Felipe Prestes
O #BlogProgRS reuniu na manhã deste sábado (28) importantes atores da blogosfera para discutir a importância estratégica e viabilização da comunicação digital. A mesa foi composta por quatro blogueiros. Eduardo Guimarães, comerciante; Renato Rovai, jornalista, e editor da Revista Fórum; Leandro Fortes, repórter de Carta Capital e Gabriela Zago, pesquisadora das redes sociais, concordaram sobre a importância crescente de sites, blogs e Twitter e também que os governos devem financiar os meios de comunicação digitais, por meio de patrocínio. O argumento para justificar isto é simples: em nenhum país a grande imprensa é tão financiada por dinheiro público como no Brasil.
Por este motivo, o jornalista Leandro Fortes afirma que o financiamento por patrocínio estatal não é motivo para vergonha para sites e blogs. Os debatedores também lembraram que grandes financiamentos feitos por bancos estatais foram fundamentais para a manutenção de vários veículos da grande imprensa. Renato Rovai comparou pequenas e microempresas de comunicação com a agricultura familiar. “Como 30% da compra de merendas escolares é feita com a agricultura familiar, também pode ser fixado um percentual para o patrocínio a pequenas e microempresas de comunicação”, sugeriu. Integrantes da mesa lembraram que o Governo Lula deu início a esta política, ainda que pouco em meio digital, ao capilarizar os recursos dos patrocínios estatais, que antes beneficiavam apenas algumas dezenas de veículos em todo o país e, hoje, atingem milhares de empresas.
Cooperação
Os participantes falaram também sobre a necessidade de maior cooperação entre blogueiros para, por exemplo, negociar uma venda casada de anúncios com a iniciativa privada, ressaltando, porém, a necessidade de que se mantenha a diversidade na blogosfera. Lembraram de uma questão-chave em que os editores de blogs precisam se ajudar: o assédio judicial.
Leandro Fortes afirmou que os processos contra blogueiros não são uma novidade, na medida em que atores da imprensa tradicional já costumavam ser processados pelo conteúdo de reportagens. Ele próprio já sofreu mais de 30 processos, seis deles por Antônio Carlos Magalhães, quando Fortes trabalhava na imprensa baiana. Para os blogueiros, contudo, a questão é mais delicada. Sem recursos, sem alguém para ampará-lo, um processo pode inviabilizar sua atividade. “Nas grandes empresas, os departamentos jurídicos sempre me ajudaram. Nunca precisei me defender com dinheiro saído do meu bolso”, afirmou Fortes.
O repórter de Carta Capital afirmou que os defensores da cultura digital precisam levar a sério a escolha de representantes nas eleições que defendam esta bandeira, que tenham projetos que ajudem a manter e aprimorar este instrumento que promove a democratização da comunicação. Nesta toada, Renato Rovai vaticinou que partidos, sindicatos envelhecem a passos largos, quando não acompanham a juventude que se mobiliza nos meios digitais.
Importância da internet
“Sou do tempo em que você podia ser expulso de um restaurante por falar em comunismo”, ressaltou Eduardo Guimarães, contando que isto de fato aconteceu com sua família durante a ditadura militar. Guimarães era garotinho de seis anos e, contrariado com o prato escolhido pela família gritou “comunismo” repetidas vezes, por saber que era algo que não se devia dizer. Resultado: família expulsa do restaurante e surra de cinta em casa. O causo foi para ilustrar a importância de espaços como o blog e o Twitter, da livre expressão que estes meios permitem.
Eduardo ressaltou, contudo, que a televisão ainda é um espaço a ser democratizado, o que é de suma importância para a cidadania. “Se tivéssemos um espaço que tem um jornal na televisão para explicar o novo Código Florestal, a população poderia conhecer o tema e se mobilizar”, exemplificou. Apesar disto, Renato Rovai disse estar certo de que nas últimas duas eleições houve uma “contrainformação” feita por eleitores de esquerda na internet, que conseguiu pautar as discussões e contrabalancear tentativas de a imprensa apear o governo Lula, e sua continuidade com Dilma Rousseff, do poder.
Gabriela Zago mostrou com dados que sites como Twitter, Facebook e Orkut são mais acessados que grande parte dos portais de internet, de importantes veículos de imprensa. Ela mostrou que este impacto já provoca a censura – o Twitter, por exemplo, tem vedado cada vez mais a pesquisa de dados do site. O caso mais nebuloso ocorrido nesta rede social foi quando a palavra Wikileaks era um dos termos mais utilizados pelos usuários em dezembro de 2010 e, estranhamente, não aparecia entre os tópicos mais abordados (trending topics). As reações de usuários contra casos como este, fazem com que os responsáveis pelo site cada vez mais limitem o acesso à pesquisa dentro dele.
A programação do evento segue neste domingo, na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre:
09h00 — Debate de plenário sobre o II BlogProg Nacional, elaboração da Carta dos Blogueir@s e Tuiteir@s Gaúch@s;
11h15 — Coffee Break;
11h45 — Deslocamento para o Parque da Redenção;
12h15 — PIG PARADE no Parque da Redenção.
