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13 de fevereiro de 2011
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22:52

Egito: militares dissolvem o parlamento e suspendem a Constituição

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Sul 21
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Protestos populares mudam o governo do Egito

Luciana Lima / Agência Brasil

Neste domingo (13), Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito, que governa o país desde a queda do ex-presidente Hosni Mubarak na última sexta-feira (11), anunciou que governará o país por seis meses e que um comissão vai reformular a Constituição do país. Os militares decidiram suspender as atividades do Parlamento. À Agência Brasil, o embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, disse que a decisão de dissolver o Parlamento egípcio e de suspender a Constituição do país são o “caminho mais natural” para se estabelecer a democracia no país. De acordo com o embaixador, não há como construir um governo democrático com um Parlamento eleito sob suspeita de fraude e com uma Constituição redigida sob um regime ditatorial.

“Esse é o caminho mais natural para a democracia no Egito. Podemos até comparar com a história do Brasil. Em nossa transição para a democracia, após o regime militar, precisamos de um novo Parlamento e formamos a Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou uma nova Constituição para o país, regida por valores democráticos”, explicou o embaixador.

O parlamento egípcio foi eleito em novembro de 2010. As suspeitas de fraudes nas eleições eram fortes e a população não acreditava que Mubarak havia conseguido 97% dos assentos. A Irmandade Muçulmana, partido de oposição à Mubarak, disse que a fraude nas eleições havia eliminado sua presença no Parlamento. Com isso, a reeleição de Mubarak nas eleições presidenciais desse ano estaria garantida.

De acordo com o embaixador, a decisão do Conselho Supremo das Forças Armadas de manter interinamente nos cargos os ministros de Mubarak, inclusive o primeiro-ministro Ahmed Shafiq, se deu por razões meramente econômicas e não se sabe até quando os interinos ficarão no poder. “Seria arriscado não mantê-los neste momento. Mas não se sabe até quando eles ficarão”, afirmou.

Os protestos contra Mubarak paralisaram o país e provocaram prejuízos econômicos em vários setores, com efeitos nos bancos, na bolsa de valores, no turismo. “O comércio parou”, detalhou o embaixador. Antes do início dos protestos, organismos internacionais que previam um crescimento da economia egípcia em torno de 6,5% para 2011 passaram a reestimar esse percentual em 3,7% após o início das manifestações.

Outro problema grave no Egito é o desemprego, fator que impulsionou as manifestações contra o governo de Mubarak. Cerca de 60% da população tem menos de 30 anos e nesta faixa o desemprego atinge 90%.

Hoje (13), pela manhã, manifestantes continuaram ocupando a Praça Tahrir, no centro do Cairo, mesmo diante da resistência dos militares empenhados em remover a população do local. A praça foi principal palco dos protestos populares iniciados no dia 25 de janeiro, pedindo a saída do presidente.

No entanto, de acordo com o embaixador brasileiro, as manifestações de hoje não tinham o mesmo caráter político registrado antes da queda do ditador. A maior parte dos manifestantes pertenciam a grupos organizados de trabalhadores reivindicando melhores condições de trabalho e pagamento de salários atrasados desde o final do ano passado.

“A embaixada brasileira fica bem perto da praça e o que pude observar eram manifestações com um caráter mais trabalhista do que político. Houve manifestações de operários, trabalhadores de empresas estatais e outros trabalhadores sindicalizados. Havia até protesto de policiais civis reivindicando melhores condições de trabalho. São outros grupos ocupando o mesmo palco”, comentou.

Proibidos de deixar o país

O Conselho Supremo das Forças Armadas, responsável pelo governo de transição no Egito, proibiu que 43 integrantes do atual governo e que também participavam da gestão do então presidente Hosni Mubarak deixem o país. A ordem determina ainda que sejam investigadas várias denúncias contra essas autoridades. Há informações de que um dos ministros do governo Mubarak é mantido em prisão domiciliar.

A proibição e as investigações se estendem ao ex-ministro do Interior Habib El Adly e ao atual ministro da Informação, Anas El Fekky. As informações foram divulgadas pela rede de televisão estatal do Egito, a Al Arábia TV.

A determinação do governo de transição ocorreu no momento em que o ministro da Informação, Anas El Fekky, havia marcado viagem para Londres (Inglaterra). Mas, de acordo com as informações, Fekky não compareceu ao embarque no aeroporto. A rede estatal de televisão informou que ele está em prisão domiciliar.

Na última sexta-feira (11), Mubarak renunciou ao poder e automaticamente o vice-presidente da República, Omar Suleiman, também deixou o governo. Desde então, está no comando do país o Conselho Supremo das Forças Armadas, sob as orientações do marechal Mohamed Tantawi, que ocupava o cargo de ministro da Defesa na gestão Mubarak.

O ex-presidente resistiu por 18 dias à pressão de manifestações populares e a cobranças de líderes políticos mundiais para deixar o governo. Por quase três décadas, ele se manteve como presidente do Egito. Em 1981, sucedeu Answar El-Sadat, o terceiro presidente do Egito, que morreu assassinado. O crime foi atribuído a militares.


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