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10 de novembro de 2010
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15:17

Entrevista com Nelson Moraes, autor de “Os Macacos do Museu Britânico”

Por
Sul 21
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Milton Ribeiro

Nelson Moraes, juntamente com Idelber Avelar e Rafael Galvão, detém a fama não oficial de melhor texto ou blogueiro da Internet brasileira. Se Idelber já publicou vários livros, a forma impressa era desconhecida para Nelson (e ainda o é para Galvão) até o lançamento do excelente e engraçadíssimo Os Macacos do Museu Britânico, que pode ser comprado no site da editora Os Viralata. Desde 2004 — o link acima é de seu mais recente blog — , Nelson faz exclusivamente o humor da melhor qualidade que fez tão popular o blog Ao Mirante, Nelson!

Porém, equivoca-se quem pensa que o humor do livro e de seu blog é simples. Não se enganem, apesar da entrevista abaixo: Nelson Moraes é altamente sofisticado, assim como seu humor, mistura de anarquia e erudição. A entrevista foi concedida através do MSN.

Sul21: Como Harold Bloom, recém chegado ao país, classificaria Os Macacos do Museu Britânico?

NM: Olha, acho que ele se tornaria rapidamente um recém saído do país, balbuciando “é esse tipo de livro que se lê aqui, céus?”

Sul21: Mas o ensaísta não apenas é bastante citado como está inserido em Os Macacos, um livro de humor bastante peculiar. Aliás, é um livro de humor?

NM: Pra você ver. Ele poderia me processar. Escapei de uma boa. Quanto ao gênero do livro, acho que ele é de humor na medida em que eu o publiquei pensando que ele fosse vender muito. Isso é ter ou não ter senso de humor?

Sul21: Considerando-se que você é um autor estreante… Sim, é puro humor. Mas fale mais sobre como a obra poderia ser classificada.

NM: Eu a classificaria como obra de autoajuda, mas o problema é que não tem foto de mulher pelada nele — já que a atividade masturbatória é a melhor forma de autoajuda que conheço.

Sul21: Ah, excelente. Vamos então tratar dos textos. Eles vieram do blog Ao Mirante, Nelson! ou não? Foram revisados, ampliados ou são inéditos?

NM: Vieram todos do blog Ao Mirante, Nelson!, desde 2004. Alguns poucos foram ajustados para não parecerem tão anacrônicos. De qualquer modo, registre-se o talento e a paciência do Marconi Leal, que compilou e revisou. Depois dessa provação ele já pode ser promovido a Dalai Lama.

Sul21: No livro há stand-ups, sambas-enredo, ficções com personagens históricos e humor puro. O que dá mais trabalho?

NM: Bom, o que deu mais trabalho foi me convencer que isso tudo junto daria um livro. Mas ainda bem que contei com o espírito quixotesco do Branco Leone, meu publisher, que, pelo visto, não liga muito pra dinheiro. Ele podia estar publicando Paulo Coelho. Ele podia estar publicando “O Segredo”. Mas não — resolveu apostar em “Os Macacos do Museu Britânico”. É muita abnegação.

Sul21: Mas quem disse que deu um livro?

NM: Boa colocação. Mas ainda assim eu o chamaria de O Livro Vermelho de Pensamentos do Camarada Almirante. Vermelho, no caso, se formos pensar na conta bancária de meu editor depois do lançamento.

Sul21: Os Macacos, se podemos falar sério a respeito, é um livro muito peculiar, pois em certos trechos é muito erudito e noutros, é escrachado.

NM: Se fôssemos falar da erudição dele, eu diria que ele é um almanaque — já que todas as citações eruditas ali são mesmo de almanaque. Se fôssemos falar de humor, eu diria que ele é um livrinho de piadas, desses que se compram em banca. Talvez ele seja uma mescla disso. Só que com acabamento (e capa) de primeira.

Sul21: Você é excessivamente humilde e está me causando problemas. Vou ter de me esmerar na introdução à entrevista…

NM: “Se esmerar na introdução” é alguma gíria gaúcha para desvirginar alguém? Ah, sim. Porque eu sou autor estreante. Virgem, portanto. Entendi.

Sul21: Hum… Deixa assim. Não vi nenhum almanaque tornar Ulisses, de Joyce, um samba-enredo. Nem citar gregos. Ou ficar fazendo ficções a respeito da honra dos editores.

NM: Se pensarmos bem, Ulisses, gregos e ficção já estavam na obra do Homero. Eu só plagiei, milênios depois. E ainda cobrei 27 reais o exemplar.

Sul21: OK, mas há stand-ups de Machado, a criação do mundo vista pelos olhos do Manhattan Connection…

NM: Machado já morreu há mais de cem anos, mas o Lucas Mendes sempre pode pensar numa ação judicial contra mim. Só de pensar nisso eu já torço pra que o livro nunca entre numa lista de best sellers. Melhor não dar a idéia, né?

Sul21: Aliás, Lucas e seus comparsas foram captados em detalhe. Será que a abertura do programa diz mesmo I´m demented?

NM: Sim, eu não sei se é aquilo mesmo que o cara sussurra na musiquinha do programa, mas se a versão é mais interessante que o fato — publique-se a versão. Aprendi isso em “O Homem que Matou o Facínora”.

Sul21: Interessante… O que J. Cesário, revisor particular, alteraria em seu livro?

NM: Ele é pouco exigente, acho que alteraria só umas duas coisinhas. O título e o conteúdo, por exemplo.

Sul21: Você poderia descrever rapidamente seu livro na linguagem de David Lynch?

NM: A tratada se obra de uma compilação de humor de textos, muitos infames deles, e nesta ordem não necessariamente.

Sul21: Hum, interpretei. E seria mais simples descrevê-lo imitando von Trier, Woody Allen ou Polanski?

NM: Acho que o Ronald Golias. Ou Renato Aragão.

Sul21: Parece-me inútil tentar extrair alguma informação de meu entrevistado.

NM: Você está entrevistando alguém? Espero que eu não esteja atrapalhando!

Sul21: hahahaha

NM: Se quiser eu refaço a penúltima resposta, pra não parecer que estou boicotando…

Sul21: Não, a resposta foi ótima. Apenas fico pensando na ideia que nossos leitores ficarão de sua obra. É um bom livro!

NM: Fico pensando qual a idéia que seus leitores terão de seu jornal, após esta entrevista…

Sul21: E eu fico pensando em meus chefes.

NM: Sim, e na carta de demissão.

Sul21: Grave. Como é que você conseguiu escrever mais de 200 páginas?

NM: Rapaz, nada que uma boa diagramação e uma paginação esperta não consigam.

Sul21: A propósito, você viu o último filme de Arnaldo Jabor?

NM: Não, o máximo de sadomasoquismo que eu pratico é chicote com prego na ponta. Não chego a esses requintes.

Sul21: E como você vê minha decisão de entrevistá-lo para o Sul21?

NM: Com esta entrevista, você me lembra um camicase atirando seu avião a toda velocidade rumo à morte certa. Com a diferença que os camicases acreditavam em paraíso xintoísta, e você é ateu, não é?

Sul21: Sim, sou. E acho melhor acabar aqui mesmo, certo?

NM: Caramba, agora que eu estava esquentando.

Sul21: Acho que e entrevista ficou (bem) diferente e inútil.

NM: Então. inauguramos a antientrevista! Isso é histórico! E se seu jornal só tem leitor comunista, eles vão ficar meio putos, esses caras não gostam de perda de tempo!


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