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8 de agosto de 2011
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09:45

José Fortunati: “Não discuto 2012. Minha tarefa é cuidar da cidade”

Por
Sul 21
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Em entrevista ao Sul21, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, analisa o andamento das obras da Copa do Mundo e diz que não está se envolvendo com as negociações para a eleição municipal: "A minha tarefa é cuidar da cidade. E a tarefa do PDT é fazer as negociações para 2012" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nubia Silveira

Natural de Flores da Cunha, José Fortunati (PDT) fez sua vida política em Porto Alegre, cidade que administra desde março de 2010, quando o então prefeito José Fogaça (PMDB) renunciou ao cargo para correr ao governo do Estado. Candidato do PDT às eleições municipais de 2012, Fortunati deixou de tratar do assunto, depois de tentar atrair  o PT para o seu governo. O assunto agora está com o partido.

Fortunati não está se envolvendo pessoalmente nas negociações partidárias para a eleição municipal de 2012. Motivos não faltam: um deles é a disputa interna pelo comando do PDT metropolitano. “Essa disputa não tem permitido que o PDT faça movimentos muito claros em relação aos demais partidos”, admite. Outro motivo é o foco na preparação de Porto Alegre para a Copa do Mundo de 2014. “A minha tarefa é cuidar da cidade, da melhor forma possível. E a tarefa do meu partido é fazer as negociações para 2012”, diz.

Nesta entrevista concedida ao Sul21, Fortunati fala de suas ações administrativas e políticas. E garante: as obras exigidas pela FIFA para a Copa do Mundo estarão todas concluídas no dia 13 de dezembro de 2013. “Tenho um prazo a cumprir e não posso pensar em 2012 como um ano eleitoral. Tenho de pensar em 2012 como um ano decisivo para que as obras da Copa comecem, pois se não começarem em 2012, elas não acontecerão”, afirma o prefeito.

Leia os principais trechos da entrevista.

Sul21 – Já faz mais de um ano que o senhor assumiu a prefeitura. Qual o balanço que  faz da sua administração?

José Fortunati – É claro que o meu governo tem de ser compreendido como um governo de continuidade. Começou em 2008 com o prefeito José Fogaça. Mas, além de dar continuidade aos programas importantes que vinham sendo pensados para a cidade, como o Programa Integrado Sócio-ambiental (PISA), investimos na drenagem urbana e no chamado aluguel social. O PISA é o principal programa de saneamento feito hoje no Brasil, um programa revolucionário, conforme a ministra (do Planejamento) Miriam Melchior. As obras começaram em 2005 com o prefeito Fogaça e nelas estão sendo investidos R$ 37 milhões. Na área da drenagem urbana, nós fortalecemos Porto Alegre. Tanto é que, apesar do acúmulo de chuva, que inundou praticamente toda a Região Metropolitana, tivemos poucos focos de inundação ma cidade. Isso não se deve somente à graça divina, mas à ação efetiva da prefeitura.

"Um levantamento feito pelo Setor de Comunicação da CBF, em todo o Brasil, mostra que a cidade que recebe mais críticas da imprensa é Porto Alegre" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Recentemente, o senhor trocou o secretário que tocava as obras da Copa. Podemos chamar de desentendimento o que aconteceu?

José Fortunati – Não é desentendimento. Fiz isso exatamente porque tenho dados concretos. Um levantamento feito pelo Setor de Comunicação da CBF, em todo o Brasil, mostra que a cidade que recebe mais críticas da imprensa é Porto Alegre. Disse e vou repetir: busca-se o que acontece em outras cidades e, simplesmente, atinge-se Porto Alegre. Um exemplo: critica-se o fato de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Natal, Maceió, Brasília, entre outras cidades, estarem usando dinheiro público para reformarem ou construírem os estádios. E esquecem que, em Porto Alegre, nós não estamos colocando um único centavo na reforma do Gigante da Beira Rio, que é totalmente bancado pelo Sport Club Internacional numa parceria feita com uma empresa privada. Uma crítica descabida em relação a Porto Alegre.

Esquecem que não estamos colocando um centavo na reforma do Beira-Rio

Sul21 – Há outras críticas.

José Fortunati – Criticam a falta de transparência. Esquecem que Porto Alegre tem uma tradição de 22 anos com o Orçamento Participativo, em que a comunidade acompanha, através de comissões de obras, as obras do OP. Tomei a iniciativa de apresentar ao OP as obras da Copa e eles assumiram estas obras como do OP. Tem total transparência. Além disso, buscamos o Ministério Público do Estado, que formou uma comissão para acompanhar as obras. Temos uma parceria com o Tribunal de Contas, que também acompanha todas as obras no sentido de orientar. Há, também, o nosso site, o site transparência, que hoje é reconhecido como um dos melhores sites de transparência do país. As obras estão sendo lá colocadas. Não aceito que questionamentos feitos em relação a algumas cidades e mesmo em relação à própria CBF, já que há uma disputa muito grande com o Ricardo Teixeira, sejam simplesmente repetidos em Porto Alegre, como se problemas outros nos atingissem. Aqui em Porto Alegre temos a máxima tranquilidade, com transparência e participação democrática.

"As obras estão sendo lá colocadas. Não aceito que questionamentos feitos em relação a algumas cidades e mesmo em relação à própria CBF, já que há uma disputa muito grande com o Ricardo Teixeira, sejam simplesmente repetidos em Porto Alegre, como se problemas outros nos atingissem" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – E quanto ao calendário?

José Fortunati – Cobra-se muito a questão do cumprimento de prazos. Foi em dezembro de 2007 que Joseph Blatter anunciou ao presidente Lula que o Brasil seria a sede da Copa. Durante todo o ano de 2008, uma empresa de consultoria, contratada pelo governo federal, a ABDIB (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base) fez um estudo nas então 18 cidades candidatas. Ficaram aqui um ano. Fizeram levantamentos das áreas de segurança, turismo, hotelaria, mobilidade, saúde pública infraestrutura, estádios de futebol e aí por diante. Disso resultou um caderno de encargos com os pontos fortes e fracos de cada cidade. Em 31 de maio de 2009 é que nós ficamos sabendo quais seriam as 12 cidades sedes. Durante 2009, discutimos com o governo federal as fontes de financiamento. O governo federal negou financiamento da União, mas ofereceu financiamento via Caixa Econômica Federal. Esta negociação não foi simples. O prefeito Fogaça foi quem assinou esta matriz de responsabilidade no início de 2010. Na prática, um projeto só pode ser executado a partir do momento em que tem a fonte de financiamento e que as coisas estejam determinadas. O problema é que o prazo da Copa do Mundo é exíguo, levando em consideração a complexidade de algumas obras.

"Nós lidamos com a vida concreta das pessoas. Com seus medos" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Por exemplo?

José Fortunati – A duplicação da Avenida Tronco. Alguns gostariam que a gente simplesmente passasse o trator ali. Isso não é possível. Existem 1,5 mil famílias, que moram no leito gravado da avenida e que terão de ser remanejadas. Eu pessoalmente fui àquela área, por mais de dez vezes, falar com a comunidade em assembleias amplas, abertas, para convencer a comunidade da importância da avenida, dos benefícios que ela trará, com o corredor de ônibus que faremos, dizer às famílias que elas serão remanejadas para lugares próximos da avenida Tronco, através do programa Minha Casa, Minha Vida. Este é um projeto de engenharia social extremamente complexo. Fizemos o levantamento socioeconômico, o levantamento cadastral para que elas possam ser abrigadas ou não pelo Minha Casa, Minha Vida, ou outra forma de financiamento. A prefeitura respeita as pessoas que lá moram há 30, 40 anos. Este foi um diálogo demorado, mas necessário. E está tudo resolvido. Estamos terminando o cadastro, as pessoas já discutem para onde irão, já há vários lotes desapropriados. O programa habitacional foi apresentado à CEF e ao ministério das Cidades e, totalmente, aprovado. Isto faz parte de um calendário, que não é somente o calendário de quem fica na prancheta, ou literalmente com a bunda na cadeira em escritórios, definindo o futuro da cidade. Nós lidamos com a vida concreta das pessoas. Com seus medos. O medo de serem simplesmente remanejadas à força, o medo de perder a sua casa, o medo de ir para longe do local onde trabalham. Nós trabalhamos isso. E estamos conseguindo, com diálogo, uma solução adequada.

Sul21 – Os prazos então serão cumpridos?

José Fortunati – Os prazos de engenharia serão cumpridos. A presidenta Dilma deu um prazo até 31 de dezembro de 2011 para que todas as obras sejam licitadas e todas as obras de Porto Alegre serão licitadas até 31 de dezembro de 2011. E há uma exigência de que todas as obras estejam prontas até 31 de dezembro de 2013. E todas as nossas obras ficarão prontas até 31 de dezembro de 2013. Neste sentido, estou muito tranquilo.

"Tenho a convicção de que todas as obras planejadas para Porto Alegre ficam prontas em 31 de dezembro de 2013" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Vamos relembrar as exigências da FIFA.

José Fortunati – O que a FIFA exige é qualificação do transporte coletivo. Queremos colocar os BRTs (Bus rapid transit). Há pouco fizemos uma mudança que tem a ver com o metrô. Pelo financiamento da Caixa, um dos corredores de ônibus que seriam beneficiados é o da Assis Brasil. Nós deslocamos os recursos, de R$ 24 milhões, do corredor da Assis Brasil para o da Avenida João Pessoa, que não tinha recursos. Por quê? Porque nós estamos confiantes de que Porto Alegre vai ter o seu metrô. O metrô vai passar por onde? Justamente pelo corredor da Assis Brasil.

Sul21 – Continuando com as obras exigidas pela FIFA

José Fortunati – Tenho a convicção de que todas as obras planejadas para Porto Alegre ficam prontas em 31 de dezembro de 2013: duplicação da Avenida Beira Rio, corredor de ônibus da Padre Cacique, duplicação da Avenida Tronco, cinco obras de arte na Terceira Perimetral – dois viadutos e três trincheiras -, a Avenida Severo Dullius, que vai desafogar todo o trânsito do Vale dos Sinos por trás do aeroporto, o aeromóvel, cujas obras começam no segundo semestre, ligando a estação aeroporto do Trensurb até o terminal do aeroporto. São 150 metros.

Sul21 – Quanto será investido nas obras da Copa?

José Fortunati – Só o financiamento que nós temos do governo federal, via Caixa Econômica Federal, são R$ 480 milhões. Tem o investimento que está sendo feito nas obras do PISA, que são R$ 586 milhões. Se somar mais o Aeromóvel, que não é da nossa conta, são mais R$ 30 milhões. No aeroporto, obra do governo federal, serão investidos quase R$ 1 bilhão. No Cais Mauá, que é caudatário da Copa, mais R$ 500 milhões. Nós fizemos o cálculo tempos atrás, somando os investimento nestas obras, nos hotéis que serão construídos, na qualificação de mão de obra, em segurança e chegamos a R$ 3 bilhões de investimentos por causa da Copa.

"Investimentos na Copa vão gerar empregos e renda" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Estes investimentos refletirão na arrecadação?

José Fortunati – Com certeza. Geração de emprego, geração de renda, com toda certeza. E isso acaba refletindo nas finanças.

Sul21 – Porto Alegre vai se transformar em um canteiro de obras a partir de quando?

José Fortunati – A partir do primeiro semestre de 2012. Aí vai inverter completamente a lógica. Hoje, as pessoas reclamam que Porto Alegre tem pouca obra da Copa do Mundo. Tenho certeza de que, em agosto de 2012, estarão reclamando que tem muita obra. Toda obra causa um impacto na cidade.

Sul21 – Essas obras e reclamações poderão influir na sua candidatura à reeleição?

José Fortunati – Claro, com certeza.

Sul 21 – Positiva ou negativamente?

José Fortunati – Dos dois jeitos. Quem tiver a compreensão da importância das obras para a cidade, certamente o impacto será positivo. Quem olhar o transtorno que as obras causam, e vai ser num ano eleitoral, certamente vai ser negativo (risos). É exatamente isso. Obviamente tenho um prazo a cumprir e não posso pensar em 2012 como um ano eleitoral. Tenho de pensar em 2012 como um ano decisivo para que as obras da Copa comecem, pois se não começarem em 2012, elas não acontecerão. Não posso ficar preocupado com o ano eleitoral, mas no que diz respeito às obras. Se elas serão compreendidas ou não pela população – isso é sempre uma indagação – é uma outra discussão. Tenho que me preocupar que elas aconteçam. Chegar no final de 2013 com as obras concluídas. O meu prazo não é 2012, é 2013.

Obviamente tenho um prazo a cumprir e não posso pensar em 2012 como um ano eleitoral

Sul21 – Mas o senhor não está deixando de olhar também para as eleições de 2012. Há uma reunião com os vereadores da base.

José Fortunati – Mas não tem a ver com as eleições. Faço isso sistematicamente. Muitas reuniões são aqui no Paço. Estas reuniões têm a ver com a governabilidade. Apresentamos projetos, dizemos o que está acontecendo na cidade, tiramos dúvidas dos vereadores, discutimos a administração. Não sei quais destes partidos da base estarão comigo em 2012. Desta vez (na última sexta-feira), vamos discutir o segundo semestre do Legislativo e a relação da Câmara de Vereadores com a cidade.

Sul21 – Esta relação tem sido boa?

José Fortunati – Tem sido boa. Temos conseguido aprovar os projetos.

"Dou à base uma atenção para que os vereadores compreendam o que acontece no governo" l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Mas o senhor tem maioria.

José Fortunati – O fato de ter maioria não é tão simples. Na verdade, dependendo do projeto, é claro, alguns vereadores concordam, outros não. Dependendo do projeto tem, inclusive, votos da oposição. Caso concreto foi a criação da Secretaria dos Animais. Dos 36, apenas um voto contra. Tenho mantido uma relação muito aberta com toda a Câmara de Vereadores. Digo isso em relação ao PT, ao PSB, ao PSOL. Trato com os vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna, do PSOL, da mesma forma que trato com os outros vereadores. Eles solicitam uma audiência, eu os recebo. Com a base, sim, é diferente. Dou a ela uma atenção para que compreendam o que acontece no governo, para que tirem dúvidas. Por isso, faço uma reunião a parte.

Sul21 – Aqueles encontros com o PT pra tratar das eleições foram uma tentativa real de firmar uma aliança?

José Fortunati – Primeiro, aquilo é fruto de uma decisão do Diretório nacional do PDT, que entende o seguinte: já que estivemos no governo Lula e estamos no governo Dilma e, em vários Estados em que o PT é governo, o PDT está, como no caso do Rio Grande do Sul, seria natural para o diretório nacional do PDT que convidássemos o PT a participar da administração. Como eu entendi que isso politicamente era importante, afinal estamos no mesmo campo, fiz o convite, mesmo conhecendo o PT e sabendo que isso suscitaria um grande debate, o que é normal. Mas acho que um debate é a melhor forma da gente fomentar uma discussão sobre um tema que, para mim, não é tabu: convidar o PT a participar da minha gestão.

Não trato mais das eleições de 2012. O partido trata

Sul21 – Mas esta participação não ocorreu.

José Fortunati – O PT decidiu não participar. O Diretório Municipal (do PT) decidiu não participar. E não tem a ver com 2012, porque o PT continua discutindo o que vai fazer em 2012. São duas discussões a parte que, obviamente, acabam se encontrando no cenário que estamos vivendo hoje.

Sul21 – Esta decisão teria se dado porque o senhor convidou mais gente do PMDB e do PSDB para o seu governo.

José Fortunati – Há um equívoco dos que afirmam que eu aumentei o peso deste ou daquele partido no governo municipal. O que aconteceu foram alterações de nomes. Também estranhei muito a manifestação do deputado Raul Pont (presidente estadual do PT), por quem tenho o maior respeito e fui seu vice-prefeito com o maior orgulho, dizendo que não poderia participar de um governo que tem secretários da ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Eu pergunto: e o governador Tarso Genro não tem secretários da ex-governadora Yeda Crusius? Tem. Ou o deputado Raul Pont não se deu conta ou está com falha na memória. Se ele fizer um apanhado e olhar as secretarias do governo Tarso Genro, vai encontrar pessoas no primeiro e segundo escalões, que participaram do governo Yeda. Então, não aceito este tipo de argumento. Acho que, na verdade, é tentar carimbar o meu governo com uma coisa que não cabe na medida em que o governo Tarso fez a mesma coisa: acabou incluindo na sua gestão nomes do governo anterior. Acho que o fundamental é definir se nós queremos afinidade em termos de gestão, se queremos construir 2012, 2014 de forma conjunta. Mas eu parei o meu debate sobre isso. Já me reuni com o presidente nacional (do PDT), Carlos Lupi, com o presidente metropolitano, Nereu D’Ávila, com o presidente estadual, Romildo Bolzan e disse que não trato mais das eleições de 2012. O partido trata.

"Há um equívoco dos que afirmam que eu aumentei o peso deste ou daquele partido no governo municipal. Eu pergunto: e o governador Tarso Genro não tem secretários da ex-governadora Yeda Crusius? Tem" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Sul21 – Mas o senhor ainda tem esperanças de compor uma chapa com o PT para 2012?

José Fortunati – Agora, as negociações estão nas mãos da direção do PDT.

Sul21 – O senhor não se mete mais nisso.

José Fortunati – Não me meto mais nisso.

Sul21 – Se a sua chapa não for composta com o PT, será com qual partido?

José Fortunati – Não discuto mais nada sobre 2012. Na verdade, li no Sul21 mesmo, o pessoal reclamando que o PDT não está sendo pró-ativo.

A minha tarefa é cuidar da cidade, da melhor forma possível

Sul21 – Foi o PP.

José Fortunati – O PP reclamou. É verdade, porque como nós estamos numa fase de transição no PDT metropolitano, ninguém está tomando esta iniciativa. Eu não estou tomando.

Sul21 – Nem vai tomar?

José Fortunati – Nem vou tomar, porque acho que é uma questão partidária. Esta não é tarefa do prefeito. A minha tarefa é cuidar da cidade, da melhor forma possível. E a tarefa do meu partido é fazer as negociações para 2012.

"A disputa pelo Diretório Metropolitano imobilizou o PDT" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul 21 – O presidente do PP disse que a base do senhor é a formada pelo ex-prefeito José Fogaça e que o PDT não se mexeu até agora.

José Fortunati – É verdade. E por que não se mexeu? Não se mexeu porque estamos num processo interno de disputa para a definição da próxima direção do metropolitano. Enquanto isto não se resolver, PDT fica imobilizado. Essa disputa não tem permitido que o PDT faça movimentos muito claros em relação aos demais partidos. Espero que, ainda em agosto, tenhamos uma definição de quem passará a comandar o PDT em Porto Alegre. Esta pessoa será encarregada de, imediatamente, começar os contatos com os outros partidos.

Sul21 – O que levou a esta divisão dentro do Diretório Metropolitano? Há solução?

José Fortunati – Ih! (mostrando desânimo) Acho que são tantos os fatores. Fica difícil buscar uma única razão. Mas, no fundo, naturalmente, está a postulação legítima de pessoas que, de forma diferente, querem comandar o partido em Porto Alegre. Mas influem a disputa da Câmara de Vereadores, a CPI da Juventude, a própria acusação de que o PDT nos últimos anos – alguns fazem isso, estou apenas reportando – não tem respondido de forma satisfatória às bases. Não sei. Um debate que todos nós conhecemos e que acontece em qualquer partido.

Sul21 – E se as eleições fossem hoje o que senhor diria dos seus adversários?

José Fortunati – Tenho consciência de que estamos apenas em agosto de 2011 e as eleições acontecem em 5 de outubro de 2012. Pela minha experiência – a vantagem de ter cabelos brancos é esta, ter experiência – é de que ninguém define nada faltando mais de um ano e dois meses para as eleições. É muito cedo. Tenho o maior respeito pela Manuela (D’Ávila, deputada federal pelo PCdoB), tenho um carinho especial por ela, sou amigo pessoal dela. Obviamente sei da visibilidade que ela tem. Ninguém sai no processo eleitoral com mais de 400 mil votos no Estado. A gente não pode menosprezar. Tenho um carinho pelo Adeli Sell (vereador pelo PT), que é meu amigo pessoal desde que moramos juntos na Casa do Estudante, da UFRGS. A Sofia Cavedon (PT), que é presidente da Câmara Municipal, uma das pré-candidatas. Pela (ministra dos Direitos Humanos) Maria do Rosário (PT) também tenho o maior carinho pessoal e respeito político. Enfim, todos os nomes que estão sendo levantados têm da minha parte respeito e, obviamente, se por ventura, nós chegarmos ao processo eleitoral de 2012 com várias candidaturas, todos serão respeitados por mim. E farei o debate político em torno do que entendo mais adequado para a cidade.

Sul21 – Teve uma época em que o PDT dominava Porto Alegre.

José Fortunati – É verdade.

Há um ceticismo muito grande em relação aos partidos

Sul21 – E foi cedendo espaço para o PT. Hoje, qual é o peso do eleitorado pedetista na cidade?

José Fortunati – Acho difícil fazer uma análise partidária. Pela minha experiência, pela experiência de alguém que ajudou a criar o PT em 79, em Porto Alegre – fiz parte da primeira comissão, militando muito em Porto Alegre -, a cidade mudou muito. Nós passamos a ter, especialmente na década de 80, pessoas muito mais identificadas com os partidos políticos. Infelizmente, devido a uma série de problemas, pelos quais a política passou e vem passando, e um certo desprestígio dos “políticos” no cenário nacional, hoje, não se movem mais pelos partidos.

"Eleitores, agora, preferem votar nas pessoas. Aí surge o voto Frankenstein" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Qual a atitude do eleitor agora?

José Fortunati – Há um ceticismo muito grande em relação aos partidos. Percebo isso no dia a dia. Ando por toda a cidade, vou para vilas populares, ando com a classe média, ando com a classe alta e noto que não tem mais, o que é uma lástima. Isso é muito ruim para a democracia. Acho que houve um enfraquecimento dos partidos no imaginário popular. Percebemos que as pessoas não estão dispostas a serem militantes partidárias. Serem simpatizantes, sim, mas não militantes. Aí tem uma grande diferença: o militante é ativo, o simpatizante é passivo. E pode votar, inclusive, em pessoas de vários partidos, porque vai muito pela confiança que tem em cada pessoa, pela simpatia que tem pelos candidatos. Isto é a chamada salada de frutas ou o voto Frankstein. Acho que, infelizmente, esta é a lógica hoje de uma maioria dos eleitores, que escolhe as pessoas independente de partido.

Sul21 – O senhor disse que anda por toda a cidade, tem contatos com pessoas de todas as classes. Qual o seu sentimento? Se as eleições fossem em 2011 o senhor seria reeleito?

José Fortunati – É muito difícil fazer esta análise. Como não se fala abertamente no processo eleitoral, as pessoas não manifestam esta ou aquela preferência. Além disso, as pessoas falam comigo na condição de prefeito da cidade e não na de candidato. Não tenho qualquer avaliação sobre qual o reflexo que nós teríamos se as eleições fossem hoje.

O êxito do PDT nas eleições vai depender do êxito na gestão da cidade

Sul21 – O PDT, como os demais partidos, perdeu credibilidade. O senhor acha que as comemorações dos 50 anos da Legalidade ajudarão o partido a retomar esta credibilidade?

José Fortunati – São duas coisas distintas. Já percebi isso há mais tempo. Uma coisa é a relação das pessoas com o PDT e outra com o Brizola, com o brizolismo. São dois conceitos diferenciados. A mesma pessoa, que tem um carinho muito grande pelo Brizola, que é apaixonada politicamente pelo Brizola, obrigatoriamente, não vota no PDT. Este é um dado muito concreto. A tendência é maior de voto no PDT? Até pode ser maior, mas não é automática; não é uma transferência automática. O fato da pessoa ser brizolista ou simpatizante do Brizola não significa que vá votar no PDT. Acho que o êxito do PDT em Porto Alegre vai depender muito do sucesso da gestão. As pessoas acima de tudo são pragmáticas. A maioria vai analisar, lá em outubro de 2012, se a gestão, comandada pelo PDT, teve êxito ou não. E vai votar de acordo com esta compreensão.

"Brizola e Lula são muito maiores do que os seus partidos" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – O que separa o brizolismo do PDT? É como o lulismo e o PT?

José Fortunati – Tanto o Brizola quanto o Lula são maiores que seus partidos. O Brizola é muito maior que o PDT e o Lula que o PT. Ou seja, no imaginário popular e no coração de muita gente, uma coisa é a relação afetiva, de respeito com a vida pública, política, do Brizola e a outra é a relação com o PDT, que é um partido orgânico, que define bandeiras. Esta pessoa que tem todo o carinho pela memória do Brizola, pelo que ele fez, pode votar em outro partido. A mesma coisa acontece com o Lula, que é esta figura fantástica, maravilhosa. A gente sabe que muitos que votam no Lula não votam no PT. A leitura é a mesma.


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