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9 de janeiro de 2011
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19:30

Governo Tarso apresenta balanço da situação financeira do estado, na quinta-feira

Por
Sul 21
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Bruno Alencastro/Sul21
Carlos Pestana, chefe da Casa Civil do governo gaúcho / Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Rachel Duarte

Entre conversas com políticos e despachos de atos oficiais, o chefe da Casa Civil do governo do Rio Grande do Sul, Carlos Pestana, conversou com o Sul21. A espera pela entrevista com um dos principais nomes do governo gaúcho compensou. Pestana falou sobre o desafio de um governo de ampla coalizão, disse que a transversalidade está dando mais trabalho do que o esperado e esclareceu sobre a negociação com o PDT, partido que mais pressiona o governo por cargos.

Ainda sem tempo para formar sua equipe e com os fluxos da Casa Civil por organizar, Carlos Pestana diz que o foco é montar o governo e depois criar um fórum pluripartidário para monitorar a coalizão e garantir a transversalidade nas secretarias. Ele adiantou que, na próxima quarta-feira (12), deve ter concluído as nomeações para o segundo escalão e, na quinta-feira (13), o governo irá anunciar um balanço real das finanças do estado. Pestana também falou que ainda em janeiro Tarso Genro deve iniciar as viagens às cidades do interior, que considera estratégica, e irá a Brasília falar com a presidenta Dilma Rousseff, em busca de financiamentos federais para projetos do estado.

Sul21 – A Casa Civil é a área mais importante de um governo, por tratar do assessoramento direto do chefe do Executivo, coordenar as ações de governo, avaliar os projetos que serão enviados ao Legislativo e, também, as propostas recebidas dos deputados. Por isso, este espaço foi muito disputado dentro do PT. O que foi determinante na sua nomeação?
Carlos Pestana (CP)
– Neste caso, como em algumas áreas específicas do governo, as indicações são da confiança absoluta do governador. A Casa Civil não é como outras áreas que são construídas com a relação partidária. Apesar de todas as funções do governo serem ocupadas por pessoas da confiança do governador, as construções são diferentes. Acredito que me indicar foi um reconhecimento do governador a todo o processo da eleição. Existiam outros companheiros, mas, neste cargo não é a corrente que pesa. Sou vinculado a uma corrente do PT (Democracia Socialista), mas, não foi isso que influenciou. Foi o reconhecimento pelo trabalho que desempenhei nesta campanha.

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

“Casa Civil de Tarso será política, articulando com partidos, poderes e dentro do governo”

Sul21- Pela dificuldade de agenda para esta entrevista, percebemos que a sua rotina está tumultuada. Isso se deve ao começo do governo ou a composição do segundo escalão está dando mais trabalho do que o previsto?
CP
– Tu não fazes ideia de como a coisa é complicada. Primeiro porque eu já comecei a trabalhar no domingo (2). Na segunda (3), fiquei no Piratini até as 11 horas da noite. Na terça-feira (4), quando a minha equipe saiu já eram 3 horas da madrugada, em função de concluir os atos para as nomeações, porque todos os atos de nomeações passam por aqui.

Sul21- A Casa Civil do governo Tarso será mais técnica, a estilo da que foi a Casa Civil de Lula com Dilma Rousseff, ou mais política, como foi com José Dirceu?
CP
– Mais política. Meu trabalho é fazer a articulação com os partidos, com os poderes e dentro do governo. Até pela minha característica mesmo que é de fazer articulação política.

Sul 21– Como será a sistemática para esta interlocução?
CP
– Eu estou para apresentar ao governador, nos próximos dias, uma proposta para criar fóruns permanentes de diálogo com os partidos. A ideia é formalizar os espaços para a relação com os partidos. Existem algumas ideias, mas ainda estou amadurecendo. Na verdade, eu ainda nem tive tempo de organizar o fluxo da Secretaria em função da tarefa que o governador me atribui que é a de compor o segundo escalão do governo, garantindo a pluralidade das siglas e a transversalidade. Coisa que eu não vou conseguir concluir no prazo estimado. O trabalho envolve o conjunto das diretorias partidárias e não é simples de fazer. Então, estou focado nestes primeiros dias para resolver esta questão.

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

“Estou pensando em ter uma espécie de coordenação dos partidos que se reúna na Casa Civil regularmente”

Sul21 – Como será a atuação da sua adjunta, a presidente do PPL, Mari Perusso? E o senhor já tem o nome do subchefe da Casa Civil e das demais subchefias?
CP
– Nós ainda não definimos a divisão das tarefas por conta da correria. Assim que cheguei, formei uma comissão de deputados para tratar da composição do governo, que é a prioridade. Mas a Maria é minha adjunta, uma pessoa da minha confiança. Nos conhecemos desde a época da faculdade. Ela participa das negociações, me representa. A subchefia parlamentar, que irá fazer a relação com os deputados, eu já tenho uma pessoa, mas ainda não nomeei. Então, por exemplo, quem está fazendo isso é a Mari. Inclusive, ela irá acompanhar a votação na sessão extraordinária da próxima terça-feira. Eu deleguei para ela todo o processo das nomeações. O critério das nomeações está sendo garantido, que é respeitar o meu tempo de negociação com os partidos para não nomear sem ter as definições partidárias.

Sul 21 – Como o senhor pretende manter os deputados da base informados sobre os projetos do governo?
CP
– Ainda vou organizar estes fluxos. Eu não estava contando com duas coisas para atrasar a montagem do trabalho: que a composição iria demorar e que a ex-governadora Yeda Crusius não iria encaminhar o nosso projeto de reajuste salarial e cortes de CCs. Então, não contava em ter que articular para uma convocação extraordinária. Por isso que não me preocupei tanto com as nomeações da minha equipe e o fluxo interno do trabalho. Mas, a ideia é ter um fórum permanente da Casa Civil com os deputados. Vou apresentar ao governador uma ideia de que a base aliada reúna-se periodicamente com o governador para não ficar uma relação exclusiva com o chefe da Casa Civil. E estou pensando em ter aqui, e já falei com alguns partidos, uma espécie de coordenação dos partidos que se reúna na Casa Civil regularmente para monitorar as negociações e me dar retorno. Ver se os projetos do governo estão sendo seguidos à risca, se está indo tudo bem. Nós já temos uma diretriz sobre os projetos mais polêmicos ou complexos, que não serão enviados sem antes serem discutidos com a bancada. Por exemplo, a convocação extraordinária já tínhamos discutido com as lideranças desde dezembro.

Sul21 – É histórico que qualquer governo que se inicia precisa de 100 dias pra se organizar e começar realmente a trabalhar. O governo Tarso vai precisar destes 100 dias? Ou começará a trabalhar efetivamente antes?
CP
– Na verdade nós começamos a governar antes de assumir. As cartas-consulta que enviamos (ao Banco Mundial e ao BNDES), na primeira semana de governo, foram construídas durante a transição e possibilitou que pudéssemos tomar esta medida importante que é garantir empréstimos, em apenas cinco dias de governo. Tem um conjunto de ações que estamos conseguindo fazer. Nos próximos dias iremos providenciar uma agenda do governador com a presidenta Dilma Rousseff. Estamos reunindo as ações e iniciativas que serão financiadas pelo governo federal para poder firmar a agenda do Tarso em Brasília.

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Foto: Bruno Alencastro/Sul21

“O desafio é muito grande, porque o voto no PT sempre é um voto muito difícil”

Sul – O que espera ter para o balanço dos 100 dias?
CP
– Nós não estabelecemos esta meta dos 100 dias. Já estamos conseguindo realizar muita coisa nestes primeiro dias. Cumprimos metas de campanha, como a anistia dos pequenos agricultores. Mas, mais importante do que isso é que o discurso que construímos na campanha já está se consolidando em algumas ações e projetos. A coalizão era um compromisso e está se efetivando. A transversalidade está se construindo. Está sendo uma boa largada para confirmar e manter a expectativa que a população tem com o nosso governo.

Sul21 – E qual a sua visão sobre a expectativa dos gaúchos em relação a um novo governo do PT?
CP
– Com uma eleição como a que fizemos, com uma vitória histórica em primeiro turno, a expectativa aumenta e a responsabilidade é maior. Quando tu tens a maioria do povo gaúcho confinando no teu projeto é muito melhor. Mas, é natural essa alta expectativa, nos primeiros meses. Também é natural — e já conversei com o governador sobre isso — que caia esta expectativa nos meses seguintes. Isso não nos preocupará. Agora, o desafio é muito grande, porque o voto no PT sempre é um voto muito difícil. Porque sempre é muito ideológico, muito polarizado. Nós polarizamos o estado. Agora, o desafio é muito grande.

Sul21 – O governo propõe um programa inovador para o desenvolvimento do estado. No entanto, as equipes técnicas das estatais e do segundo escalão são formadas por nomes que participaram da primeira gestão petista há quase dez anos. Não tinha como construir uma renovação?
CP
– Vamos analisar pela minha situação. Eu estar neste cargo não deixa de ser uma novidade. Pelas características, pelas circunstâncias. O PT também sofre uma renovação assim. Mas, o que vai garantir o governo inovador, basicamente, é aquilo em que o Tarso vem insistindo, que é os programas e projetos serem do governo. Garantir a transversalidade que será determinante. Não terá secretários donos de programas. Por isso, é importante a composição pluripartidária nas secretarias. Acredito que esta será a grande inovação. Quando falamos em transversalidade ela se traduz muito nos cargos. Até poderíamos utilizar o termo pluralidade. Mas optamos pela transversalidade para dar o sentido de que a gestão também será compartilhada. É uma forma de garantir que os programas serão integrados.

Sul21- Onde está o maior desafio desta composição? Na cultura das siglas ou na proposta de transversalidade?
CP
– O desafio maior tem sido a transversalidade, porque cada partido tem uma forma de construir suas decisões. Hoje (sexta, 7) recebi o deputado estadual Aloísio Clasmann e o (deputado estadual recém-eleito Ronaldo) Santini (ambos do PTB). O PTB, por exemplo, ele reúne os parlamentares e toma suas decisões. O PT se organiza conforme as correntes internas. O PDT tem uma mistura de parlamentares e coordenadores regionais que tomam as decisões. Então, cada partido tem o seu processo de definição.

Sul21 – Como fica o caso do coronel Pitroski nas discussões com o PDT?
CP
– Todas as questões estão bem encaminhadas. Apesar da última declaração feita pelo coronel à imprensa, eu tenho um ofício com todas as reivindicações do partido.

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Foto: Bruno Alencastro/Sul21

“De tudo o que o PDT pediu, 80% já estão contemplados”

Sul21 – Mas, primeiro o deputado pedetista Ênio Bacci exigiu que ele assumisse a Defesa Civil, depois que assumisse algum cargo importante na Brigada Militar e, agora, o deputado ameaça com a saída do PDT do governo. Há alguma possibilidade de o PDT sair do governo, sem nem mesmo ter entrado?
CP
– Não, pelo contrário. A conversa entre nós foi extremamente cordial. E o tratamento com o partido está fluindo. Nesta semana (de 3 a 7 de janeiro), recebi uma comitiva de parlamentares, acompanhada do presidente da Assembleia Legislativa, Giovani Cherini. Neste dia, me comprometi em encaminhar o conjunto de questões apresentadas pelo partido. De tudo o que eles pediram, 80% já estão contemplados. Depois desse encontro, ainda tive outras duas visitas dos deputados Adroaldo Loureiro e do Flávio Lammel (indicado para a vice-presidência do Banrisul). Eles me colocaram em contato no telefone com o deputado Ênio Bacci. Falei com ele e disse que a questão do Porto estava resolvida e, na questão da Segurança, estou fazendo um esforço para cumprir com o que me comprometi. E quando eu digo resolvido quero dizer que o espaço está garantido para o partido. Depois vem a construção dos nomes. Sobre os espaços partidários, tem uma ou duas questões pendentes, e a do coronel é uma delas.

Sul21 – E os demais nomes que faltam para compor o segundo escalão. Tem mais alguma definição?
CP
– Tem algumas coisas ainda indefinidas. Mas ainda deve demorar mais alguns dias a negociação. Mas, até quarta-feira (12) estará tudo definido. Mas, tu não imagina como eu estou louco que mude esta pauta.

Sul21 – Vale a pena manter o PDT, um partido que já brigou com o governo Rigotto e o governo Yeda?
CP
– É uma aposta para construir esta coalizão. Na verdade, nós temos uma visão estratégica desta coalizão para que o projeto seja de estado e não só de governo. Se dará certo, só o futuro irá dizer. É importante então, neste momento, a gente fazer alguns gestos. Na campanha o Tarso já tinha feito um gesto para o PDT. Ele dizia: “independente do PDT estar na coligação do José Fogaça (PMDB), a minha ideia é que o PDT venha compor o governo”. De fato isso aconteceu. Nós não formalizamos o convite logo depois da eleição porque o PDT nos pediu um tempo. E o Tarso dizia isso porque nós temos uma relação muito boa com o PDT em nível federal, tem uma base popular, tem uma linha programática que se alinha muito com o PT.

Bruno Alencastro/Sul21
Carlos Pestana | Foto: Bruno Alencastro/Sul21

“Ao mesmo tempo em que há uma identidade em linhas gerais entre PDT e PT, há muita disputa localizada”

Sul21 – As identificações ideológicas foram mais fortes no passado. Hoje a dinâmica dos partidos é diferente. Como fica, portanto, a relação custo-benefício neste caso?
CP
– O PT e o PDT são dois partidos populares. É evidente que na construção do PT tinha toda uma disputa com a mesma base social do PDT. O trabalhismo trouxe muitas lideranças para a formação do PT e nós disputamos a base do PDT depois. Isso também gera um tencionamento hoje. Ao mesmo tempo em que há uma identidade em linhas gerais entre PDT e PT, há muita disputa localizada. E isso acaba influenciando também na hora das composições.

Sul21 – Neste caso, como ficam as reivindicações dos demais partidos da base e que estiveram com o governador desde o início da campanha ao governo?
CP
– Eu acho que todos os partidos entenderam a coalizão que fizemos para ter a maioria da Assembleia. Claro que há descontentamentos, tencionamentos, mas isso faz parte do jogo. Como diz o Tarso: “não tem ninguém plenamente satisfeito”. Nem dos outros partidos, nem do PT. Este também está sendo um exercício para o PT. Estes tempos eu recebi uma comitiva de representantes regionais do PT que reivindicaram algumas decisões sobre espaços para outros partidos que nos municípios são adversários políticos deles. É verdade. Mas eu não posso construir uma solução para o estado, a partir de uma disputa municipal. Se fizer isso, não terá coalizão, porque em vários locais estamos disputando com o PSB, o PDT e o PTB.

Bruno Alencastro/Sul21
Calros Pestana / Foto/ Bruno Alencastro/Sul21

“O secretário da Fazenda, Odir Tonollier, deve apresentar um balanço da real situação financeira do estado”

Sul21 – Então o governo pensa em atender todas as pressões dos partidos para ter maioria na Assembleia Legislativa?
CP
– A maioria parlamentar é a vantagem imediata que possibilita aprovação dos projetos do governo com mais tranquilidade. Nós vamos começar a discutir os projetos que queremos apresentar ao legislativo, os que sejam de maior profundidade. Mas, nós vamos seguir as diretrizes do programa de governo. E vamos avaliar sempre as circunstâncias e a situação para enviar os projetos.

Sul21 – O governo Tarso já tem ideia de qual foi a real herança recebida do governo Yeda?
CP
– Ainda estamos analisando toda a situação geral do governo que assumimos. Durante a transição não tivemos acesso a todas as informações. Agora estamos no governo e estamos tendo condições de analisar. A situação financeira é a mais delicada. Mas, na próxima quinta-feira (13), o secretário da Fazenda, Odir Tonollier, deve apresentar um balanço da real situação financeira do estado. Ele já fez uma apresentação preliminar para o núcleo de gestão e semana que vem divulgaremos.

Sul21 – Como o governo irá solucionar a questão dos decretos assinados pelo governo anterior dando incentivos a 33 empresas?
CP
– Alguns devemos manter, outros vamos reconsiderar. Mas, o Odir (Tonollier) está fazendo uma análise detalhada sobre isso.

Sul21 – Está prevista alguma viagem do governador ao exterior? Para onde e quando?
CP
– Não, ainda estamos montando a agenda. O que deverá acontecer ainda em janeiro são as viagens às cidades do interior do estado que o Tarso disse que seriam estratégicas para a gestão e visitou durante a campanha eleitoral: Piratini, Cachoeira do Sul, Cacequi, Bossoroca, Lajeado do Bugre e Bento Gonçalves.

Sul21 – E a vida de um chefe da Casa Civil do governo de Tarso Genro permite momentos de vida privada ou apenas negociações políticas?
CP
– Ah isso é uma coisa que me cuido, inclusive pela minha saúde mental. Se não a gente pira. Prioritariamente, frequento uma academia, mas não porque gosto, mas é fundamental para aguentar o nosso ritmo da política. E reservo um tempo para ir ao cinema e tomar um bom vinho ou um bom uísque no final de semana. A família é muito compreensiva. Minha filha tem 12 anos e está dislumbrada com a popularidade agora, mas sei que isso irá mudar quando começar a vir as cobranças (risos). E minha esposa prefere não participar da minha vida pública. Esteve comigo apenas na posse. Eu tento respeitar a vida particular mesmo. Depois das 22 horas, que é o horário que estabeleci para encerrar o expediente, não atendo telefone. Deixo o celular desligado.


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