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10 de novembro de 2010
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14:03

Entrevista exclusiva: “Nossa visão de governo pensa o estado daqui a 30 anos”, diz Tarso

Por
Sul 21
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Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Rachel Duarte

Dois dias antes de viajar para Europa em busca de recursos e parcerias internacionais e no segundo dia depois de iniciar o trabalho da equipe de transição do seu governo, Tarso Genro (PT-RS) concedeu entrevista ao Sul21. O futuro governador recebeu a equipe no Centro de Treinamento da Procergs (local onde ocorre a transição). Tarso afirmou que seu projeto de governo pensa o estado nos próximos 30 anos. ” Mas, isso não quer dizer que se mantenha dentro desta visão estratégica o mesmo governador durante todo este período”, ressalta.

Apesar de vereadores de Porto Alegre do PT e do PDT já estarem estudando uma chapa comum para disputar a prefeitura da Capital, o governador eleito acredita que, em 2012, os petistas cederão a cabeça de chapa para o PCdoB, de Manuela D’Ávila, ou o PSB, de seu vice, Beto Grill. Tarso também anunciou que na primeira semana de dezembro sua equipe promoverá “um grande seminário com a presença de todos os partidos que irão compor o governo para contratualizar o funcionamento do governo e acabar com a possibilidade de nichos individuais de poder ou nichos partidários de poder dentro do governo do estado”.

No dia em que falou com o Sul21, Tarso também conversou com o grupo do setor de cooperação do governo federal e Cesar Alvarez, segundo homem do gabinete da presidência, que contribuiu com a grande experiência que tem na área de inclusão digital e novas tecnologias. Alvarez foi convidado para o secretariado. Se aceitar, ocupará a Secretaria de Comunicação e Inclusão Digital. E com o PTB, que indicou para o secretariado, entre outros, o deputado Luís Augusto Lara.

Marco Quintana/Sul21
Foto:Marco Quintana/Sul21

Sul21 – Como o senhor recebeu o resultado da sua eleição?
Tarso Genro
– Esperei o resultado na minha casa. Assisti a apuração pela televisão, conversando com algumas pessoas da coordenação da campanha, amigos e minha mulher. No dia seguinte, viajei para Brasília.

Sul21 – O senhor estava confiante então com uma vitória no primeiro turno?
TG
– Sim. Estava convicto, já nos últimos 20 dias, de que ganharíamos no primeiro turno. Mas eu era o único do nosso grupo que estava convencido que as possibilidades de vencer no primeiro turno eram bastante reais. Mas claro que o impacto emocional sempre existe.

Sul21 – Na sua trajetória política há muitas vitórias e poucas derrotas. A vitória nesta eleição, em primeiro turno, lhe fortalece dentro do PT. Portanto, qual o papel que pretendes desempenhar em âmbito nacional no partido?
TG
– Acho que como a minha escolha (para ser o candidato do PT ao governo) foi por unanimidade aqui no estado e foi uma costura entre todas as posições e tendências do partido, este fortalecimento pessoal está integrado ao fortalecimento do partido no Rio Grande do Sul, em relação ao país. Eu acho que o Rio Grande do Sul conquistou outro grau de respeitabilidade no cenário nacional enquanto representação no Partido dos Trabalhadores.

Sul21 – Qual o seu projeto político para daqui oito, dez anos?
TG
– É impossível dizer isso hoje. Agora, estou exclusivamente dedicado a montar uma equipe de governo para fazer um bom governo nestes quatro anos. Acho que nós temos uma responsabilidade internacional aqui, porque a vitória do PT no Rio Grande do Sul, no primeiro turno, teve repercussão em todos os países que tem algum tipo de relação política com o Brasil. Então, o peso da nossa responsabilidade é muito grande. A nossa preocupação, portanto, é que do meu governo saia, assim como na gestão Olívio Dutra e na nossa administração na prefeitura de Porto Alegre, algo de experiência de gestão pública de participação popular que possa ajudar a democracia em todos os quadrantes onde ela é praticada.

Sul21 – O senhor acredita que começará e terminará com a mesma equipe que está montando? Mesmo que o senhor tenha dito que não quer ninguém no secretariado que pense em concorrer às eleições municipais, 2012 não poderá refletir no seu governo por conta das alianças, principalmente, para a prefeitura de Porto Alegre?
TG
– Criando diretrizes e orientações normativas no governo desde a sua composição e tratando os partidos diante de uma mesma respeitabilidade (poderá ficar com a mesma equipe durante todo o governo). Não interessa se um partido teve mais ou menos problema do que o outro em relação ao comportamento perante à gestão pública, porque erros e ilegalidades todos os partidos sempre cometeram ao longo de sua história. Então tem que instituir um patamar novo de relacionamento e normas de funcionamento do governo. Vamos inclusive fazer na primeira quinzena de dezembro, um grande seminário com a presença de todos os partidos que irão compor o governo para contratualizar o funcionamento do governo e acabar com a possibilidade de nichos individuais de poder ou nichos partidários de poder dentro do governo do estado.

Marco Quintana/Sul21
Foto:Marco Quintana/Sul21

Sul21 – Pelo que se ouve falar, PDT e PTB estão numa queda de braço. Nenhum admite ter menos cargos no seu governo, nem cargos menos qualificados. É possível adequá-los com poder equivalente?
TG
– Estas orientações mínimas já foram reforçadas e inclusive publicadas. Mas, é claro que para contemplar os interesses, é preciso mediação. A política é essencialmente o terreno da mediação.

Mediação não significa fazer a média das tendências. Significa você ter um objetivo determinado e ter a sutileza, capacidade, sedução e a racionalidade para chegar naquele ponto que você quer. E isso nós estamos fazendo em conjunto, com todos os partidos, tanto os que compõem a Unidade Popular pelo Rio Grande, como os demais que agora se agregaram ao nosso governo.

Sul21 – O número de cargos que o senhor tem para preencher é, obviamente, limitado. Como o senhor pensa acomodar o desejo e esperanças de todas as correntes do PT e dos partidos aliados?
TG
– Exigimos alguns critérios básicos. Todas as pessoas do meu partido ou dos demais partidos serão avaliadas. Vamos examinar se elas tiveram algum tipo de problema quanto à ética pública, por exemplo. Segundo, as pessoas terão que ter um mínimo do que exigimos para ocupar o cargo. Não quer dizer que uma pessoa tenha que ser especialista em Energia, se será secretário de Minas e Energia – supondo que voltasse a secretaria – mas ele tem que ser um grande gestor para saber se cercar de especialistas naquela determinada área e poder responder pelo governo e aplicar determinados programas. E um terceiro aspecto é a questão da transversalidade. O convencimento e a preliminar que se coloca para cada secretário é que os projetos serão do governo e não projetos de secretarias ou de secretários. Isto exige uma colaboração horizontal entre os secretários muito grande.

Sul21 – Uma das dificuldades do primeiro ano de governo é o orçamento deixado pelo governo que sai. O primeiro ano de governo será dedicado a buscar recursos e reestruturar a administração estadual?
TG
– As informações estão começando a serem passadas. Mas, nós temos metas bem claras para o primeiro ano: a organização do funcionamento do governo e da nova gestão, a preparação de projetos e movimentos nacionais e internacionais para a busca de recursos e instituir uma relação de transversalidade, através de uma sala de gestão, com estrutura tecnológica suficiente para o controle interno do governo de alta qualidade. Com isso, pretendemos iniciar os investimentos e ações para desenvolver os planos microregionais de desenvolvimento. Paralelamente a isso vamos nos postar perante à Federação e articular ações com os demais governadores do campo aliado e também de outros setores que não são aliados ao governo federal para que tenhamos uma política federativa que ajude na conquista da reforma tributária e da reforma política.

Sul21 – Como o senhor espera que a imprensa e a sociedade se comportem, já que ambas têm pressa?
TG
– Vamos ter facilidade de lidar com isso, porque tudo que foi apresentado durante a campanha foi dito que seria feito de forma processual, que não haveria milagre e nenhuma solução de curto prazo. O nosso trabalho vai se movimentar em relação ao nosso objetivo e será necessário paciência, diálogo e capacidade de gestão. E o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social será um espaço aberto para o diálogo e produção de ideias para enfrentar cada uma destas questões que aparecerão mais duramente no primeiro ano de governo.

Sul21 – O PT é, desde o governo Olívio Dutra, acusado pela oposição de não aceitar investimentos externos no Estado e o senhor viaja, agora, para a Europa em busca de investimentos espanhóis.
TG
– Esta crítica já foi superada. Inclusive depois dos dois mandatos do presidente Lula. Naquela época em que se discutia isso ainda havia uma visão de dualismo, de que um projeto de desenvolvimento do país tinha que ser feito a partir de um confronto com a globalização. Na verdade, hoje, todos os partidos progressistas tratam da seguinte questão: como entrar na globalização de forma soberana. Interdependente, mas cooperativa. E, sem submissão. Isso refletiu internamente no partido e a concepção com que se trabalha hoje é a de disputar espaço na globalização e estabelecer relações de cooperação horizontal com a América Latina.

Marco quintana/Sul21
Foto: Marco quintana/Sul21

Sul21 – O que o senhor pretende oferecer aos empresários da Espanha? Quais os setores que serão procurados?
TG
– Estamos dando preferência para que se aproximem das nossas reuniões lá, empresários voltados para a produção de energia e que tenham vínculos com o Pólo Naval e com o segundo ciclo de petróleo no Brasil, o Pré-Sal. Este segundo ciclo irá abrir um caminho para o Brasil de mais de 50 anos dentro desta matriz energética. Eu vou oferecer o que é o Rio Grande e um tipo de governo que nós vamos desenvolver aqui, que é de acolhimento. Vou mostrar as enormes potencialidades que tem o RS para receber investimentos que gere empregos e uma dinâmica econômica que não seja esmagadora da nossa base produtiva, mas que venha aqui para valorizá-la e se integrar nela.

Sul21 – Como será a relação do seu governo com o da futura presidente Dilma Rousseff ?
TG
– Relação muito boa. Há muito tempo o Rio Grande do Sul não combina o governo do estado com o governo federal. O fato de sermos do mesmo partido e termos trabalhado juntos durante sete anos do governo Lula e nos conhecermos há muito tempo e termos respeito um pelo outro, isso, irá seguramente permitir aproveitar muito melhor as potencialidades do Brasil nesta nova relação que iremos estabelecer.

Sul21 – Mas, na área econômica o senhor difere da linha do ex-ministro Antonio Palocci, que está com uma boa perspectiva de voltar ao governo federal. Qual a sua avaliação se isso acontecer?
TG
– Isso não é elemento de separação entre eu e Dilma, porque assim como o presidente Lula conduziu, em última instância, o desenvolvimento da política econômica do país, a Dilma irá fazer a mesma coisa. E a minha relação com o Palocci, que eu diria que foi de tensão naquele momento em que ele fez uma política de reajuste fiscal dura, não deixou nenhuma marca nas nossas relações pessoais. Nós temos ótimas relações pessoais e respeitamos um ao outro e trabalhamos inclusive de maneira articulada agora na eleição da Dilma. Ele representando o comitê nacional e eu articulando politicamente aqui no RS. Não creio que terei qualquer dificuldade com o Palocci, até porque aquela fase do ajuste mais duro, que em minha opinião demorou demais, inclusive foi esta minha divergência com ele. A medida adotada foi de longa duração em minha opinião. Não precisava ser, mas isso já está superado.

Sul21 – O senhor foi o grande vencedor das eleições no RS, conquistando o governo no primeiro turno. Em Minas, o tucano Aécio Neves saiu como o grande nome de oposição nas eleições de 3 de outubro, tendo se elegido para o senado e elegido seu candidato ao governo do Estado. Como o senhor explica que no segundo turno Dilma Rousseff tenha perdido no RS e José Serra em Minas?
TG
– A coordenação nacional de campanha deu uma dose muito forte de presença da Dilma em Minas Gerais e muito fraca no Rio Grande do Sul. Aqui ela veio apenas uma vez. E isso certamente influenciou a votação que ela fez aqui. Mas, há um aspecto muito importante que a imprensa não tem considerado ao fazer a análise da eleição da Dilma. Ela teve mais votos que o Lula aqui, tanto no primeiro como no segundo turno, portanto, ela se saiu muito bem aqui. Faltou muito pouco para ganhar a eleição no RS no segundo turno.

Marco Quintana/Sul21
Foto: Marco Quintana/Sul21

Sul21 – Qual o significado da votação de Marina Silva (PV) para o PT?
TG
– É diferente em cada estado. Aqui no Rio Grande do Sul a Marina pegou um voto que parcialmente era um voto tradicional da esquerda. A maior parte dos votos da Marina aqui foi de inconformidade com o PT em relação aos fatos do início do governo do presidente Lula (Caso Mensalão). Não acredito que a votação dela aqui tenha sido anti-esquerda ou anti-PT. Ainda foi um resquício daquela inconformidade que foi forte na classe média gaúcha e influenciou neste deslocamento de votos para a Marina. Tanto é verdade que você pega a votação que eu tive no primeiro turno e compara com a votação da Dilma e da Marina e verá que é praticamente a mesma coisa. Então eu recolhi a votação da Marina, por especificidades locais, e a Dilma não, por esta marca do governo Lula que mencionei.

Sul21 – Entre as possíveis expectativas da população gaúcha com o seu governo, está a atenção com a segurança pública, uma vez que o senhor foi ministro da Justiça e recordou durante toda a campanha a criação de uma nova concepção para esta área. A segurança será prioridade no seu governo?
TG
– Se nós formos filtrar as grandes áreas estratégicas do governo, nós podemos pensar na seguinte divisão:
Segurança – implementação do Pronasci;
Saúde – reforço do PSF (Programa de Saúde da Família), instalação de uma rede de Unidades de Pronto Atendimento e o fortalecimento dos hospitais regionais;
Educação – melhoria no poder aquisitivo dos professores, qualificação permanente dos professores e qualificação da estrutura escolar. Inclusive instituir em combinação com o magistério um sistema de avaliação que ajude o governo a avaliar o que falta e não fazer uma avaliação para incriminar professores como quer fazer certa visão neoliberal. Com isso, buscar um novo padrão de qualidade para a educação gaúcha.;
Desenvolvimento – criar um sistema de redes de desenvolvimento aqui no estado que combine desenvolvimento microrregional em uma relação harmoniosa com o conjunto do estado que fortalecerá desde a agricultura familiar até o agronegócio.

Sul21 – O que será mantido das políticas públicas já desenvolvidas pelo atual governo e os municípios, principalmente na área da segurança que já tem cidades com Pronasci?
TG
– Nós temos a implementação de projetos no estado, que são particularmente do governo federal e irão servir de referência, como a experiência do bairro Guajuviras, em Canoas. É uma experiência exitosa de implementação do Pronasci. Outro exemplo que iremos seguir é o Hospital Regional de Palmeiras que está sendo construído com investimentos do governo federal. Na Educação e na Saúde ainda iremos nos aprofundar, porque são atividades constitucionais. Então serão ações progressivas, como a busca pelos recursos do Fundeb que iremos buscar o mais breve possível para dar salário digno aos professores.

Sul – E como funcionará a Comunicação no seu governo?
TG
– Teremos uma secretaria de comunicação que irá ser descentralizada e os secretários vão poder opinar de acordo com a sua área. Nós vamos combinar a secretaria de comunicação com inclusão digital, dando a ela uma nova dimensão. E vamos desenvolver um sistema de comunicação para ampliar a participação popular na produção de políticas públicas para o governo. Na participação popular teremos o OP, CDES, Consulta Popular e Participação Virtual. Para ter uma participação virtual adequada é necessário que massifiquemos a utilização da banda larga e fazer uma inclusão digital ampla aqui no estado.

Sul21 – Nesta terça e quarta-feira (9 e 10/11), o ministro Franklin Martins coordena um seminário internacional que mostrará os modelos reguladores das comunicações dos Estados Unidos e países europeus. A seu ver, como se daria no Brasil a regulamentação do uso da tecnologia e do conteúdo da comunicação eletrônica?
TG
– Este é um debate nacional que está se dando hoje em todo o mundo. Evidente que iremos participar deste debate, mas nossa preocupação aqui é prestigiar de forma igualitária a imprensa tradicional e as mídias alternativas. Tratar esta questão de forma adequada sem fazer qualquer gesto preventivo de exclusão dessas novas mídias e da imprensa comunitária, como os jornais de bairro e do interior. Nós temos que democratizar as despesas do governo com publicidade e eventuais peças de propaganda do governo.

Sul – O seu projeto de governo prevê a sua reeleição ou ele foi estruturado para apenas quatro anos?
TG
– É cedo para pensar em reeleição. Mas nossa visão de governo pensa o estado daqui a 30 anos. Mas, isso não quer dizer que se mantenha dentro desta visão estratégica o mesmo governador durante todo este período.

Sul – Para quais áreas do seu governo – com exceção dos já anunciados – o senhor tem nomes definidos?
TG
– Não. Por enquanto ainda não.

Sul21 – O PT de Porto Alegre já iniciou as conversas sobre os próximos anos e a eleição de 2012 e, segundo o presidente do partido na Capital, Adeli Sell, o PT pode vir a apoiar a candidatura à reeleição do prefeito José Fortunati (PDT). O senhor partilha desta visão, ou, Manuela D´Ávila (PCdoB) seria a candidata mais indicada?
TG
– Possibilidades sempre existem porque tem todo um processo de discussão e negociação entre os partidos daqui em diante. A nossa linha é que o candidato a prefeito não precisa ser necessariamente do PT. Agora, da forma como está construída a Unidade Popular até agora, e mesmo dentro do PT, a possibilidade maior até agora é que a cabeça de chapa seja do PCdoB ou ainda o PSB.

Sul21 – Como estão avançando as conversas com as siglas para a conquista da maioria da Assembleia Legislativa?
TG
– As conversas estão indo bem. Hoje (terça, 9) tivemos a adesão do PRB, na figura do deputado Carlos Gomes. Já tivemos a sinalização de apoio de um deputado do PP (Mano Changes) e vamos continuar ainda nossas conversas com o PP. O PTB já está no governo, falta ainda fazer alguns ajustes. E o PDT ainda está em vias de decidir, mas eu acredito que eles irão compor o governo. Então estamos contando com a maioria política na Assembleia, pois, isso nos dará tranqüilidade para governar durante os quatro anos.


Sul21 – Um dos cargos importantes que os governadores tinham para oferecer a sua base aliada era o comando do Irga. Agora, esta possibilidade não existe. A perda política da presidência do Irga pesa muito nas negociações com os partidos?
TG
– Tenho que essa norma que foi votada na Assembleia é inconstitucional. É a mesma coisa que aprovar no Congresso Nacional uma densa lista tríplice para o presidente nomear um secretário de ministério ou o presidente de uma fundação. O presidente é o chefe do governo e nomeia os seus ministros e seus secretários de estado e eu não creio que isso tenha sustentabilidade. Nós vamos alegar inconstitucionalidade desta norma. Esta é a visão que vamos adotar. Se o poder judiciário declarar que ela não é inconstitucional cumpriremos. Achamos errado que tenha sido votado isso no fim de um governo e sem uma forte reação da AL.

Sul21 –Em momento de composição de governo, o PT, por ser um partido, originalmente, de diversas correntes acaba sofrendo desgastes com algumas tendências. Não seria melhor recriar o partido e organizá-lo de uma outra forma?
TG
– Acho que a tipologia de correntes que o PT criou, hoje, está superada. Hoje o PT funciona muito mais em cima de movimentos organizados em torno de ideias e que operam de maneira transversal entre as correntes, do que propriamente as correntes tradicionais. Na verdade, eu identifico mais nas correntes uma força de conjunto de mandatos, inclusive induzindo os militantes mais com mandatos do que com as correntes. Na minha avaliação, isto não é uma degradação das correntes. São formas de organização, que não são boas ou más, de modo que os partidos obedecem ditames de uma determinada época. E estes mandatos são mais fortes ainda se são ligados aos movimentos sociais. Então, é natural que estes mandatos tenham certa autonomia dentro das correntes. A tarefa agora do partido é combinar de maneira rica a força das antigas tendências e correntes e a força dos movimentos de opinião como é o caso da Mensagem, que é o grande grupo nacional de que eu participo. E já tem outro grupo nacional que é o Construindo um Novo Brasil.


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