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15 de fevereiro de 2011
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22:45

Deputado Sérgio Moraes: “Para mim não interessa o tamanho do adversário”

Por
Sul 21
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Por Roberto Stuckert Filho/ABr

Felipe Prestes

O deputado Sérgio Moraes (PTB) vai para seu segundo mandato no Congresso, mantendo a característica de falar o que pensa. Em 2009, seu nome ficou em evidência, depois que declarou a uma repórter estar “se lixando para a opinião pública”. Devido à repercussão da entrevista, Moraes acabou perdendo a relatoria do processo que julgava o deputado Edmar Moreira, conhecido como o “deputado do castelo”.

Apesar disso, ele não se arrepende da declaração e explica que estava sendo provocado por uma repórter da Rede Globo, emissora com a qual teve rusgas durante o mandato. “Eu não me arrependo, porque não disse aquilo para o povo. E o povo entendeu, tanto que aumentei minha votação e elegi meu filho deputado. O povo não é tão trouxa. O povo sabe das coisas”. O deputado avisa que não tem medo de enfrentar quem quer que seja: “Para mim não interessa o tamanho do adversário”.

Sérgio Moraes acredita que a “postura firme” é a resposta para o sucesso eleitoral da família: Kelly Moraes, sua esposa, é prefeita de Santa Cruz do Sul; e Marcelo, filho do casal, acaba de se eleger deputado estadual. Sem papas na língua, Moraes não nega que defende os fumicultores, mas ressalta que eles devem procurar diversificar suas atividades.

E, às vezes, demonstra se importar pouco mesmo com o que é veiculado na imprensa, ou ser impulsivo demais ao dizer o que pensa, e acaba cometendo alguns deslizes. “Ou o sujeito é bom e competente, ou vai trabalhar de catador de papel por aí”, chegou a dizer em determinado momento da entrevista, de cerca de 20 minutos, feita por telefone.

Sul21: O senhor foi eleito deputado federal. Seu filho, deputado estadual. E sua esposa é prefeita de Santa Cruz do Sul. Como é que sua família conseguiu este respeito em Santa Cruz do Sul?
Sérgio Moraes
: Antes disto eu já tinha sido vereador duas vezes, deputado estadual duas vezes, prefeito duas vezes. A Kelly tinha sido deputada federal e estadual, e hoje é prefeita. E o Marcelo tinha sido vereador e agora é deputado estadual.

Moraes diz que enfartou porque trabalhava demais como prefeito de Santa Cruz do Sul (Foto: Roberto Stuckert Filho/ABr)

“Nenhuma pessoa conhece tão bem a Prefeitura de Santa Cruz quanto eu”

Sul21: Que aspectos do trabalho de vocês justificam esta trajetória?
SM
: O que mais marcou foi a quantidade de obras que conseguimos fazer na região, não só em Santa Cruz. E a postura firme, sem titubear. Isto conquista o eleitor.

Sul21: Procuramos o senhor para a entrevista na semana passada, e o senhor estava na Prefeitura de Santa Cruz do Sul. De que forma o senhor auxilia sua esposa e seu filho, o senhor que é o político mais experiente da família?
SM
: Em todas as vezes que me perguntam, tento passar minha experiência, tanto como parlamentar, quanto como prefeito — são 30 anos de mandato. Estou indo agora para 34. Tento repassar da maneira mais fiel para que eles possam usar esta experiência, ganhar tempo e fazer um caminho mais curto para o bem da comunidade. Sem querer ofender ninguém, nenhuma pessoa conhece tão bem a Prefeitura de Santa Cruz quanto eu.

Sul21: Por quê?
SM
: Eu, quando fui prefeito, vivi aquela prefeitura durante oito anos, 24 horas por dia. Ali dentro eu enfartei. Fui eleito o melhor prefeito do Rio Grande do Sul e o segundo melhor do Brasil porque eu trabalhava dia e noite.

Sul21: O senhor enfartou dentro da Prefeitura? Como foi isto?
SM
: Enfartei lá dentro. Fiquei uma semana na UTI. Eu trabalhava de 16 a 18 horas por dia. Meus amigos e minha família pediam para eu parar, que eu estava ficando louco. Parecia que eu estava cego, cada vez trabalhava mais, e um dia explodiu. Quando eu digo que eu conheço como ninguém a Prefeitura de Santa Cruz, não é só glória. Isso também teve um preço.

Sul21: O que o senhor estava fazendo quando teve o enfarte?
SM
: Eram 16h quando começaram os sintomas, mas eu não dei muita bola. Uma dor no peito, comecei a tossir. Um médico me atendeu, disse que era um probleminha de tosse. Aí eu continuei trabalhando até as 21h. Às 21h30, quando eu cheguei em casa, deu.

Moraes apresentou projeto para criação de Fundo Nacional da Fumicultura (Foto: Roberto Stuckert Filho/ABr)

“Apresentei um projeto para que os produtores possam abandonar a produção do fumo e passar para outra atividade”

Sul21: O senhor chegou agora ao cargo de suplente na mesa diretora da Câmara. Como foi a articulação? O senhor fez campanha?
SM
: Não fiz. Eu fiquei sabendo no dia da votação, às 11h, que era candidato. Me convidaram às 11h do mesmo dia, sendo que a sessão começava às 17h. Acabei não fazendo campanha. Não tive tempo para nada. Tive a sorte e a compreensão dos 398 deputados que votaram em mim. Inclusive, fiz mais votos que o presidente da mesa (deputado Marco Maia).

Sul21: Foi uma escolha do PTB?
SM
: Foi uma indicação do partido.

Sul21: Qual a importância deste cargo?
SM
: São 513 deputados. Apenas 11 comandam a mesa. Eu sou um destes 11. O suplente participa de todas as reuniões da mesa. Nós somos suplentes de qualquer ponta. Se qualquer membro da mesa não assumir, à exceção do presidente, o suplente é que pode assumir.

Sul21: Em que áreas o senhor tem concentrado sua atuação na Câmara?
SM
: Eu sou muito ligado ao setor do fumo. E gosto de começar falando assim: eu não fumo e não deixo que ninguém na minha família fume, porque faz mal. Isto tem que ficar bem claro. Mas, por outro lado, são 200 mil famílias de pequenos produtores, que somam 1 milhão de pessoas na roça, que dependem desta lavoura de fumo. Além de 50 mil pessoas na área urbana, trabalhando nas fábricas. Apresentei já um projeto para fazer a diversificação. Para que, aos poucos, os produtores possam abandonar a produção do fumo e passar para outra atividade. Mas, enquanto isto não acontecer, temos que continuar plantando fumo, até porque 87% do fumo que produzimos no Brasil é exportado. E os fumantes não fumam cigarro porque ele é produzido aqui, ou na China. O fumante fuma porque é fumante.

Sul21: Como é este projeto?
SM
: Este projeto cria o Fundo Nacional da Fumicultura. Aumenta em 15% o valor do cigarro — e isto incomodou muito as fábricas de cigarro –, forma-se um fundo, que repassa 40% para a saúde pública. O Ministério da Saúde gasta R$ 400 milhões por ano, tratando dos doentes do fumo. Estaríamos repassando R$ 700 milhões por ano para o Ministério da Saúde. Outros 30% serão repassados para os produtores que começarem a diversificação. O restante vai para financiamento de equipamentos para o produtor diversificar a produção, entre outras questões.

“Cerca de 200 mil crianças desaparecem todos os anos no Brasil e 30% nunca mais são localizadas”

Sul21: Além desta questão do fumo, o senhor está trabalhando outros projetos? Existem outras áreas que o senhor defende?
SM
: Entrei com vários projetos. A telefonia celular dentro de presídios é uma coisa muito fácil de se resolver. Mas, quando eu fui mexer com isto, muitos “interésses”, como dizia o Brizola, apareceram na minha frente. Eu fiz um projeto de lei para colocar as fotos de crianças desaparecidas — e também de foragidos perigosos — nas carteiras de cigarro. Era uma maneira de, em poucos dias, atingir o país inteiro. Cerca de 200 mil crianças desaparecem todos os anos no Brasil. Tu não entendeste mal, não, é este número, cerca de 200 mil crianças. Sendo que destas 200 mil, 30% nunca mais são localizadas, ou seja, 60 mil crianças desaparecem por ano.

Moraes: "Tinha algumas pendências com a Rede Globo" (Foto: Edmar Gonçalves/Ag.Câmara)

Sul21: Na última legislatura, o senhor ficou em evidência por ter dado a declaração de que estaria “se lixando para a opinião pública”. O senhor se arrepende desta declaração?
SM
: Eu não me arrependo, porque não disse aquilo para o povo. E o povo entendeu, tanto que aumentei minha votação e elegi meu filho deputado. O povo não é tão trouxa. O povo sabe das coisas. Por mais que a imprensa tenha feito aquele carnaval, aquele barulho. Transformaram aquilo em um escândalo. Só que o eleitor em casa dizia: “Peraí, o Sérgio não é tão burro de dizer ‘estou me lixando para a opinião pública’, simplesmente”. O povo percebeu.

Sul21: Como foi o contexto da declaração?
SM
: O contexto foi que tinha algumas pendências minhas com a Rede Globo, com todo o grupo da Globo, e eles andavam, como a gente fala no RS, me negaceando, tentando achar um jeito de me tirar do caminho, porque eu dizia aquilo que eles não queriam ouvir. Até que um dia, uma das repórteres, quando eu falava do direito que tinha de ter uma posição, ela disse: “Se continuar com essa posição, nós vamos colocar a opinião pública em cima do senhor”. E eu disse para ela: “Menina, não me troco, não me vendo, não estou a negócio, não tenho medo de ti, estou me lixando para ti, para a opinião pública, para todo o mundo. Minha posição eu vou manter”. E mantive. Só que ela pegou só aquela parte que interessava e transformou em um escândalo nacional. E as outras mídias foram na carona. Mas eu chegava no público, nos meus eleitores, e as pessoas diziam para mim: “Sérgio, fica tranquilo que a gente não acredita nisto. É lógico que tu não dirias isto para nós. A gente sabe que isto é coisa da imprensa”. O que aconteceu? Aumentei meus votos.

Sul21: Que pendências o senhor tinha com a Rede Globo?
SM
: Vou te dar um exemplo: a Globo criou um escândalo porque o (deputado) Paulinho da Força (PDT-SP) havia pegado R$ 1,2 milhão a fundo perdido no BNDES e aplicou no projeto Meu Guri. Aplicou R$ 9 milhões no projeto, R$ 1,2 milhão eram do BNDES. E não havia prestado contas, porque não havia terminado (o projeto). E aí a Rede Globo tentou liquidar com o Paulinho, tanto que acabaram pedindo a cassação dele. Só que eu descobri que a Rede Globo também tinha pegado R$ 1,2 milhão para a Fundação Roberto Marinho, nos mesmos moldes, e que também não tinha prestado contas. Eu descobri isto e cobrei. Eles não deram uma linha, os demais jornais também não. E aí eles acabaram ficando brabos comigo. E tem outras pendências, pelas quais fiquei marcado. Eles ficaram incomodados com a minha posição, tipo assim: “A gente pode acusar todo o mundo, mas ninguém pode nos acusar de nada”. E eu não sou assim. Se eu te acusar de alguma coisa, eu acuso a ti e a quem estiver na minha frente, se cometer a mesma falha. Para mim não interessa o tamanho do adversário.

Moraes: "Globo acusa trabalho infantil, mas usa crianças em novelas" (Foto: Diógenis Santos/Ag.Câmara)

“Eu não estive nenhum dia no Governo Yeda. O Tarso apoiamos desde o início”

Sul21: O senhor acusou isto em plenário?
SM
: Em plenário. Acusaram meus produtores de fumo de usar crianças nas lavouras. E aí montaram um processo contra os trabalhadores do fumo. Aí eu fui lá no Senado, na audiência pública da Globo, e disse o seguinte: “Mas, vem cá, vocês usam crianças nas novelas, o que é que vocês querem?”. Então eles se enlouqueceram comigo, ficaram umas onças. “Mas, espera aí, se vocês são contra o trabalho infantil, vocês não podem botar nas novelas”. Então, foram estas coisas. Eles foram me negaceando.

Sul21: Qual foi a participação da Globo nesta audiência pública?
SM
: A Globo denunciou no Fantástico o trabalho infantil nas lavouras. Uns meses depois isto parou lá no Senado. E lá eu questionei eles. Aí, a audiência foi para a gaveta, nunca mais ninguém falou no assunto e eu recebi um carimbo na testa.

Sul21: Como é que o senhor vê a participação do PTB no governo Tarso, logo após ter participado do governo Yeda até o fim do mandato. O PTB corre o risco de ficar estigmatizado, aqui no estado, como um partido que quer sempre estar no governo?
SM
: Eu não estive nenhum dia no Governo Yeda. A Kelly Moraes, quando deputada, não votou nunca com a Yeda. Fomos sempre oposição à Yeda. Mas um grupo do partido aceitou alguns cargos e foi para lá. Nós não nos vendemos e não nos curvamos para ninguém. Tem que perguntar para aqueles que aceitaram.

Sul21: Então o partido não estava fechado com a Yeda?
SM
: Tanto é que a Kelly votou sempre contra a Yeda, quando isto era de interesse do povo.

Sul21: E com o Tarso, o partido está fechado?
SM
: O Tarso apoiamos desde o início. Não temos nenhum cargo indicado ainda. Talvez teremos ali na frente, mas não será simplesmente para indicar o amigo, ou para que o partido arrecade. Não é o nosso caso. Nós só indicamos técnicos, gente de carreira. Indiquei o comandante para a Defesa Civil, meu nome não passou, mas era um dos mais técnicos que tinha no estado, gente de carreira. Indiquei gente para assumir diretorias do Banrisul, que também não passaram, mas eram técnicos, não eram apadrinhados. Acho que o povo não aguenta mais estes apadrinhamentos, do tipo assim “o filho do meu compadre está desempregado, vou arrumar uma vaguinha”. Isto tem que acabar. Ou o sujeito é bom e competente, ou vai trabalhar de catador de papel por aí.

Sul21: Em nível nacional, o PTB fez parte oficialmente da coligação de José Serra. Mas o senhor e o então senador Sérgio Zambiasi, grande líder do partido aqui no RS, apoiaram Dilma Rousseff. O PTB está dividido no Congresso, ou está com a Dilma?
SM
: O PTB nacional, leia-se Roberto Jefferson e família, fechou com o Serra. Os deputados todos fecharam com a Dilma. Isto partiu do presidente, que colocou em votação no partido, mas o partido é comandado por ele e por sua família. Todos os deputados trabalhamos para a Dilma. Então, o presidente Roberto Jefferson, que é meu amigo, acabou tendo a posição dele e nós tivemos a nossa.

Sul21: Então esta é uma questão que o PTB nacional precisa equacionar? Este poder do Roberto Jefferson?
SM
: Isso está resolvido, não tem nada mais para se falar neste assunto. O presidente Roberto Jefferson não interfere nos nossos votos no plenário. Foi uma decisão dele. A gente tem que entender que ele denunciou o mensalão, e aí o PT cassou ele. Esta é a bronca dele, ele não senta na mesa com o PT.


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