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2 de novembro de 2010
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11:38

Eleição de jovens não muda política dos Parlamentos

Por
Sul 21
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Igor Natusch

A análise das bancadas eleitas para os legislativos gaúcho e nacional mostra que as urnas elegeram muitos políticos jovens, com menos de 36 anos. Porém, o que pode parecer renovação acaba sendo, em muitos casos, a continuidade de velhas políticas – afinal, boa parte dos eleitos carrega sobrenomes bastante conhecidos no cenário político nacional. Levantamento feito pelo Sul21, com base nos dados disponibilizados pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), mostra que, tanto no Congresso quanto na Assembleia Legislativa, os rostos mudam um pouco, mas as políticas devem seguir basicamente as mesmas.

De acordo com os dados coletados, a política brasileira será um pouco mais jovem, mais comprometida com os trabalhadores e terá um toque feminino mais acentuado. Porém, as características gerais do Congresso e das Assembleias estaduais não sofreram grandes alterações. O quadro mostra que a composição dos novos legislativos privilegia o empresariado e o agronegócio. Além disso, percebe-se um reforço na bancada evangélica em Brasília, com mais de 20 novos representantes.

Na hora de dividir os deputados estaduais e federais, dois tipos de variável foram levados em conta. A primeira se refere a aspectos pessoais, como gênero, idade e parentesco político. A outra tem foco no posicionamento político dos parlamentares – ou seja, nas principais bandeiras que cada um defenderá durante seu mandato no Congresso ou na Assembleia Legislativa.

PT cresce em Brasília, enquanto PMDB, PSDB e DEM perdem influência

O PT e o PMDB são os partidos com maior representação na Câmara federal. Têm, respectivamente, 88 e 79 cadeiras. No entanto, se a bancada petista ampliou-se (tinha 83 cadeiras em 2006), a peemedebista diminuiu em dez lugares, já que o partido tinha 89 deputados na eleição anterior. O PSDB também caiu – terá a terceira maior bancada, com 53 parlamentares contra os 66 que tem na atual legislatura.

Embora ainda tenha o quarto maior número de cadeiras, o DEM foi o partido que sofreu a queda mais acentuada – dos 65 lugares conquistados em 2006, apenas 46 se mantiveram nesta eleição. O PR, que iniciou a última legislatura com 25 cadeiras, depois de quatro anos somava 41, o mesmo número de deputados eleitos nas eleições de 2010. Partidos como PSB (de 27 para 34) e PDT (de 24 para 28) cresceram em número de cadeiras e de importância na definição dos rumos do Congresso.

A renovação no Congresso, embora em índice elevado (44,25%), ficou abaixo do percentual registrado nas cinco eleições anteriores. A partir dos dados coletados pelo DIAP, é possível ver que as bancadas de sustentação ao atual governo (PT, PSB, PDT e PCdoB) cresceram. Já as bancadas de oposição (PSDB, DEM e PPS) e a do centro (PMDB e PTB) perderam vagas, em maior ou menor grau. Bancadas interpretadas pelo DIAP como à direita dentro da base aliada (PR, PP e PSC) quase não sofreram modificações.

Desenho da Assembleia muda pouco em relação a 2006

Já na Assembleia Legislativa do RS, não houve grandes mudanças no desenho das bancadas. O PT terá a maior representatividade, com 14 deputados estaduais, quatro a mais que em 2006. Somando essas cadeiras aos quatro eleitos pelo PCdoB e PSB, mais as possíveis adesões de PDT (7 deputados) e PTB (8), a tendência é de que o governo de Tarso Genro tenha trânsito relativamente tranquilo na Assembleia. Enquanto isso, PMDB, PPS e DEM diminuíram sua participação no Legislativo estadual – no caso dos Democratas, a queda foi acentuada, indo de três deputados para apenas um.

Dos 55 deputados estaduais, 33 foram reeleitos, e outros 22 retornam à Casa ou conquistam seu primeiro mandato. Esse percentual de renovação é exatamente o mesmo observado nas eleições de 2006. Apenas sete dos 40 deputados atuais que concorriam à reeleição não foram aprovados pelas urnas – Francisco Appio e Leila Fetter (ambos do PP), Francisco Pinho (DEM), Paulo Azeredo (PDT), Paulo Brum (PSDB), e os peemedebistas Nedy Marques e Nelson Härter. Levando em conta a leitura dos perfis dos candidatos eleitos, o RS terá uma Assembleia mais jovem, com maior presença feminina e uma predominância de interesses voltados para o agronegócio e o empresariado. Os representantes do sindicalismo e da agricultura familiar também terão influência, embora estejam em menor número do que seus opositores políticos.

Presença feminina dá um salto na Assembleia gaúcha

A bancada feminina teve ligeiro aumento no Congresso Nacional. Manteve-se o número de deputadas federais (45), enquanto o de senadoras passou de 10 para 12. Os dados ainda são parciais, dependendo de confirmações do TSE. Entre as reeleitas, destaca-se Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que vai para o quarto mandato federal consecutivo. Luci Choinaki (PT-SC) vai para a terceira legislatura, enquanto Benedita da Silva (PT-RJ) estará na Câmara depois de ter atuado como senadora e governadora do Rio de Janeiro.

Na Assembleia Legislativa do RS, a participação de mulheres, praticamente, dobrou. Eram cinco representantes, e serão oito a partir de 2011. Metade delas foi reeleita – as petistas Stela Farias e Marisa Formolo, além de Silvana Covatti (PP) e Zilá Breitenbach (PSDB). Das outras quatro, duas retornam à Casa depois de um mandato de ausência – Miriam Marroni (PT) e Maria Helena Sartori (PMDB) – enquanto Ana Affonso (PT) e Juliana Brizola (PDT) são recém-chegadas na Assembleia.

O equilíbrio entre reeleitas e mulheres em primeiro mandato se mantém quando é feita uma análise da Câmara Federal. Dos 45 nomes, 23 são reeleitas e 22 fazem parte da renovação da Casa, a maioria delas em seu primeiro mandato federal. A maior bancada feminina é a de SP, com seis representantes, três delas novas no Congresso. Rio de Janeiro e Espírito Santo contam com quatro mulheres em cada bancada, enquanto o Amapá surpreende, trazendo três mulheres para o Parlamento. No Rio Grande do Sul, são duas, ambas mais à esquerda do espectro político: a deputada mais votada do estado, Manuela D’Ávila (PCdoB) e a petista Maria do Rosário.

Parentes famosos alavancam políticos no RS e em Brasília

Para 81 candidatos eleitos para o Congresso Nacional, a vida política não é exatamente uma novidade. E não apenas por já terem exercido cargo público: todos eles são parentes de outros políticos, transformando a vida pública em um negócio de família. Boa parte deles são filhos de antigos caciques políticos, como Renan Filho (PMDB-AL), filho do senador Renan Calheiros, e Irajá Abreu (DEM-TO), filho da senadora tocantinense Kátia Abreu. Alguns não pertencem aos mesmos partidos de seus familiares, caso de Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha do ex-senador e ex-candidato ao governo do DF, Joaquim Roriz (PSC).

O percentual de eleitos com parentesco político chama a atenção em algumas bancadas, como a feminina. Nilda Gondim (PMDB-PA), por exemplo, é ao mesmo tempo filha do ex-governador Pedro Gondim e mãe de outros dois políticos – entre eles, o senador eleito Vital do Rego Filho (PMDB-PA). Outro exemplo é Ana Arraes (PSB), filha de Miguel Arraes e mãe do governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos. Pelo menos outras seis deputadas federais possuem algum grau de parentesco com políticos – a maioria estando ou tendo sido casada com nomes proeminentes na esfera pública. Dos 81 congressistas com parentesco político, 32 foram eleitos pela primeira vez.

A deputada mais votada para a Assembleia gaúcha, Silvana Covatti (PP), é um exemplo visível dessas relações de parentesco, tendo se engajado na política pela influência do marido, o deputado federal Vilson Covatti (PP-RS). Outros dois nomes entre os cinco deputados estaduais mais votados também possuem raízes familiares na política: Edegar Pretto (PT, filho do deputado constituinte Adão Pretto) e Lucas Redecker, candidato mais votado do PSDB, filho do ex-deputado federal Júlio Redecker.

Juliana Brizola (PDT), neta do trabalhista Leonel Brizola, passou da Câmara de Vereadores de Porto Alegre à Assembleia, como a candidata mais votada do PDT na eleição proporcional. Já Marcelo Moraes (PTB-RS), filho do deputado federal Sérgio Moraes e da prefeita de Santa Cruz do Sul (RS), Kelly Moraes, será um dos seis petebistas na Assembleia. Miriam Marroni (PT), por sua vez, é esposa do ex-deputado Fernando Marroni, que ficou como primeiro suplente do PT gaúcho para a Câmara Federal.

Juventude aparece com destaque na Assembleia e Câmara federal

Alguns desses eleitos integram também a bancada jovem na Assembleia do RS. A média de idade entre os deputados estaduais gaúchos será de 49,19 anos. Seis dos candidatos eleitos, no entanto, estão abaixo dos 36 anos. O mais jovem é José Antônio Júnior Frozza Paladini, ou Catarina (PSB), com 27 anos. Entre os eleitos com parentesco dentro da política, Lucas Redecker (29), Marcelo Moraes (31) e Juliana Brizola (35) estão integrados à bancada jovem na Assembleia gaúcha. Além deles, Márcio Biolchi (PMDB, 31 anos) e Mano Changes (PP, 35) representarão a juventude na bancada estadual.

Na esfera federal, a candidata gaúcha mais votada, além de mulher, pertence à bancada jovem: Manuela D’Ávila (PCdoB), que já tinha sido eleita aos 25 anos (em 2006), repete a dose aos 29 e segue sendo a mais jovem representante gaúcha no Parlamento. Mas não a mais jovem do país – já que Hugo Mota (PMDB-PB) tem apenas 21 anos de idade. O novo deputado federal é filho do prefeito de Patos, na Paraíba, Nabor Wanderley (PMDB-PB), e neto da deputada estadual reeleita Francisca Motta. Hugo conquistou nessa eleição o seu primeiro cargo eletivo.

Evangélicos aumentam participação em comparação a 2006

A bancada evangélica continua com peso considerável nas decisões do Congresso Nacional. Segundo cálculos preliminares do DIAP, são 63 deputados federais e 3 senadores; outras contas falam até de 71 representantes de igrejas evangélicas, entre Câmara e Senado. Não é muito maior do que a bancada de 2002-2006, que teve 68 representantes, mas é superior ao número atual, de 43 deputados ou senadores. Desses, cerca da metade (34) são políticos em primeiro mandato federal.

A igreja evangélica mais representada é a Assembleia de Deus, com 18 deputados federais. A Igreja Batista, com 11 representantes, também conta com presença marcante no Congresso. Os batistas contam ainda com dois senadores, Walter Pinheiro (PT-BA) e Magno Malta (PR-ES), enquanto a Igreja Universal do Reino de Deus mantém Marcelo Crivella (PRB-RJ) no Senado.

O maior número de deputados evangélicos pertence ao PSC. São 11 nomes. PR e PRB têm nove cada um, enquanto o PT soma ao senador Walter Pinheiro as presenças dos deputados Benedita da Silva (RJ) e Gilmar Machado (MG). O único gaúcho mais ligado à bancada evangélica nacional, segundo o DIAP, é Onyx Lorenzoni (DEM), membro da Igreja Luterana.

“Essa bancada ganha importância em assuntos que envolvem dilemas morais e religiosos, como a regulamentação do aborto e a união civil de homossexuais”, explica Marcos Verlaine, analista político do DIAP. Segundo ele, o aumento numérico da bancada pode representar uma dificuldade no sentido de implantar algumas ações previstas no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3).

Entre os deputados estaduais gaúchos, a presença evangélica mais forte é de Carlos Gomes, reeleito pelo PRB. Trata-se do único representante do partido na Assembleia – mas não é o primeiro mandato de Carlos Gomes, que saiu do PPS, na atual legislatura, e juntou-se ao PRB. Embora não se destaquem pela atuação religiosa, deputados eleitos como Silvana Covatti (PP) e o seminarista Miki Breier (PSB) também representam a fé nos corredores da Assembleia Legislativa.

Futebol perde representatividade política às vésperas da Copa no Brasil

Romário (PSB-RJ) e Danrlei (PTB-RS) serão os principais representantes do esporte na Câmara Federal. Mesmo não tendo no esporte seu foco principal, o dirigente gremista José Otávio Germano (PMDB-RS) acaba reforçando as fileiras do esporte gaúcho no Congresso, em um período de grande agitação pelos preparativos para a Copa do Mundo. O mesmo se repete na Assembleia gaúcha com Paulo Odone (PPS) e Cassiá (PTB). De modo geral, porém, o esporte perdeu peso na política nacional. Nomes como Eurico Miranda (PGN-RJ) e Sílvio Torres (PSDB-SP), opositor político do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, são alguns dos nomes que não conseguiram vaga em Brasília.

Um número considerável de candidatos ligados ao futebol gaúcho acabou não tendo sucesso nessas eleições. Entre eles, podemos citar o vereador Tarciso Flecha Negra (PDT) e Mazaropi (PMDB), dois ex-jogadores que foram campeões mundiais com o Grêmio, em 1983. A carreira futebolística não alavancou os votos dos dois: Tarciso fez pouco mais de 10 mil votos, enquanto o ex-goleiro gremista não chegou a 6 mil.

Empresários devem ir contra 40 horas semanais

Um dos projetos que devem enfrentar dificuldades de aprovação é a PEC 231/95, que propõe a jornada de trabalho de 40 horas semanais. A bancada de empresários é a mais ampla na Câmara Federal, desde a redemocratização, e terá poder suficiente para inviabilizar a medida, caso se posicione contra. Dos 148 parlamentares na atual legislatura, a bancada empresarial salta para 169 congressistas. PMDB, com 32 integrantes, e DEM, com 28, são os partidos que mais contribuem para a bancada empresarial em Brasília.

O número de empresários é mais que o dobro dos representantes do movimento sindical, que garantiram 68 assentos no Congresso Nacional. O PT, maior bancada sindical com 53 deputados e senadores, contribuiu também com 7 nomes para a representação empresarial junto ao governo federal. Entre os comprometidos com a causa sindical na Câmara, 39 foram reeleitos e 23 são novos. O DIAP explica que o número de parlamentares sindicalistas pode aumentar, já que ainda não foram somados eventuais políticos sindicalistas ou agricultores, oriundos de estados como Amapá, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Sergipe.

Em Brasília, a bancada gaúcha contribui com cinco deputados federais, além do senador Paulo Paim (PT). Apenas os petistas Marco Maia e Pepe Vargas foram reeleitos; os demais – Elvino Bohn Gass, Dionilso Marcon (ambos PT) e Assis Melo (PCdoB) farão seu primeiro mandato na Câmara federal. Na Assembleia, alguns nomes destacados do movimento sindical são os petistas Daniel Bordignon e Valdeci Oliveira, além de Álvaro Boéssio (PMDB) e Heitor Schuch (PSB).

Ruralistas e agricultores terão briga acirrada na política gaúcha

Muitos dos candidatos listados junto à bancada empresarial também integram as fileiras ruralistas. O DIAP ainda não concluiu o levantamento sobre a presença de ruralistas no Congresso, mas estimativas publicadas em veículos de comunicação apontam uma queda da bancada, com os 235 congressistas do grupo reduzidos a menos de 190. Deles, cerca de 40 atuam diretamente no agronegócio. Entre os parlamentares gaúchos, a Câmara federal vai contar com nomes como Jerônimo Goergen, que coordenava a frente para o agronegócio na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e Luiz Carlos Heinze, ambos do PP. Outros nomes ligados ao agronegócio são Darcísio Perondi e Alceu Moreira, do PMDB, além do tucano Nelson Marchezan Jr. A eleição de Ana Amélia Lemos (PP) para o Senado também influi nessa equação, na medida em que ela simpatiza com muitas bandeiras do agronegócio.

Como contraponto, a bancada gaúcha em Brasília traz Giovani Cherini (PDT), representante das cooperativas rurais, além dos petistas Elvino Bohn Gass e Dionilso Marcon, ligados às questões sindicais. Na Assembleia gaúcha, a agricultura familiar será defendida por Edegar Pretto e Ademir Tortelli, dois petistas fortemente ligados ao setor. Heitor Schuch (PSB) também se alinhará com os interesses do pequeno agricultor. Seus opositores, porém, estão em maior número: Edson Brum (PMDB), Frederico Antunes, Pedro Wespthalen (ambos do PP), Gerson Burmann (PDT) e Zilá Breintenbach (PSDB) são reconhecidos como defensores dos grandes produtores rurais. Todos foram reeleitos em 3 de outubro.


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