909. O Palácio passou a ser ocupado em 1921, no governo de Borges de Medeiros. Mas, a obra só foi concluída em 1971.

Projeto do Palácio Piratini é do francês Maurice Gras l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Um pátio entre as alas

No projeto do francês, as alas governamental e residencial são unidas por um pátio interno. Diz a arquiteta Nara Helena Machado: “o desnível do terreno foi aproveitado pelo arquiteto para implantar, no nível mais baixo, a ala residencial. Através desse expediente, Gras conseguiu destacar formalmente o pavilhão dedicado às atividades oficiais”. Segundo ela, o projeto de Gras em relação aos anteriores apresenta “maior grandiosidade e monumentalidade”. Nara ressalta que “a repetição da ordem jônica, presente na fachada principal – além de modular verticalmente a fachada – não deixa de intensificar a monumentalidade do prédio”. Marcando a entrada principal do Palácio estão duas colunas e, entre elas, duas figuras femininas, que representam a agricultura e a indústria, de autoria do escultor francês Paul Landowski. Ele também assina o grupo escultórico A Primavera, que embeleza a fachada sul da ala governamental. Cabe destacar que esse artista também realizou, em 1931, a concepção plástica de uma das esculturas mais conhecidas do mundo, o Cristo Redentor do Rio de Janeiro.

Duas figuras femininas estão entre a colunas que marcam a entrada principal do Piratini l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nara acrescenta que “a escala monumental também é visível internamente: assim, quase um terço da área do pavimento térreo é destinada a um grande hall de recepção e a uma escadaria imperial, grandiosa, monumental, com cinco lances. Quanto ao pé-direito, cada piso apresenta mais ou menos oito metros de altura. Já a altura do prédio corresponde aproximadamente a um edifício de cerca de seis a oito pavimentos”. A professora conclui que a arquitetura do Palácio é eclética, “um ecletismo calcado nas valorizações historicistas de cunho clássico então em voga na Europa”.

Escadaria: imperial, grandiosa e monumental l Foto: Divulgação

Nara ressalta ainda que “a sucessão de colunas monumentais” na fachada principal do Palácio “conforma, por assim dizer, uma espécie de grande pórtico templário que, por um lado, é introdutório ao espaço interno mas, por outro lado, separa os espaços – aquele interno, sagrado, vinculado ao poder, do espaço externo, profano”. Gras inspirou-se na arquitetura realizada na França no século XVIII. O Palácio Piratini seria quase um clone do Petit Trianon, de Versailles, projeto de Jacques Ange Gabriel, construído entre 1762 e 1764.

A praça que nasceu com a cidade

Nascida com a cidade, a Praça da Matriz foi tombada pelo IPHAN em 2003

Porto Alegre nasceu próxima às águas do Guaíba, para ser capital da província, por determinação da Corte portuguesa. Sempre voltado às navegações, Portugal queria que a cidade tivesse um porto e a possibilidade de ligar-se ao mar. Localizada às margens do Guaíba, sua ligação com o Oceano se daria por meio da Lagoa dos Patos. De acordo com o professor e arquiteto Gilberto Flores Cabral, “em 1773, Porto Alegre nasceu como capital já no Alto da Praia, seu principal espaço significativo”. No mesmo ato que instituiu Porto Alegre como capital, afirma o arquiteto, surgiu “a Praça da Matriz, ou Marechal Deodoro, como é denominada hoje a praça do Palácio”. A praça, ainda segundo Cabral, “se confunde com as primeiras medidas ordenadoras” do traçado da cidade. “A idéia da cidade se funde à da sua praça alta, sendo definida com a chegada da grande autoridade que cria cidade e praça ao mesmo tempo”. Esta autoridade foi o coronel Manoel Jorge Gomes de Sepúlveda, aqui conhecido como José Marcelino de Figueiredo, enviado pela Corte à Província de São Pedro para controlar efetivamente o território.

No século XIX, a Praça ganhou a face que tem hoje l Foto: Museu de Porto Alegre

No texto “A Praça, Palácio e a cidade: uma unidade desde as origens”, incluído no livro publicado, em sua primeira edição, pelo governo do Estado, quando o Palácio completou 85 anos, o arquiteto afirma que “a nossa praça alta e fundacional tornou-se uma referência imaginária importante, o lugar das grandes ideologias, o lugar das atividades superiores, o lugar perto do qual as pessoas mais ricas iriam morar”. Ele ressalta que Porto Alegre “se configurou desde o início conforme o paradigma da cidade portuguesa, composta por sua praça alta e suas praças baixas, estas últimas os lugares do dia-a-dia, do convívio e do comércio”.

Concha Acústica do Auditório Araújo Viana, que cedeu lugar ao novo prédio da Assembleia l Foto: Museu de Porto Alegre

Foi no século XIX, conta o professor, que a Praça da Matriz ganhou a sua aparência atual. Foi no final desse século que surgiram do lado da praça oposto ao do Palácio Piratini os prédios gêmeos do Theatro São Pedro e da Casa da Câmara, esse destruído por um incêndio e no lugar do qual foi construído o atual Palácio da Justiça. Diz Cabral:

“No final do século XIX a cidade passou a se expandir e a Praça da Matriz tornou-se a origem do vetor mais importante de ocupação da cidade. A Praça constituiu-se no elemento inicial de um processo de formação do território, da distribuição espacial de usos do solo, da densidade urbana e do sistema de distribuição espacial de renda domiciliar da cidade, com profundo impacto sobre o que ela é hoje. A partir da Praça e ao longo da linha de colinas Leste-Oeste da cidade, percorrendo o espigão central, foi se formando uma linha de mais alto status, percorrendo inicialmente a rua Duque de Caxias, infletindo pela Av. Independência, e se expandindo para Leste, até aproximadamente onde hoje se situa o Shopping Center Iguatemi. Aí tendem a estar domiciliados os níveis de renda mais elevados da cidade, dando início a uma grande ‘cunha’ que segue para o interior, pelos cumes das colinas centrais porto-alegrenses constituindo-se em uma espécie de vetor estruturador da ocupação sempre procurando os pontos mais altos do sítio urbano”.

Monumento a Júlio de Castilhos, do e escultor Décio Villares, foi concluído em 1910 l Foto: Museu de Porto Alegre

No início do século XX, é construído na Praça o Monumento a Júlio de Castilhos, de inspiração positivista. A obra do pintor e escultor Décio Villares foi concluída em 1910. Apesar das novas construções ao seu redor, “a Praça conserva traços estruturais existentes desde sua formação primeira”, afirma Cabral. “Vale também lembrar – diz o arquiteto – que desde a segunda metade do século XX, esse espaço histórico passa a ser cenário não apenas da elite, mas também de grandes manifestações públicas populares: desde a Legalidade, passando pela luta contra os governos militares, até a campanha das Diretas Já e as reivindicações dos vários grupos de trabalhadores”.

Restauro pontual

A arquiteta Briane Bicca, responsável pelo Projeto Monumenta Porto Alegre, revela que a Praça passará por um restauro pontual, muito diferente do realizado na Praça da Alfândega. A Matriz sofreu poucas interferências, ao contrário da Alfândega. Mas, ainda não há uma data prevista para o início das obras.

Restauro da Matriz será superficial l Foto: Museu de Porto Alegre

Briane diz que a iluminação pública será reforçada, por questões de segurança. Será arrumada a parte do pavimento que estiver degradada e os monumentos passarão por uma limpeza. “Será uma obra de manutenção, mais superficial do que a da Praça da Alfândega”, afirma.

O mais antigo prédio em uso de Porto Alegre

Prédio do atual Memorial da Assembleia foi construído para sediar a Provedoria da Real Fazenda l Foto: Museu de Porto Alegre

Construído próximo ao Palácio Piratini, para sediar a Provedoria da Real Fazenda, o prédio que hoje abriga o Memorial da Assembleia Legislativa é o único em uso na cidade, datado do século XVIII. São dele as fotos publicadas na semana passada sob a pergunta De onde são? Concluído em 1790, em 1828, o prédio passou a abrigar o Conselho Geral da Província, que foi substituído pela Assembleia Provincial. Em 1835, ano em que os Farrapos se levantaram contra o Império, tornou-se sede da Assembleia Legislativa da Província.

Originalmente, a construção tinha apenas um pavimento. Em 1860, ganhou o segundo. Com estas obras, o prédio perdeu as características coloniais e recebeu influências neoclássicas. Já no século XX, o prédio construído pelo engenheiro militar capitão Alexandre José Montanha passou por uma grande reforma para abrigar a Assembleia Constituinte de 1947. Os deputados trabalharam ali até 1967, quando foi inaugurado o atual prédio da Assembleia Legislativa.

Para abrigar a Constituinte de 1947, prédio passou por uma grande reforma l Foto: Memorial da AL

Em 1982, passou por uma nova reforma e a ser ocupado pela Casa Civil. Em 2004, voltou para a Assembleia Legislativa. Passou, então, por uma restauração, que durou seis anos. Em outubro de 2010, foi instalado ali o Memorial da Assembleia Legislativa.

A arquiteta Ediolanda Liedke, responsável pelo restauro dos prédios que abrigam os memoriais da Assembleia e do Ministério Público, diz que a ideia foi que o prédio voltasse a ter seu espaço interno original. O Plenário foi reconstruído e feita uma conexão entre as galerias. Na obra, a velha Assembleia ganhou dois pavimentos para poder abrigar o Memorial: abriu-se um salão no sótão, sem mexer no telhado, e escavou-se o subsolo, onde está instalado o arquivo.

Prédio do Memorial da Assembeia foi tombado pelo IPHAE em 1981 l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ediolanda diz que o prédio, de linguagem eclética, ganhou acessibilidade com o restauro. Foi instalado um elevador, que gerou discussões com o IPHAE. A proposta inicial – não aprovada pelo Instituto — era colocá-lo na parte externa, no vão entre o Memorial e a Casa Civil. O elevador está instalado na parte interna.

Acesso livre à documentação

Pesquisadores precisam ir ao Memorial para consultar acervo, que não está digitalizado l Foto: Memorial da AL

Vladimir Araújo, diretor do Memorial da Assembleia, diz que o acesso ao acervo do Memorial é livre, mas deve ser presencial. Pouca coisa está digitalizada. Inaugurado há um ano, o Memorial coloca à disposição dos interessados um Catálogo de todo o seu acervo, que está em fase de organização. “O próximo passo é a digitalização. As atas já estão digitalizadas”, afirma.

No Arquivo da Assembleia estão os processos e os relatórios das CPIs, que deverão passar para o Memorial, onde serão colocados à disposição dos pesquisadores. De janeiro a agosto deste ano, foram registrados 126.053 acessos ao site do Memorial, que oferece informações sobre os parlamentares, pesquisas históricas, publicações, como a série perfis – parlamentares gaúchos, e constituições sul-rio-grandenses. Foram também atendidos 230 pesquisadores e 830 visitas presenciais.

Site do Memorial já teve mais de 120 mil acessos l Foto: reprodução

Vladimir orgulha-se em dizer que o Memorial possui a mais completa coleção do jornal A Federação, do Partido Republicano Rio-Grandense, publicado entre 1884 e 1937. No entanto, 50% da coleção estão em mau estado de conservação e, por isso, indisponível ao público. “Estamos fazendo projeto para as leis de incentivo, a fim de conseguir recursos para o restauro e a digitalização das edições do jornal, que é muito procurado pelos historiadores”.

Na Feira do Livro, o Memorial lançará um livro sobre o Movimento da Legalidade, em parceria com a área de Ciência Política da UFRGS. O livro contará com quatro capítulos e um anexo com entrevistas de seis deputados que viveram a Legalidade. O primeiro capítulo dará um panorama geral da situação política do Brasil. O segundo mostrará como a imprensa viu a Legalidade. O terceiro será dedicado ao Movimento, liderado pelo governador Leonel Brizola. O quarto “e principal”, segundo Vladimir, tratará da atuação dos deputados, que se mantiveram em assembleia permanente durante 11 dias até a posse de João Goulart na presidência da República.

Legalidade é tema de obra que o Memorial lançará na Feira do Livro l Foto: Reprodução

Granito rosa, a marca da Catedral

Membro da Comissão Arquidiocesana de Arte Sacra, o arquiteto Nestor Torelly afirma que um dos pontos importantes do restauro da Catedral foi a troca do revestimento de mármore da cúpula pelo de chapas de cobre, próprias da construção original e que ele mesmo encontrou guardadas na Catedral. De linguagem eclética, a Catedral apresenta vitrais no estilo renascentista.

Catedral: declarada patrimônio histórico, junto com a Cúria, pela EPHAC em 2009 l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O arquiteto lamenta a destruição da igreja original, de 1793, de apenas um pavimento e sem torres. Alegaram que ela não tinha recuperação. Torelly não acredita. “Na Bahia há igrejas mais antigas”, diz. Ele acha que o arcebispo Dom João Becker preferiu construir uma igreja mais imponente, para estar à altura do novo Palácio Piratini. “A Igreja pode ter se sentido diminuída”, imagina.

O primeiro projeto de uma nova Catedral, em estilo gótico, foi do arquiteto e escultor Fernando Corona. “A Escola de Engenharia concluiu que era muito difícil construí-la”, lembra o arquiteto. Foi então solicitado um projeto ao arquiteto romano João Batista Giovenale, sendo a pedra fundamental lançada no dia 7 de agosto de 1921. A obra foi concluída apenas em 1986. O projeto de Giovenale, conta Nestor Torelly, era submetido à Escola de Engenharia, que o analisava sob o ponto de vista técnico e fazia pequenas modificações. A nova Catedral foi construída com materiais típicos do Rio Grande do Sul como o granito rosa, extraído de uma rocha, existente em Porto Alegre. Torelly ressalta ainda que a Catedral não conta com pinturas. Tem apenas uma do italiano Aldo Locatelli, no Altar Mor.

A antiga Catedral, de 1793, cedeu lugar a uma edificação mais imponente l Foto: Museu de Porto Alegre
O italiano Giovernale projetou a nova Catedral, que começou a ser construída em 1921 l Foto: Museu de Porto Alegre

Cúria vai abrigar Museu de Arte Sacra

O restauro da Cúria Metropolitana deverá estar concluído dentro de dois anos, se forem obtidos os recursos necessários, afirma o padre Luís Inácio Ledur, responsável administrativo pela obra, orçada entre R$ 14 milhões e R$ 15 milhões. O prédio, segundo o arquiteto Nestor Torelly, teve sua pedra fundamental lançada em 1865 e é um dos mais importantes de Porto Alegre. Foi construída em pedra e tijolo com argamassa de barro.

Prédio da Cúria Metropolitana foi construído em pedra e tijolo com argamassa de barro l Foto: Museu de Porto Slegre

Criado para ser um seminário jesuíta, o prédio foi projetado pelo arquiteto francês Villain. Após sua morte, antes da conclusão do prédio, assumiu a obra o arquiteto alemão Johann Grünewald, radicado no Rio Grande do Sul. Ele alterou o projeto inicial de Villain, dando-lhe um estilo gótico. As obras foram concluídas em 1888.

Com o restauro, o local voltará à forma mais próxima possível do original, abrindo espaço para o Museu de Arte Sacra de Porto Alegre. Torelly diz que ele e seus alunos da Unisinos registraram 70 imagens que compõem o acervo do Museu. São imagens com mais de 60 anos, esculpidas em madeira, vindas de várias paróquias do estado, guardadas no cofre da Cúria, no subsolo da Catedral. Ele espera, agora, poder providenciar, por meio de um convênio entre a Cúria e a Unisinos, o restauro das imagens e fazer uma pesquisa para determinar a sua origem.

Com o restauro, a Cúria passará a abrigar o Museu de Arte Sacra l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Padre Ledur ressalta que a Cúria passará a contar com acessibilidade e terá, no terreno próximo à Rua Fernando Machado, uma garagem de dois andares, que será construída no subsolo. Um dos andares será para uso da Cúria e outro para aluguel, de onde sairão os recursos para a manutenção do prédio.

Endereços:

— Palácio Piratini — Praça Marechal Deodoro s/n
Fone: 51. 3210 4100

— Memorial da Assembleia Legislativa — Rua Duque de Caxias, 1029 – Porto Alegre
Fone: 51. 3210 1675/ 51. 3210 1676
e-mail: [email protected]
Horário de funcionamento: de 2ª a 6ª feira – das 8h30min às 11h30min e 13h30min às 18h30min.

— Catedral Metropolitana – Paróquia N.Sra. Mãe de Deus – Rua Duque de Caxias, 1047, Centro
Fone: 51. 3228-6001
e-mail: [email protected]

— Cúria Metropolitana – Mitra da Arquidiocese de Porto Alegre — Rua Espírito Santo, 95 – Centro – Porto Alegre
Fone: 51. 3228-6199
e-mail: [email protected]

De onde são?

Você é capaz de identificar de onde são as fotos abaixo? É de um dos prédios do entorno da Praça da Matriz.

Ramiro Furquim/Sul21
Ramiro Furquim/Sul21
Ramiro Furquim/Sul21
Ramiro Furquim/Sul21
Ramiro Furquim/Sul21

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