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3 de setembro de 2011
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19:57

Um lugar de Porto Alegre: Parangolé Bar e Restaurante

Por
Sul 21
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Na rua Lima Silva, em Porto Alegre, Parangolé faz os boêmios se sentirem em casa | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Igor Natusch

Um bom bar é aquele em que a gente se sente em casa, diria o boêmio que todos, em maior ou menor grau, trazem dentro de si. Se essa for de fato a medida dos lugares onde vale a pena estar, então muita gente pode chamar o Parangolé de segundo lar. Localizado no número 242 da Lima e Silva, quase na esquina da Loureiro da Silva, o Parangolé existe há cinco anos e foi construindo nesse período a reputação de lugar diferenciado na noite de Porto Alegre. Um conceito que certamente passa pela qualidade dos comes e bebes e da música ao vivo, mas também por outras qualidades menos precisas, mas igualmente importantes.

Uma das particularidades do bar, segundo todos que o frequentam, está justamente no clima leve e acolhedor. Não existem barreiras, reais ou imaginárias, entre os que fazem o Parangolé e aqueles que o frequentam. Os músicos tocam em meio às mesas, bebem e comem junto com os clientes, e o atendimento é bastante próximo, para dizer o mínimo. Não é raro ver o proprietário conversando entre as mesas ou vestindo o avental para unir-se aos funcionários no atendimento aos clientes. Os fregueses habituais o chamam pelo nome: para todos, trata-se de Seu Cláudio.

Amigo dos clientes, Seu Cláudio transformou o Parangolé num dos bares mais peculiares da Cidade Baixa | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Seu Cláudio convive com o público desde a infância, nos tempos de Minas do Leão, onde seu pai era dono de um pequeno comércio. Chegou a atuar como balconista antes de ir para a indústria, trabalho que o levou até uma filial da Grendene no interior do Ceará. “Era bem longe da praia”, diz ele, brincando. Retornou ao Rio Grande do Sul para morar em Farroupilha, e de lá acabou vindo a Porto Alegre, com a ideia de montar um comércio semelhante ao de seu pai. “Algo simples, que não precisasse investir muito dinheiro para começar”, conta ele.

O pequeno negócio transformou-se em um dos bares mais característicos da Lima e Silva, um dos principais redutos da boemia porto-alegrense. O público é eclético, o que não significa dizer que não haja pontos em comum. “Vem todo tipo de gente aqui: políticos, músicos, jornalistas, publicitários, estudantes”, enumera Seu Cláudio. Atraídos pelo ambiente que permite boas conversas em meio a arte, cultura e muita música.

Música, aliás, que foi aos poucos tomando conta do bar. Hoje, são até cinco dias por semana dedicados a espetáculos ao vivo. Tudo começou às terças-feiras, com uma roda de chorinho. Com o sucesso da primeira iniciativa, outros estilos foram ganhando espaço, e hoje o calendário musical do Parangolé é bastante movimentado. As segundas-feiras são do samba, as terças seguem abrindo espaço ao chorinho, enquanto as quartas-feiras são da música latina e as quintas hospedam as serestas. Para os sábados, o Parangolé está começando a investir no jazz. A ideia, explica Seu Cláudio, é transformar a atração, por enquanto quinzenal, em semanal.

Professor Darcy comanda a noite de serestas, sempre às quintas-feiras. "Essa bagunça toda fui eu que comecei", diz | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Seu Darcy, 60 anos de boemia: “A noite seduz a gente”

“Essa bagunça toda fui eu que comecei”, comenta Darcy Alves, 78 anos de idade, mais de seis décadas de boemia. A frase, dita enquanto fumava um cigarro no intervalo de uma noite de serestas, tem mais de um sentido. Afinal, o Professor Darcy, como o chamam, não apenas ajudou o Parangolé a dar um salto de público com seus shows, como também abriu caminho para quase tudo que existe em termos de vida noturna em Porto Alegre.

Tocou com nomes lendários como Lupicínio Rodrigues e fala com desenvoltura de figuras que hoje pertencem ao imaginário da música popular brasileira. “Sempre que o Jamelão vinha para cá, fazia questão que eu participasse dos shows”, garante. Estudou música clássica, tocou em orquestra, mas a atração da boemia foi mais forte. “A noite seduz a gente”, comenta.

Ramiro Furquim/Sul21

Há dois anos, enche de romantismo e dor de cotovelo as noites de quinta no Parangolé. Nos shows, é acompanhado pelo sobrinho Silfarney e reveza músicas próprias com clássicos de outros ícones da seresta. E tem um público fiel. Durante a conversa com o Sul21, uma jovem fã aproxima-se e, com intimidade, pede que o Professor Darcy toque uma música para ela. Mas tem que ser logo, pois ela não poderá ficar até o fim do show. O músico concorda, com um sorriso. E brinca: “Elas mandam na gente. Se eu não tocar, apanho”.

O show de Darcy Alves reflete o clima informal que caracteriza o Parangolé. Entre as músicas, o músico pede uma bebida. Nas mesas mais próximas, amigos do Professor trocam palavras com o violonista nos intervalos, fazem sugestões. Eventualmente, pessoas da plateia são convidadas a assumir o microfone e cantar uma ou duas músicas. Tudo de forma natural, sem solenidades.

Almoço vegetariano faz sucesso

A gastronomia também tem espaço destacado no Parangolé. Do cardápio, Seu Cláudio destaca a maminha recheada e os escalopes de filé ao molho especial. Como refeição rápida, sugere o sanduíche do chef, um dos pratos de maior sucesso junto aos frequentadores. O petit gateau, feito na própria cozinha do Parangolé, e o parfait ao café são destaques para quem aprecia os doces e sobremesas.

Ramiro Furquim/Sul21

O cardápio noturno fica a cargo da chef Marisa Paiva. Desde março, passou a servir almoços vegetarianos, sob os cuidados de Natalia Doncatto, com boa aceitação do público. “Foi uma iniciativa dela, que queria muito fazer, e nós resolvemos investir”, diz Seu Cláudio, feliz com o sucesso de mais uma ideia. Para quem quer beber com os amigos, a dica são as cervejas artesanais, com destaque para a Green Cow Ipa e a Vitrola, dois acréscimos recentes na carta do bar. A cachaça artesanal Chica também faz muito sucesso, com grande variedade de sabores.

Além da música durante a semana, o Parangolé hospeda até o dia 16 de setembro a exposição “Olhares Sobre o Sul – Patagônia”, do fotógrafo Elias Graziottin Rigon. E a agenda do bar terá um acréscimo de peso no dia 17: o próprio Cláudio, dublê de dono de bar e músico, promete abrir a gaita, entrando no clima da Semana Farroupilha. “Avisa o pessoal na matéria”, pede ele, sorrindo. Tudo dentro do clima descontraído que se tornou um quase sinônimo do Parangolé.


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