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23 de agosto de 2011
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13:19

Ex-diretor critica falta de estrutura e contratações irregulares no São Pedro

Por
Sul 21
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Foto: Elson Sempé Pedroso
Lúcio Barcelos deixou direção do São Pedro criticando sucateamento e irregularidades na contratação de pessoal | Foto: Elson Sempé Pedroso/Câmara

Igor Natusch

A saída de Lucio Barcelos da direção do Hospital Psiquiátrico São Pedro levantou dúvidas não apenas sobre problemas de infraestrutura e pessoal. Há também dúvidas sobre a presença de pessoas ligadas ao gabinete de Simoni, recebendo gratificação de 45% por risco de vida mesmo sem ter nenhuma relação com as atividades do hospital psiquiátrico. O secretário de Saúde, Ciro Simoni, diz que as acusações são exageradas e refletem um “projeto político”.

Médico sanitarista, Lucio Barcelos também é vereador suplente do PSOL em Porto Alegre e assumiu no Hospital São Pedro em maio deste ano, dentro da cota pessoal do secretário Ciro Simoni. Pediu demissão no final da semana passada, alegando insatisfação com o modo como a secretaria encarava as dificuldades do hospital. De acordo com Barcelos, há problemas “perfeitamente solucionáveis” de infraestrutura e pessoal, que acabam se tornando cada vez mais graves pela falta de interesse do governo.

O ex-diretor do São Pedro afirma que a estrutura do Departamento de Coordenação de Hospitais do Estado (DCHE) está instalada em uma das melhores áreas do hospital, reformada recentemente. Esse departamento, diretamente ligado ao gabinete do secretário Ciro Simoni, é constituído de mais de 20 funcionários. “Essas pessoas são ligadas à secretaria e não trabalham no hospital, mas ganham adicional simplesmente porque estão instaladas lá”, critica o ex-diretor.

Além do DCHE, a estrutura do São Pedro também abriga uma divisão de transportes e estaria prestes a receber também as centrais de transplantes e oxigenoterapia da secretaria de Saúde – todas sem vinculação com as atividades do hospital psiquiátrico. Barcelos garante ter feito questionamentos a respeito e recebido, como resposta, a afirmação de que uma mudança de quadro traria um “problema social” aos funcionários que recebem a gratificação. “Essas pessoas deveriam estar no Centro Administrativo. Trata-se de um subterfúgio, uma forma tortuosa de fazer com que essas pessoas recebam mais”, afirma.

Ex-diretor queria “trabalhar isolado”, diz Simoni

O secretário de Saúde Ciro Simoni afirma que o DCHE tem como função coordenar conjuntamente os três hospitais psiquiátricos do governo – o São Pedro, o Sanatório Partenon e o Hospital Colônia Itapuã, mais voltado a portadores de hanseníase. A ideia, segundo o secretário, é otimizar a compra e distribuição de medicamentos e equipamentos para esses hospitais. “Não interfere na direção técnica dessas unidades, mas o Lucio não queria isso, queria que o hospital trabalhasse isolado”, garante Simoni.

A instalação do departamento nas dependências do São Pedro foi, segundo o secretário, uma questão de gerenciamento. Anteriormente, o órgão estava no Sanatório Partenon e teria sido deslocado para um local onde teria “mais espaço”, de acordo com Simoni. “O diretor (do DCHE) é médico do São Pedro, já recebe o adicional há muitos anos. Os demais são cargos de confiança, com salário fixo. Não tem nada disso, não se trata de uma manobra”, assegura.

Simoni admite que, no caso da divisão de transportes, há o objetivo de garantir que os funcionários recebam um pouco mais. Mas justifica dizendo que os motoristas estão no nível mais baixo da folha salarial do governo, em alguns casos recebendo pouco mais de R$ 500. “Isso vem já do governo passado”, garante. “Foi promovida uma centralização dos veículos, porque antes era tudo disperso, ninguém sabia direito onde os carros estavam. E os motoristas acabam recebendo um pouco mais”.

Ciro Simoni: "Estamos trabalhando, mas é um processo que demora um pouco. Barcelos está usando esse argumento como desculpa para outros objetivos" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Serviços privados são vendidos dentro do São Pedro

Em entrevista ao Sul21, Lucio Barcelos criticou também a presença de pessoas vendendo serviços privados dentro do hospital psiquiátrico. Segundo ele, mais de 30 pessoas atuam nas dependências do São Pedro, oferecendo serviços que vão de acompanhamento e lazer até manicure e pedicure. O agora ex-diretor garante ter enviado, há mais de um mês, documento à Secretaria de Saúde pedindo providências. “Solicitei que fossem travados contratos emergenciais, não só para regularizar essa situação, mas também para cobrir outras carências do hospital, como psiquiatras e enfermeiros”. O pedido não teria recebido resposta.

Ciro Simoni diz ter tomado conhecimento da situação por meio do próprio Lucio Barcelos. O secretário explica que os moradores do São Pedro recebem um salário, por meio da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), mas são considerados incapazes de gerir esse dinheiro, que acaba nas mãos de tutores designados pela Justiça. “São os tutores que contratam essas pessoas de fora do hospital”, assegura. Ainda que a situação esteja dentro da legalidade, Ciro Simoni garante ser contra ela, e já teria pedido contratações emergenciais para acabar com a prática. “Estamos trabalhando, mas é um processo que demora um pouco, há uma burocracia. Ele está usando esse argumento como desculpa para outros objetivos”, ataca.

“O secretário está tentando levar a questão para o lado pessoal”, rebate Barcelos. Para o ex-diretor do São Pedro, Simoni é uma pessoa “boa e serena”, mas que demonstrou não ter o conhecimento necessário para gerenciar a área de saúde. “Não faço críticas ao ser humano, e sim à falta de politica para a saúde. Ou não tem política, ou a política está errada”. Ciro Simoni, por sua vez, diz que Barcelos demonstrou não saber trabalhar em grupo e que as críticas são fruto de um “projeto político”. “Para mim, esse senhor já é passado, essa questão está superada”, afirma.

O secretário esteve no Hospital Psiquiátrico São Pedro na manhã desta segunda-feira (22) para reunião com a comissão técnica e a associação de funcionários do complexo. A ideia, segundo ele, é deixar os aspectos técnicos na mão de um grupo de funcionários, deslocando um quadro de dentro da Secretaria de Saúde para tomar conta da parte administrativa do hospital.


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