Igor Natusch
Boa parte das discussões futebolísticas durante a semana que passou girou em torno da renovação de contrato do atual treinador do Grêmio, Renato Portaluppi. A atuação ostensiva de Paulo Odone e seus amigos (que, embora eleitos, ainda não foram empossados) irritou o misto de treinador e lenda gremista, e a troca de farpas colocou em dúvida até a permanência de Renato, mesmo com o Grêmio ostentando a melhor campanha do segundo turno do Brasileirão. Mas Renato administrou a crise à sua maneira: venceu a touca Goiás no meio de semana, e neste sábado (6) aplicou impiedosos 5 a 1 no pobre Ceará – que, antes de ser carneado no Olímpico, ostentava o mérito de ser a defesa menos vazada da competição.
Nos primeiros minutos, a coisa não deu sinais de que seria tão simples. Nervoso, errando muito na saída de jogo, o Grêmio chegou a ser encaixotado pelo Ceará. Victor, por duas vezes, evitou maiores dificuldades. Poucos minutos depois, porém, as coisas já tinham mudado de figura. Com Fábio Rochemback e Douglas jogando muito bem, articulando jogadas e fazendo a bola correr, logo o dono da casa se impôs. André Lima abriu o placar aos 24mins, concluindo após excelente cobrança de falta de Douglas. Minutos depois, Jonas – que já vinha preocupando torcedores mais ansiosos pela ausência de gols nos últimos jogos – guardou o seu, alcançando 21 gols na artilharia do campeonato.
Enquanto o trio de arbitragem ia empilhando erros (que impediram pelo menos três chances claras de gol), os gremistas iam acumulando oportunidades. Aos 34mins, Heleno foi expulso após uma sequência de faltas. Na cobrança, Fábio Rochemback acertou um chute de rara felicidade, confirmando o 3 a 0 no placar. A essa altura, o Vovô balançava inutilmente sua bengala, tentando se defender, enquanto o Grêmio desrespeitava o Estatuto do Idoso sem dó nem piedade. Douglas, em especial, estava em partida de rara insolência – e, para azar do time visitante, seu percentual de acerto estava próximo dos 100%. Até passes de trivela o homem acertou, deixando o pobre Ceará sem saber o que fazer.
Renato Gaúcho, ciente de que ainda não tinha argumento suficiente, queria mais. Michel Alves engoliu um peru daqueles no começo da segunda etapa, aceitando docilmente uma cobrança de falta de Douglas. Aos 16mins da etapa final, André Lima enfiou a quinta bucha – em uma demonstração louvável de eficiência ofensiva, coisa que muito faltou ao Grêmio em jogos anteriores. Magno Alves ainda faria o gol de honra cearense, mas depois de tantos gols sofridos não havia margem para qualquer tipo de reação mais contundente.
Agora, o Grêmio ostenta o melhor ataque do campeonato (59 gols contra 58 do Corinthians), além de manter a melhor campanha do returno e ter, com Renato na casamata, campanha superior à do líder. Apenas um mísero ponto separa, nesse momento, o Grêmio da sempre almejada vaga na Libertadores – verdade que o Botafogo ainda joga na rodada, contra o semimorto Avaí, mas sempre dá para sonhar com um empate acidental ou algo do tipo. Com uma conjuntura dessas, é de se pensar de onde Paulo Odone tiraria coragem para não renovar o contrato de Renato, recebendo em troca o repúdio impiedoso de virtualmente toda a torcida gremista…
GRÊMIO (5) – Victor; Gabriel (Júnior Viçosa), Paulão, Rafael Marques e Fábio Santos; Fábio Rochemback, Adilson (Souza), Lúcio (Gilson) e Douglas; Jonas e André Lima. Técnico: Renato Portaluppi
CEARÁ (1) – Michel Alves; Boiadeiro, Fabrício, Diego Sacoman e Eusébio; Heleno, Michel, João Marcos e Geraldo (Reina); Magno Alves e Washington (Anderson). Técnico: Dimas Filgueiras.
Gols: André Lima, aos 23mins, Jonas, aos 28mins, e Fábio Rochemback (GRE), aos 34mins, no primeiro tempo. Douglas, aos 11mins, André Lima (GRE), aos 16mins, e Magno Alves (CEA), aos 31m, no segundo tempo.
Cartões amarelos: Adilson e Lúcio (GRE); Washington, Geraldo, Heleno e João Marcos (CEA). Cartão vermelho: Heleno (CEA).
Árbitro: Celio Amorim, auxiliado por Luis Alberto Kallenberger e Fernando Lopes (trio catarinense).
Público: 20.789 torcedores. Renda: R$ 356.349,00.
