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25 de agosto de 2011
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14:41

Hip hop gaúcho luta por verbas municipais

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Sul 21
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Hip hop gaúcho luta por verbas municipais
Hip hop gaúcho luta por verbas municipais
"Com a realização de eventos municipais, haverá verba anual garantida para o hip hop", defende o músico Rafael (e) | Foto: Divulgação

Rachel Duarte

“Acredito e incentivo que somos todos iguais, se liga no raciocínio, domínio, temos o poder e não sabemos. Então vem, unifica, que unidos venceremos”. O trecho da música “Todos Iguais”, do grupo de rap gaúcho Rafuagi, resume o espírito da luta organizada pelo movimento hip hop no Rio Grande do Sul nos últimos meses. Depois de conseguirem a aprovação, por lei municipal, da Semana do Hip Hop em Esteio, artistas, ativistas e simpatizantes estarão unidos nesta quinta-feira (25) na Câmara de Vereadores de Canoas, que também votará um projeto igual. Se aprovado, o município será o quarto no Estado a incluir o segmento nas previsões orçamentárias do calendário anual de eventos. Pelotas, Bagé e Cidreira também deverão aprovar a lei até o final de 2011, ano escolhido pelos grupos para impulsionar o hip hop no estado.

À frente da articulação para garantir que outras cidades também valorizem o hip hop, estão os rappers Nitro Di (ex-integrante do grupo Da Guedes), e Rafael Diogo (Rafuagi). “O hip hop ainda é confundido com marginalização. Tem mais de 20 anos que fazemos exatamente o contrário. Utilizamos nossas letras para falar sobre os problemas sociais do país, como drogas e violência”, fala Nitro Di.

Preparando o lançamento do primeiro CD oficial depois de nove anos de estrada, Rafa Rafuagi conta que as dificuldades para sobreviver da música no Rio Grande do Sul são ainda maiores para os artistas do hip hop. “Estamos fora do eixo Rio-São Paulo. Aqui tem muita predominância da cultura gauchesca, então a cultura do hip hop não tem vez. Tentamos há tempos incluir nossos grupos na Expointer, por exemplo, mas não temos vez”, afirma o morador de Esteio, berço da exposição agropecuária.

Entre os problemas, a cor da pele, o estilo da roupa e a identificação com comunidades de periferia são os principais fatores de discriminação para os chamados “manos”. “Sempre rola shows como uma oportunidade de visibilidade, por cachês muito baixos. Estamos em constante avaliação pelos organizadores dos eventos locais. É como se estivéssemos sempre tendo que provar que o que fazemos é do bem”, fala o cantor da Rafuagi.

Na avaliação do veterano Nitro Di, a influência do esteriotipado estilo norte-americano acaba iludindo os jovens aspirantes a uma vida profissional dentro do hip hop brasileiro. “A vida não é feita de carrões, mulheres, correntes de ouro, como aparecem nos clipes. Mas a crítica que os americanos conseguem expor é muito mais impactante que a nossa. Temos que saber compor”, critica.

"Somos o único ritmo que está dentro da realidade brasileira”, afirma Nitro Di | Foto: Divulgação

Leis municipais impulsionam hip hop

Com a organização dos grupos para garantir as leis da Semana do Hip Hop nos municípios, o Rio Grande do Sul pode conquistar mais espaço e reconhecimento. “Nosso movimento acordou no RS. Com a realização destes eventos municipais, haverá verba anual garantida para o hip hop. Já temos um cronograma de atividades para potencializar atividades em um calendário anual de modo que todo mês tenha alguma ação”, explica Rafuagi.

O presidente da Associação de Hip Hop de Canoas, Alex Sandro Loureiro, o DJ Abu, afirma que a aprovação da lei nesta quinta significará a consolidação de uma luta de dez anos da entidade no município. “Construímos este projeto em 2009 e em 2010 ganhamos o apoio de um vereador. A intenção é disseminar a cultura entre os jovens e ofertar uma alternativa ao mundo do crime. A lei é uma ferramenta de expectativa de vida”, sustenta.

Em Canoas, cerca de 70% dos jovens escutam hip hop e a entidade de Abu realiza oficinas em escolas e batalha por espaço nas programações culturais da cidade. “Com a lei, os grupos poderão ser mais qualificados e ganhar visibilidade no Estado. Poderemos nos organizar para dar mais suporte à construção de estúdios para gravações”, exemplifica.

Os rappers Nitro Di e Rafa Rafuagi estarão na sessão plenária de Canoas para impulsionar a aprovação da lei. “Temos que mostrar ao poder público que o movimento está organizado. O nosso gênero não está só nas casas noturnas, nós estamos na periferia, nos presídios, nas escolas. Somos o único ritmo que está dentro da realidade brasileira”, afirma Nitro Di.

Porto Alegre e Caxias do Sul foram as primeiras cidades a aprovar a lei. Apesar de pioneira, a capital gaúcha encontra dificuldades para executar a legislação aprovada em fevereiro de 2008, na gestão do ex-prefeito José Fogaça (PMDB). “Desde que aprovaram a lei, nunca executaram. A semana acabou virando a semana do grafite, devido à mobilização independente dos grupos”, critica o presidente da Federação Gaúcha de Skatistas (FGSKT), Jean Felipe de Andrade.

O secretário de Juventude de Porto Alegre, Luizinho Martins, garantiu ao Sul21 no dia 12 de agosto que irá cumprir a lei. “Temos outro projeto de incentivo ao hip hop em elaboração também”, informou. A Semana Municipal do Hip-Hop de Porto Alegre é prevista para acontecer toda segunda semana do mês de maio, portanto, deverá será realizada apenas no ano que vem na capital.


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