Notícias
|
10 de janeiro de 2011
|
18:46

Roberto de Assis Moreira, um tratante ou apenas um bom negociador?

Por
Sul 21
[email protected]

Jorge Seadi

Roberto de Assis Moreira, irmão de Ronaldinho e presidente do Assis Moreira Group, completa hoje (10), 40 anos de vida. De uma vida que começou pobre, na zona sul de Porto Alegre, e que hoje gravita entre grandes empresários, dinheiro e luxo. Mas quem é este fenômeno que saiu da pobreza e chegou ao centro das atenções do país?

Roberto de Assis Moreira, conhecido como Assis, era filho de um guardador de carros do estádio Olímpico. Pela mão do pai, começou a jogar nas escolinhas do tricolor gaúcho. Sua qualidade no gramado o levou ao time titular como grande promessa. E assim ficou, raramentre demonstrando as qualidades prometidas. Porém, enquanto Assis jogava razoavelmente no time principal do Grêmio, seu irmão Ronaldo começava sua história no estádio Olímpico. Quem acompanhava o Assis Moreira mais novo tinha uma certeza: este sim seria um craque.

Roberto de Assis Moreira costumava negociar diretamente seus contratos. No primeiro deles, obteve o primeiro item de seu patrimônio: uma casa, sempre na zona sul de Porto Alegre, para que sua família tivesse uma vida digna. A casa, comprada pelo Grêmio depois de muitas idas e vindas, tinha dois pisos e até piscina. Pois foi nesta piscina que o chefe do clã Moreira morreu afogado. Ronaldinho tinha oito anos de idade.

Roberto de Assis Moreira, para o torcedor, continuava não correspondendo àquilo que se esperava dele. Foram 4 anos de “espera”, quando os dirigentes resolveram fazer dinheiro com a terna promessa e a negociaram com o Sion, da Suíça. Lá, fez sucesso. Em 95, saiu do Sion foi para Portugal jogar no Sporting. Um ano depois voltou ao Brasil, para o Vasco da Gama. Do clube carioca voltou para a Suíça, onde teve mais um ano vitorioso e, de lá outra vez para Portugal, agora no Estrela Amadora. Há dez anos atrás, Assis voltou ao Brasil, para o Corinthians. Ficou um ano em São Paulo, agora muito mais perto de Porto Alegre, de onde passou a observar a carreira do irmão que começava a chamar a atenção.

Roberto de Assis Moreira viu Ronaldinho ser convocado para a seleção brasileira, onde logo ficou conhecido mundialmente ao dar um chapéu num zagueiro da Venezuela e fazer um golaço em jogo pela Copa América. O Brasil venceu por 6 a 1. No mesmo ano, 1999, Ronaldinho ajudou o Grêmio a ser campeão gaúcho com direito a chapéu em Dunga e golaço.

Então, Roberto de Assis Moreira jogava no Corinthians e acompanhava o crescente sucesso do irmão. E sabia das propostas que chegavam de clubes europeus. Em 2000, o francês Paris Saint-Germain ofereceu 7 milhões de euros, prontamente recusados pelo presidente José Alberto Guerreiro. Com uma faixa colocada no estádio Olímpico — “Não vendemos Craques. Favor não insistir.” — o Grêmio continuava recusando propostas. Uma delas foi do Leeds United, da Inglaterra, e ficou famosa. Era de 75  milhões de reais. As propostas chegavam e a direção tricolor as ignorava. Enquanto isso, a renovação de contrato de Ronaldinho — que recebia um salário apenas médio no clube — vencia em janeiro de 2001. Um mês antes, entrava em vigor a “Lei Pelé”, que acabava com o passe. Ou seja, se o contrato não fosse renovado, Ronaldinho poderia sair livre.

Roberto de Assis Moreira orientava o irmão e, em surdina, fechou um pré-contrato com os franceses do Paris Saint-Germain. Quando a direção do Grêmio ficou sabendo, o contrato já estava assinado. Durante a briga judicial, Ronaldinho Gaúcho ficou seis meses sem jogar. Chegou a ser oferecido para jogar por empréstimo em grandes clubes brasileiros.

Roberto de Assis Moreira já não era mais jogador do Corinthians. Foi para a França, no Montepellier. Mais uma vez, acompanhou de perto o surgimento de seu irmão como grande estrela europeia,  a partir de agosto de 2001. Aqui em Porto Alegre, a torcida do Grêmio manifestava toda a sua revolta contra a saída gratuita do maior jogador já nascido nas escolinhas do clube. Após seis meses na Justiça, o clube francês topou pagar 4,5 milhões de dólares pelo craque, uma quantia muito menor do que a célebre proposta do Leeds, que teria chegado via fax para a direção tricolor.

Roberto de Assis Moreira, dizia a lenda, era o principal responsável pela saída do irmão do estádio Olímpico. Nas conversas de bar se dizia em Porto Alegre que Assis tinha “se vingado do Grêmio por ter sido vendido ao futebol suíço quando não queria sair do clube”. Longe da revoltada torcida gremista, Assis jogava na França no mesmo campeonato que o irmão. Mas sem o mesmo brilho. No final daquele 2001, aos 31 anos de idade, resolveu trocar de profissão. De jogador tornou-se a empresário de futebol.

Roberto de Assis Moreira, a partir daquele ano, ficou conhecido por alguns como um negociador frio, articulado e esperto. Por outros, como um empresário sem palavra. Combinava coisas que depois não cumpria. Difícil de saber quem tinha razão. O fato é que, em 10 anos de Europa, jogando em grandes clubes do velho mundo, a família Assis Moreira chegou a um patrimônio estimado em 100 milhões de euros.

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Roberto de Assis Moreira pode ser definido como um vilão, mas na verdade mostrou competência para ajudar o irmão mais moço a fazer fortuna. Enquanto Ronaldinho Gaúcho foi eleito duas vezes como melhor jogador do mundo e era campeão mundial com a Seleção Brasileira em 2002. Enquanto isso, a caixa registradora do Assis Moreira Group contava a entrada de milhares de dólares.Foram dois anos no futebol francês até ir  para a Espanha, para jogar em um dos maiores clubes do mundo, o Barcelona.

Roberto de Assis Moreira foi novamente o articulador da transferência do irmão. A exemplo do que acontece agora, foram três meses de longas negociações em que o inglês Manchester United acreditou ter contratado o jogador ao mesmo tempo que o espanhol Real Madrid também. No final, Ronaldinho foi jogar no time catalão em uma negociação de 25 milhões de euros.

Roberto de Assis Moreira novamente fechara um grande contrato para o irmão. Ronaldinho Gaúcho jogou na Espanha por 5 anos. Campeão do mundo com o Brasil, em 2002, tornou-se um dos principais jogadores do time catalão. Só não conseguiu dar aos espanhóis o título mundial de clubes, no Japão. Perdeu para o Internacional na final. Aliás, com esta derrota, deu aos gremistas uma segunda decepção. Os gremistas tiveram que torcer pelo “ingrato” na tentativa de impedir que o grande rival também fosse campeão mundial. Ronaldinho falhou com o Grêmio, para variar.

Roberto de Assis Moreira percebeu que o tempo do irmão em Barcelona estava chegando ao fim. Dentro de campo, Ronaldinho já não jogava o mesmo futebol. Fora de campo, no entanto,  brilhava na vida noturna de Barcelona. Tinha uma vida de playboy milionário, sempre aparecendo com belas mulheres. Era bem melhor do que levar pontapé de adversários que só tinham esta forma de pará-lo.

Roberto de Assis Moreira resolveu negociar, mais uma vez, o futebol do irmão. Era a hora certa. O Barcelona não o queria mais. Seu brilho não era o mesmo. Depois de mais uma disputa entre clubes europeus, o Milan contratou o jogador por 21 milhões de euros, vencendo a disputa com os inglêses do Manchester City. Corria o ano de 2008. Nestes dois anos de futebol italiano, Ronaldinho foi muito mal. Ficou mais tempo no banco de reservas do que dentro de campo.

Roberto de Assis Moreira viu que o ciclo do irmão no futebol europeu tinha terminado. Era a hora de ganhar dinheiro em outro lugar. E nada melhor que o futebol brasileiro — que, novo rico, tinha trazido de volta Ronaldo, Adriano e Roberto Carlos, entre outros nomes menos badalados. Em junho do ano passado, dizem os dirigentes do Flamengo, começaram as tratativas de contratar o craque brasileiro. E em setembro, diz um dirigente do Grêmio, o grupo liderado por Paulo Odone começou a articular a volta de Ronaldinho caso ganhasse a eleição marcada para outubro. Ganharam e o projeto foi posto em prática. Como sempre, Assis negociava com vários clubes ao mesmo tempo.

Roberto de Assis Moreira e o Grêmio. Após a eleição, as conversas ficaram mais objetivas e, no dia 17 de dezembro, na casa do dirigente gremista Ricardo Vontobel, o jantar terminou com um brinde de espumante para celebrar o acordo do retorno do filho pródigo. Dia seguinte, para surpresa dos dirigentes gremistas, Assis telefonou para dizer que o “que acertamos ontem precisa ser revisto”. Mas o acordo estava mantido. Seriam apenas pequenos detalhes. O presidente Paulo Odone, visivelmente entusiasmado com a contratação, anunciou o retorno do jogador. Desmentidos do outro lado. Ronaldinho veio ao Brasil para passar o Natal e ficou em silêncio. Depois do Natal foi para os Emirados Árabes para participar da pré-temporada do Milan. Aqui, as informações sobre a grande contratação empolgavam os gremistas. Afinal, o grande adversário voltara de Abu Dhabi de crista baixa com o terceiro lugar no mundial de clubes. O Grêmio terminara o ano como campeão do segundo turno do campeonato brasileiro e ainda classificado para a pré-libertadores. E agora teria Ronaldinho.

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Roberto de Assis Moreira continuava trabalhando nos bastidores. O contrato inicial, definido em 17 de dezembro, foi revisto sete vezes até o dia 7 de jeneiro, sempre por novas exigências dos Assis Moreira. Na sexta-feira, dia 7, advogados de Assis estavam reunidos com os colegas do Grêmio ainda na redação da sétima versão do contrato. O vice de futebol Antônio Vicente Martins prometera para o começo da noite uma coletiva confirmando a contratação e  a viagem dos Assis Moreira para Porto Alegre com a finalidade de assinar o contrato. Enquanto isto, no Rio de Janeiro, o empresário e irmão de Ronaldinho, se movimentada em direção à Gávea, ninho dos flamenguistas. Uma reunião com a presidente do Flamengo dava a largada para mais um capítulo da novela .

Roberto de Assis Moreira e seu irmão Ronaldo não fizeram a tão esperada viagem para Porto Alegre. Assis fez novas exigências aos atônitos dirigentes tricolores. Queria a oitava revisão do contrato e… mais 6 milhões de reais. “Exigência do Milan”, explicou Assis. A madrugada foi de troca de telefonemas para que ilustres torcedores e conselheiros gremistas conseguissem chegar ao dinheiro pedido. Esta quantia tinha que ser acrescida aos 9,2 milhões de euros anteriormente exigidas pelo clube italiano. Foi quando o presidente Paulo Odone recebeu a informação que a presidente do Flamengo, Patricia Amorim, terminara uma reunião com o vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, e dissera que os dois clubes estavam 99,99% acertados. Odone ficou indignado. E resolveu encerrar as negociações. Em entrevista coletiva no Estádio Olímpico, sábado a tarde, revelou detalhes das negociações e declarou “que o Grêmio sai do negócio por ter chegado ao seu limite”.

Roberto de Assis Moreira virou, mais uma vez, o grande vilão. A torcida se revoltou com a família Assis Moreira chamando os irmãos Roberto e Ronaldo de mercenários. Ronaldinho e o irmão assistem pela televisão as manifestações tricolores. Estavam no  Rio de Janeiro. No final da tarde, o irmão famoso de Assis tomou um jatinho e foi curtir a noite catarinense. Nem parecia preocupado com o que acontecia no estado vizinho. Em uma casa noturna de Jurerê Internacional, não conseguiu ficar mais de 10 minutos, vaiado e ameaçado por gremistas, apesar do camarote. Saiu da boate e foi para o show da inglesa Amy Winehouse. Entrou pelos fundos, com mais dois amigos, para não ser importunado. A partir daí, os passos de Ronaldinho não são mais conhecidos.

Roberto de Assis Moreira, o aniversariante de hoje, ficou no Rio para nova rodada de conversações com o Flamengo. Depois da desistência do Grêmio, o Palmeiras também saiu da mesa de negociações.

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Roberto de Assis Moreira e seu irmão famoso saiu ou foi saído da mesa de negociação com o Grêmio deixando uma marca forte no Grêmio. Tão forte que a direção tricolor colocou anúncio nos principais jornais do estado fazendo um ataque indireto aos Assis Moreira com a frase “Gremista de verdade vem com a gente nas busca do tri”. Aqui, tri é o tricampeonato da Libertadores da América, primeiro e maior objetivo do clube no primeiro semestre e para quem Ronaldinho viria como o grande reforço. Esta é a maior demonstração de que a longa negociação marcou fundo o coração gremista. Mágoas a parte, fica uma questão: foi apenas Assis que jogou toda a sua esperteza no negócio ou os dirigentes do Grêmio também deram seu toque de ingenuidade? Ao anunciar para a imprensa e ao falar para os jogadores que Ronaldinho jogaria no tricolor foi uma “jogada” de marketing, de pressão? Ou foi a atitude de quem já se considera dono do jogador antes da assinatura?

Roberto de Assis Moreira pode não ser o único vilão de toda esta história. Paulo Odone, como disse o próprio Assis, não foi precipitado em falar para a imprensa sobre o negócio praticamente fechado quando isto não era verdade? A verdade é que Ronaldinho não vai jogar no Grêmio, ao menos agora. E as negociações deixaram outras marcas. Por exemplo, a parceira com a Traffic. Aquilo que estava acertado com a maior empresa de compra e venda de jogadores da América do Sul fez água. Irritado com a Traffic por, primeiro ter negado parceria no negócio Ronaldinho e depois por ter ajudado o Flamengo na contratação do próprio Ronaldinho, Paulo Odone brigou feio por telefone com dirigentes da empresa. Como resultado prático e imediato da briga, o zagueiro uruguaio Coates não vem mais.

Roberto de Assis Moreira é o vilão da vez, o grande inimigo gremista do ano, seja de que ponto se olhe a questão. Gauchão, Libertadores, Brasileiro… a derrota em qualquer competição será responsabilidade do terrível Assis. E as vitórias, os títulos que vierem, serão conquistados passando por cima da grande sacanagem de começo de ano. Que venha 2011.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora