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16 de setembro de 2011
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20:38

CTNBio libera feijão transgênico em decisão “ufanista”

Por
Sul 21
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Da Redação

A reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que marcou liberação da primeira variedade geneticamente modificada de feijão foi guiada por louvações ao papel da estatal Embrapa e pouca análise científica. “O povo brasileiro agradece”, disse o presidente da CTNBio, Edilson Paiva, no encerramento da reunião nesta quinta-feira (15). Se os cálculos da Embrapa estiverem certos, dentro de três anos os pratos dos brasileiros começam a receber feijões geneticamente modificados.

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Subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a CTNBio define a autorização de vegetais transgênicos. Até esta semana, soja, milho e algodão tinham variedades autorizadas. Desde que romperam as fronteiras dos Estados Unidos, as empresas de biotecnologia defendem a posição controversa de que os organismos geneticamente modificados ampliam a produtividade e o usam menos agrotóxicos. Em paralelo, também há dúvidas quanto à possibilidade de desencadeamento de novas e velhas doenças já que um dos possíveis desdobramentos do consumo de alimentos alterados geneticamente é de que se acelere a produção de algumas células, acarretando em aumento dos casos de câncer.

O aval da CTNBio, portanto, pode mexer com a segurança alimentar de 192 milhões de brasileiros. Para alguns presentes no debate, a decisão não foi tomada com critérios científicos. “Foi muito decepcionante. Realmente eu esperava um comportamento científico, e não uma postura ufanista de liberar porque quer liberar”, confessa José Maria Gusman Ferraz, que integra a comissão na condição de especialista em meio ambiente. “Não estamos falando de um assunto qualquer. São duzentos gramas ao dia para cada brasileiro. E durante uma vida toda.”

Além de Ferraz, outros quatro integrantes da comissão apresentaram pedidos de diligência, o que significa, que não se consideravam em condições de votar. Nem a favor, nem contra. “Não me sentiria seguro em comprar este produto”, avisa Leonardo Melgarejo, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CNTBio. “O que houve foi uma desconsideração das opiniões que ponderam ser interessante tomar uma decisão mais bem sustentada.”

A Embrapa afirma que os estudos com sua variedade resistente ao vírus mosaico dourado começaram em 2010, e no mesmo ano já foi apresentada à comissão o pedido de liberação. Foram feitos testes em três campos – Sete Lagoas (MG), Londrina (PR) e Santo Antônio de Goiás (GO) – levando em consideração algumas das principais áreas produtoras. O problema é que há dezenas de variedades de feijão – por se tratar de um alimento cujas sementes são guardadas pelos agricultores familiares e submetidas a melhoramentos por cruzamento, sem alteração genética. Cada uma dessas variedades responde a uma melhor adaptação a um determinado clima, regime pluvial e solo.

No começo da semana, a Terra de Direitos, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a Articulação do Semi-árido Brasileiro (ASA) e a AS-PTA, uma organização especializada em projetos em agroecologia, enviaram uma carta ao ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, alertando para os atropelos do processo de liberação. Saíram desapontados com a postura do representante do ministério na CTNBio, Carlos Nobre, que se absteve durante a votação.

Com informações da Rede Brasil Atual.


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