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1 de janeiro de 2011
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18:00

Gaúchos apostam num governo de diálogo e bons resultados

Por
Sul 21
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Carlos: "Ofereci graxa para uns quinze". (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

Felipe Prestes

Por voltas das 8h, Porto Alegre dormia de ressaca. Na Praça da Matriz, 2011 começava com um novo fato político. Autoridades e militantes buscavam as galerias do plenário da Assembleia Legislativa. Os que não conseguiram entrar, depois que as galerias lotaram, foram para o Auditório Dante Barone para assistir em um telão a transmissão feita pela TV Assembleia.  Para o povo que levantou cedo, na esperança de acompanhar a posse de Tarso, o governo do petista será de melhores resultados que o de Olívio e marcado pelo diálogo, devido ao amadurecimento do partido.

Na Praça da Matriz, porém, o movimento era bem menor. Uns poucos populares estavam por ali, acompanhando a movimentação da posse. O pipoqueiro Moacir pouco se importava. “Nem que eu não venda nada. Vim aqui mais para ver a posse”, disse ele, simpatizante do PT. Conversei com Moacir enquanto ele engraxava o sapato com Carlos. Até então, ele era o único cliente do engraxate. Ao contrário de Moacir, Carlos esperava lucrar no dia da posse. “Eu queria os (clientes) grandões. Ofereci graxa para uns quinze. Nenhum quis”, queixou-se.

Mesmo sem ser filiado ao PT, Luiz Otacílio de Souza Barbosa saiu cedo do bairro Humaitá com uma bandeira do

Militante acredita em governo com melhor trânsito na Assembleia (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

partido enrolada embaixo do braço. O auxiliar de lavanderia disse que passou um Ano Novo tranquilo, com a família, e que se “poupou” para estar cedo no Centro. O pai era peemedebista, mas a família passou a ser fiel ao PT desde que o partido assumiu a Prefeitura de Porto Alegre, em 1988. “A Administração Popular ia muito na comunidade”.

Luiz Otacílio maneirou na festa para chegar cedo à Praça da Matriz (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

O sentimento entre simpatizantes e filiados ao PT é que o Governo Tarso será de um partido mais amadurecido e alinhado ao governo federal e que, por isso, conseguirá melhores resultados. “O Governo Olívio foi conturbado, este já conseguiu maioria na Assembleia. A expectativa é de fazer um governo afinado com o governo federal, que há muito tempo o RS não tem”, diz Barbosa. O militante do PT, Flávio Teixeira, que sorvia um chimarrão com amigos após o fim da cerimônia diz que o Governo Olívio tinha bons projetos, mas não conseguia aprová-los. “A principal diferença será o diálogo, não vai ser uma briga na AL. O partido está mais amadurecido. Esperamos que o estado acompanhe o desenvolvimento do Brasil”.

Cherini presenteia Tarso (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

Elos do cooperativismo

Dentro do plenário, o presidente da Assembleia, Giovani Cherini, fez um discurso na Casa louvando o cooperativismo. Ele exaltou o slogan que a agência da Assembleia criou para sua administração “Cooperação: Rio Grande acima das diferenças”. Ele presenteou Tarso Genro com elos coloridos feitos de papel colorido, símbolo de sua gestão na Casa.

Em uma ante-sala do Piratini, Cherini contou que o símbolo e o slogan foram feitos pela agência de publicidade que trabalha com a Assembleia Legislativa. Ele disse que rodou o estado com o slogan e os elos durante seu ano na presidência. Cherini acredita que a ideia do cooperativismo que ele difundiu pelo estado “balizou as eleições” no Rio Grande do Sul.

Cherini destacou em seu discurso que Tarso Genro fez uma campanha em que, como ele, rodou todo o estado e difundindo ideais semelhantes. “Ainda quando ministro ele visitou todo o estado. A campanha já estava pronta”, contou no Piratini.

Pedro Osório sorri, apesar da missão complicada de presidir Fundação Piratini (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

Missão espinhosa

Nas galerias do plenário da AL, o fotógrafo Ramiro Furquim encontrou um sorridente Pedro Osório, que vai assumir a presidência da Fundação Piratini. Apesar do sorriso, Osório terá uma missão espinhosa: a Fundação é uma das instituições que passa por situação mais delicada no estado.

“Nos últimos dois governos não houve investimentos na Fundação. Há uma defasagem tecnológica e de pessoal”, relata Osório. Como se não bastasse esta defasagem, uma decisão judicial recente fez com que a Fundação perdesse o direito de usar cargos em comissão para áreas essenciais como a reportagem. Assim, a programação própria da TVE está cada vez mais reduzida.

Osório adianta que pretende manter a programação oriunda da TV Cultura e também,  rapidamente, assinar um contrato emergencial para transmitir programas da TV Brasil. Ele conta que ainda precisa tomar pé de toda a complexidade da situação da Fundação. Mas a situação já o leva a dizer uma frase forte: “A minha principal preocupação é a de manter a rádio e a televisão funcionando nos primeiros 30 dias”.

Para este difícil começo, Osório destaca o “empenho” dos funcionários, lembrando que, em instantes, iriam começar a transmitir ao vivo a cerimônia de posse do governador no Palácio Piratini. Ele também afirma confiança de que, ao longo dos próximos quatro anos, a Fundação Piratini vai crescer bastante. “O governador já afirmou este compromisso e também de ampliar a participação popular neste meios de comunicação”.

Édson: "Olívio é a cara do povo" (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

A caminhada mais demorada

A caminhada do governador eleito Tarso Genro, da Assembleia para o Palácio Piratini, foi cercada de pompa. Mas não menos badalada foi a caminhada do ex-governador Olívio Dutra entre os dois locais. Carismático, o ex-governador costuma ser o alvo preferido dos militantes petistas para fotos e autógrafos. Não foi diferente na manhã de hoje (1).

A cada passo uma bandeira para assinar e fotos para serem tiradas – nas quais tanto Olívio quanto a esposa, Judite, não hesitavam em posar, abraçando os correligionários. Olívio e Judite param para todas as fotos, ouvem o que os militantes têm para dizer e respondem com um sorriso sincero. No paletó, Olívio usava, de um lado, um broche do PT; do outro, um broche do Internacional. “Na vitória e na derrota”, disse, bem-humorado, em relação à recente derrota colorada no Mundial de Clubes.

Édson, militante do PT há mais de duas décadas tem a resposta: “Olívio é a cara do povo.” Paranaense, Édson conta que veio de seu estado para colaborar com a campanha de Olívio Dutra ao governo do estado em 1994 e 1998. Vinha com delegações de ônibus organizadas pelo deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) e fazia fiscalização nas urnas e na apuração dos votos em cidades do Interior do RS. “Vacaria, Erechim, até General Câmara eu conheci. General Câmara!”. Foi nestas andanças que conheceu o carisma de Olívio Dutra. Depois, Édson acabou vindo morar em Porto Alegre.

Édson comemora que Tarso Genro tenha feito seu “mea culpa”, reconhecendo que, em 2002, deveria ter ressaltado mais as ações do Governo Olívio. “Agora está todo mundo unido”. Ele compara a popularidade dos dois. “Tarso tem muita projeção nacional. Do Chuí ao Mampituba, o Olívio é o cara, representa o povo do Rio Grande do Sul”. Tarso Genro não ignorou isto ao lembrar de Olívio em seu discurso, citando o “negro” Collares e do “índio” Olívio Dutra.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Saindo mais cedo

Pelo menos seis parlamentares assistiram apenas à cerimônia da Assembleia. O avião da Força Aérea Brasileira disponibilizado para o presidente em exercício da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT), tinha que sair mais cedo, porque Maia precisava chegar o quanto antes ao Congresso para os últimos preparativos antes da posse da presidente eleita Dilma Rousseff.

Quem embarcou neste avião, além de Maia, foram o deputado estadual reeleito Adão Villaverde (PT), o deputado federal eleito Ronaldo Zulke (PT), os deputados federais reeleitos Manuela D’Ávila (PC do B), Henrique Fontana (PT) e Pepe Vargas (PT).

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Despedida

Depois da cordial transmissão de posse para Tarso Genro, a agora ex-governadora Yeda Crusius desceu as escadas sob os gritos de “Yeda! Yeda! Yeda!” de correligionários. Yeda recebeu flores e o beijo de uma garotinha, e foi para o pátio interno do Palácio, onde carros oficiais aguardavam ela e alguns secretários. Antes de todos partirem, muitos abraços em clima de despedida.

“Sentimento é de missão cumprida. Quando uma equipe muito forte se despede é normal que os sentimentos fiquem aflorados”, disse o chefe da Casa Civil, Bercílio Luiz da Silva, que esteve sempre ao lado da governadora nos meses finais de governo. Ele conta que Yeda Crusius deixou ligação muito forte com quem serviu seu governo. “Quem trabalha com a Yeda sempre tem uma ligação humana com ela. Ainda mais neste governo em que conflitos foram enfrentados e promovemos mudanças”, diz Bercílio. Ele conta que Yeda Crusius exerceu uma “liderança muito forte”, determinando muitas coisas e “puxando as orelhas” quando preciso.

Giovani Cherini e Beto Albuquerque /Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Coalizão

Enquanto aguardavam o governador Tarso Genro – que discursava para a população em uma sacada do Piratini – para rumar para o aeroporto, o secretário de Infraestrutura Beto Albuquerque (PSB) e o deputado federal eleito Giovani Cherini (PDT) reafirmaram a esperança de que não haja um novo racha entre PDT e os demais partidos de esquerda do RS.

Durante o governo Collares, a oposição liderada pelo PT foi implacável com o pedetista. “Reconheço que cometemos exageros, já disse ao Collares”, revela Beto Albuquerque. “Aprendemos com a grandiosidade dele, ao nos apoiar desde o início de nossa campanha”, completou. Giovani Cherini repetiu o que vem sendo bastante falado, de que hoje há um “amadurecimento político”.

Quando cito um possível conflito pela prefeitura de Porto Alegre em 2012, Beto brinca: “Não me adiante problemas”, disse sorrindo. Cherini lembra que o PT terá em 2011 a presidência da AL, da Câmara dos Deputados, além do governo do estado e da presidência do país e por isso crê que o partido deve aceitar não ser cabeça-de-chapa em 2012.

Luciana Genro /Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“Estou aqui como filha”

Ao lado do filho, Fernando, Luciana Genro evitou comentar sobre que relação política ela e o seu partido, o Psol, terá com o governo encabeçado pelo pai.

– Estou aqui como uma filha que veio à posse de seu pai. Não quero falar sobre política hoje – disse.

Diante da insistência, do repórter, Fernando Genro sugere: “Liga para o Roberto Robaina (presidente estadual do Psol e pai de Fernando), ele pode te explicar a posição do partido”.

Festa na rua

Tarso fez um discurso breve aos populares, de uma das sacadas do Palácio Piratini. Apressado, saiu pelo pátio interno com uma comitiva, direto para o Aeroporto Salgado Filho, onde embarcou para Brasília, a fim de assistir à posse de Dilma Rousseff. Um militante chegou a reclamar que Tarso não saiu pela porta da frente, junto com o povo. Mas a festa seguiu na rua. O fotógrafo Ramiro Furquim captou as bandeiras, bandanas e até um palhaço com uma perna-de-pau.

Bruno Alencastro/Sul21
Tarso é aplaudido pelos gaúchos /Foto: Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21

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