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29 de outubro de 2010
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23:26

Possíveis aliados querem fatias generosas do secretariado de Tarso

Por
Sul 21
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Igor Natusch

O futuro governador gaúcho, Tarso Genro (PT), não quis esperar a eleição presidencial, ou mesmo a definição da base de governo, para revelar os primeiros nomes de seu secretariado. Antes mesmo de confirmar as presenças de partidos como PDT, PP e PTB, o novo governo começou a apresentar seus primeiros rostos. Ao mesmo tempo em que contempla os interesses de vários aliados de primeira hora, a intensidade dos movimentos de Tarso provoca desconforto em partidos que poderão integrar o governo. Alguns já procuram deixar claro: querem estar no governo, mas não se contentarão com pouco. Querem cargos de relevância, ou optarão por ficar de fora.

Segundo o presidente do PCdoB gaúcho, Adalberto Frasson, a montagem do governo está em uma fase inicial. “Ainda tem muito cargo esperando para ser definido. O grosso do governo só vai tomar forma a partir de domingo”, explica. Além da participação de Abgail Pereira (PCdoB) na secretaria de Turismo, o partido pleiteia alguns outros cargos. Um dos nomes mais fortes é o de Jussara Cony, que é cotada pelo partido comunista para assumir a Saúde. A presença de Edson Silva, como secretário de Minas e Energia, também é vista com uma possibilidade real pela direção estadual do PCdoB.

O PCdoB também pretende a pasta de Esportes, ainda que o nome do árbitro Carlos Simon tenha surgido com força nos últimos dias. “Essa questão ainda precisa ser definida. O PCdoB sempre abraçou a política de esporte, e é possível que haja a opção por uma figura mais acadêmica, alguém com uma presença política mais estabelecida. Tudo isso ainda está em aberto, o núcleo da aliança está discutindo isso”.

Trabalho delicado

O PSB, que contará com Beto Albuquerque na secretaria de Infraestrutura e Logística, também pleiteia mais alguns cargos no governo de Tarso. “Existem algumas áreas nas quais temos evidente expertise”, diz Caleb de Oliveira, presidente estadual do PSB. O partido tem especial interesse na secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio – e acredita que Heitor Schuch, reeleito deputado estadual, é o nome perfeito para ocupar a pasta. Além de citar a “inquestionável vivência” de Schuch junto à agricultura familiar, Caleb lembra da ligação muito próxima do partido com a Federaçao dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS).

Para a secretaria de Justiça e Desenvolvimento dos Direitos Humanos, o PSB pretende indicar o deputado estadual Miki Breier. Há interesse do partido também na pasta de Ciência e Tecnologia, além da disposição em ocupar algumas secretarias “mais esparsas”, nas palavras de Caleb de Oliveira. Mas admite que a discussão ainda está “muito no início”. “O que foi divulgado para a imprensa são conversas que já estavam acontecendo há muito tempo. O caso do Beto (Albuquerque), por exemplo, já era discutido desde 2009, muito antes da eleição. O Assis Brasil (na secretaria de Cultura) também é uma construção que vinha sendo discutida há bastante tempo. A partir de agora, sim, esse trabalho se torna mais delicado”.

Caleb de Oliveira lembra que o vice-governador Beto Grill (PSB) terá um papel diferenciado no governo de Tarso, voltando seu olhar para o desenvolvimento da Metade Sul do estado. Por isso, a participação do partido no comitê de transição acaba ganhando ainda mais importância. “Precisamos organizar uma estrutura técnica que viabilize essa atuação”, diz Caleb.

Esquecidos

Enquanto alguns aliados participam da partilha de secretarias, outros reclamam de não estarem envolvidos nas articulações do novo governo. É o caso de João de Deus Antunes, presidente estadual do PR, integrande da coligação Unidade Popular pelo Rio Grande, que elegeu Tarso. “Até agora, não fomos convidados para nada; nenhuma reunião”, reclama. Insatisfeito com a falta de contatos, o representante do partido disse que só resta “sentar e esperar” por um convite oficial. “É claro que queremos participar (da partilha de secretarias). Quando formos chamados, teremos que ver quais secretarias vão sobrar”, lamenta.

Frisando sempre que o PR não foi chamado em momento algum para participar da transição, João de Deus garante que, “se as coisas continuarem assim”, não restará escolha senão retirar-se do governo. “Se ficar decidido assim, vamos elaborar um documento, agradecendo pela participação na campanha e deixando registrada nossa certeza de termos cumprindo bem nossa obrigação”. Mas o presidente do PR gaúcho ainda acredita em uma reversão de expectativas. “Ainda achamos que vai acontecer um contato. Tarso Genro é uma pessoa muito equilibrada, confiamos no caráter dele”.

PDT e PTB querem participação

Além da base aliada, outros partidos também nutrem especial interesse nas decisões de Tarso Genro. O PDT é um dos que aguardam com expectativa pela oportunidade de conversar com o governador eleito. Romildo Bolzan Jr, presidente estadual do PDT, garante que o partido se posicionará de forma definitiva a partir da semana que vem. Discussões internas tentarão determinar qual o papel dos trabalhistas na atual conjuntura estadual – e, a partir daí, definir qual será o posicionamento do PDT nos próximos quatro anos. É uma decisão que não pode esperar muito, até mesmo para que o partido possa estar envolvido no comitê de transição.

Nos bastidores, o nome do trabalhista Ciro Simoni é cogitado para assumir a pasta da Saúde. “É um nome muitíssimo qualificado, sem dúvida, mas ainda não houve nenhuma conversa nesse sentido”, garante Bolzan. O presidente do PDT não se incomoda com a definição de nomes para o secretariado, antes mesmo de confirmar todos os partidos da base aliada. “É legítimo que Tarso vá montando seu governo. Afinal, ele foi eleito em primeiro turno. Não cabe a nós aprovar ou desaprovar essas decisões”. Mas acena com um acordo, desde que o PDT tenha presença em cargos de relevância dentro da costura política estadual. “Claro que, se os espaços oferecidos forem muito secundários, optaremos por não entrar no governo, mantendo uma postura de independência”, revela.

O PTB também deu sinais de querer um papel mais efetivo no secretariado gaúcho. Já surgiu até um número – não absoluto, mas percentual. O partido estaria disposto a participar do governo, desde que tivesse garantido 19,3% dos cargos no governo. O percentual é calculado a partir dos 31 deputados que a base aliada terá, caso PDT e PTB se aliem a Tarso. O PTB contribuiria com seis parlamentares – o que daria menos de 20% da bancada governista na Assembleia.

Já Pedro Bertolucci, presidente gaúcho do PP, garante não estar preocupado com a partilha de cargos no governo gaúcho. “Não é isso que nos interessa, e sim a construção de um grande projeto para o estado”, assegura. Bertolucci diz que o PP gaúcho deseja ter uma “conversa amistosa” com o governador eleito, e que o partido se mostra “solícito e parceiro” para a elaboração de uma agenda comum. “Não queremos secretarias”, insistiu Bertolucci. A conversa direta com Tarso Genro deve ocorrer na próxima semana, assim que baixar a poeira da eleição presidencial. “Estamos no aguardo de um contato do governador eleito. Temos certeza que essa reunião será marcada no momento oportuno”.

A estruturação técnica das secretarias deve ser apresentada até o final da tarde desta segunda-feira (1º). A partir daí, um conselho político formado pelos partidos da coligação que elegeu Tarso fará uma análise política dessa estrutura, determinando a conveniência de certas secretarias e sugerindo modificações. “Sem esse quadro definido, todo o resto acaba ficando na especulação”, diz Caleb de Oliveira, do PSB.

Confirmados

Os nomes confirmados por Tarso, até agora, são os Abgail Pereira (PCdoB), que ocupará a pasta de Turismo; Beto Albuquerque (PSB), futuro secretário de Infraestrutura e Logística; e os petistas Marcelo Danéris (Secretário Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e Estilac Xavier, que será Secretário-Geral de Governo. Além disso, Luiz Antonio de Assis Brasil está confirmado como secretário de Cultura, enquanto Mauro Knijnik comandará a Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI).


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